Estudantes de Psicologia inserem discussões acadêmicas no cotidiano do HGE
Profissionais do Hospital participam semanalmente de debates promovidos pelas discentes
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Jhonathan Pino – jornalista
Há dois meses, Ingridd Gomes e Pollyana de Albuquerque, estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), reúnem profissionais do Hospital Geral do Estado (HGE) para leituras e debates na área da Psicologia Hospitalar. Não somente os psicólogos, como também fisioterapeutas, enfermeiros e auxiliares estão tendo a oportunidade de rever conceitos e repensar suas atuações no relacionamento com pacientes e familiares.
A ideia surgiu entre as duas, depois de verificarem a importância de melhorar as avaliações psíquicas nos diversos setores do hospital. Como a cada dois meses as discentes têm que mudar de ambiente de trabalho, puderam conhecer o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), além das Unidades de Terapia Intensiva Geral e Pediátrica, e perceberam a necessidade da boa realização dos exames psíquicos para que a conduta do tratamento psicológico fosse adequada. Após uma conversa com a diretora do CTQ, Rejane Lima, e com a supervisora de campo, Paula Quitéria, elas propuseram momentos de estudos com grupos de profissionais.
As discussões passaram a ocorrer todas as quintas-feiras, de 10h ao 12h, no Centro de Estudos no HGE. “O estágio acabou ganhando uma intensidade muito grande e nos envolvendo nesse grupo e em outras coisas que surgem no Hospital, ficávamos nos perguntando como será no futuro. Daí, o HGE resolveu lançar um simpósio para o próximo semestre, que já conta com uma comissão. Por isso, a gente já se disponibilizou para fazer parte da organização desse evento para continuar contribuindo e aprender o que os profissionais têm a nos passar”, relata Ingridd.
Inicialmente eram apenas duas pessoas participando das atividades, no entanto, hoje, são cerca de 15 profissionais a cada debate. Eles se organizam para que um de cada setor possa participar da discussão, sem prejuízo dos serviços. No momento, eles estão se embasando numa obra de Paulo Dalgalarrondo, Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais, abordando diferentes temáticas, conforme o desenrolar dos capítulos.
“As cinco estagiárias, sendo nós duas da Ufal e outras três da Fits [Faculdade Integrada Tiradentes], estamos nos dividindo. A cada semana uma de nós apresenta um capítulo e abre para discussões e estudo de casos. Acaba sendo um debate muito rico entre os profissionais, porque alguém sempre acaba colocando alguma dúvida ou experiência na discussão”, diz Pollyana.
Atividades de estágio
O trabalho de estágio das estudantes é feito a partir da observação e do levantamento das necessidades das equipes do hospital, além do relacionamento destas com os pacientes e familiares. Elas relatam que a cada setor visitado, há necessidade de revisão de todo o processo. “No CTQ, a gente costuma ver com mais precisão o atendimento sistemático do paciente, porque eles ficam por um período mais longo que os outros setores da Emergência, enquanto na UTI geral a rotatividade é muito grande e a gente tem mais contato com a família, pois os pacientes estão entubados e sedados. Na pediatria, por exemplo, a conduta é mais ludoterápica, em cada setor há funções diferentes, pois as necessidades também são”, diz Ingridd.
Elas iniciaram esse trabalho de discussões, mesmo tendo que conciliar os seus escassos tempos com o andamento das disciplinas na Ufal e as 20h semanais de estágio. “Ficamos cansadas, nos alimentamos mal, sem dormir, tirando tempo donde não tínhamos, mas é uma coisa que acaba sendo tão gratificante, tão positiva em ver que a gente está contribuindo com o espaço, com a prática, com a reformulação e atualização de profissionais que estão lá há tanto tempo e também de aprender com eles”, acrescenta Ingridd.
As alunas disseram que essa prática de colaboração acadêmica é algo já disseminada entre os professores do curso. Por isso, desde o início do estágio elas pensaram em um modo de contribuição à instituição e puderam colocar em prática o que aprenderam na Universidade. “Muita coisa a gente teve que buscar em artigos, fizemos sínteses reflexivas e colocamos em prática projetos de intervenção que nos envolvem 100% do tempo que estamos ali”, ressalta Pollyana.
Ingridd ressaltou ainda que o que foi dado na Academia era condizente com a prática do estágio. “A graduação nunca vai abordar suficientemente, com profundidade, todos os assuntos que você precisa entender para ter uma prática realmente efetiva, mas a busca é o que caracteriza isso. Eu consigo dizer que saio da Ufal com uma carga metodológica teórica, enfim, muito bem fundamentada, que me ajuda e incentiva a buscar sempre mais”, enfatiza a aluna.