Alunos de Teatro e Dança caem na roda do jongo

Ritmo afro, difundido no Sudeste do País, tem traços em comum com o coco alagoano


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Além de dançar, Telma César, à direita, também tocou tambor | nothing
Além de dançar, Telma César, à direita, também tocou tambor

Simoneide Araújo - jornalista colaboradora

Saias rodadas e um passo firme com o pé direito acompanham a batida do tambor no ritmo do jongo, uma dança de roda típica do Sudeste brasileiro, que tem na umbigada a semelhança com o coco alagoano. Foi assim que a jongueira Claudia Góes conduziu a oficina com alunos e professores de Teatro e Dança da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), realizada na quinta-feira (25), no Espaço Cultural Professor Salomão de Barros Lima.

“Hoje eu realizei um sonho. Aprendi a dançar jongo”, declarou a professora do curso de licenciatura em Dança, Telma César, idealizadora da oficina. Ela aproveitou a vinda de Claudia Góes, que passa férias em Maceió, para promover esse momento de aprendizado para ela e os alunos.

Telma vem estudando o coco de roda, dança alagoana que faz parte do complexo do samba de umbigada. “Essa é uma terminologia que o autor Edison Carneiro usa para aglutinar várias danças da tradição popular do Brasil que têm a umbigada. O coco e o jongo são danças de umbigada e eu achei que seria interessante o alunos vivenciarem essa experiência”, destacou.

Para Claudia Góes, o jongo e o coco alagoano são duas expressões de dança de umbigada e esse encontro é muito positivo. "Há uma distância territorial entre as duas, uma é uma expressão tipicamente alagoana; a outra é do Rio de Janeiro, no caso do jongo. Fazer esse tramite nunca foi fácil.

Claudia é alagoana, mas mora no Rio há mais de cinco décadas. "Tive a oportunidade de, nos últimos anos, trabalhar com Mestre Darcy, do Jongo da Serrinha-RJ. Trazer o Jongo para Maceió foi muito uma questão afetiva e de unir o meu trabalho, como etnomusicóloga, com o de Telma [César], que trabalha com coco. Trabalhamos com expressões que têm em comum a umbigada, mas que são de regiões distintas e distantes", declarou.

Doutora em Etnomusicologia pelo Instituto de Etnomusicologia, do Centro de Estudos em Música e Dança, de Lisboa-Portugal, Claudia é percussionista, cantora e, desde de 1999, trabalha com o jongo mais especificamente. "Foi nesse período que conheci Mestre Darcy e, antes de ele falecer, em 2001, eu consegui aprovação de um projeto pelo Itaú Cultural, para gravar uma coletânea de 12 CDs, chamada Cartografia Musical Brasileira, respeitando a vontade do Mestre, com um jongo com atabaques e instrumentos eruditos.

Além de dançar, os alunos também tocaram tambor, aprenderam a batida base do jogo e conheceram um pouco da trajetória do Mestre Darcy, que pertencia a uma das mais tradicionais dinastias do jongo no Brasil. A empolgação da estudante Daniela Cattívaz, do curso técnico de Formação de Ator da Ufal, mostra como os participantes aproveitaram e aprovaram a oficina. "Eu adorei!!! Essa dança faz parte da nossa cultura e nós não conhecíamos. E o mais interessante é que são movimentos leves, bem sutis e que crescem a cada novo integrante na roda. Tudo se torna grande com todo mundo fazendo o mesmo passo. Foi maravilhoso!", confirmou Daniela.

Saiba mais

O jongo ou caxambu é uma manifestação africana, com origem em Angola, trazida por negros escravos e fixada nas fazendas de café do Sudeste do Brasil. Esse ritmo foi usado pelos negros como forma de culto a sua religião, comunicando-se por meio da dança com seus deuses e ancestrais.

É uma dança de roda, da qual participam homens e mulheres, realizada ao ar livre e à noite; conta a tradição oral dos jongueiros, que era dançada pelos escravos, que a transmitiram a seus descendentes. Durante seus rituais, os jongueiros entoavam, além de seus cantos e invocações divinas, os chamados “pontos”, que eram “mensagens cifradas” para seus companheiros decifrarem, fazendo assim um jogo, por meio do qual, mantinham sua cultura usurpada pelos senhores de Engenho.