Estudantes realizam pesquisa sobre poder energético do eucalipto
Trabalho do Laben foi apresentado em congresso de Engenharia Química, em Natal
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Natália Oliveira - estudante de Jornalismo
Energia sustentável em meio à crise energética vivida no Brasil nos últimos tempos. Esse foi o pontapé inicial para o trabalho Análise do poder energético de diferentes espécies de eucalipto plantadas no estado de Alagoas, desenvolvido no Laboratório de Biocombustíveis e Energia (Laben) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e apresentado nesta segunda-feira (11) no Congresso Regional de Engenharia Química, realizado em Natal-RN.
Os estudantes Rafael Holanda e Wislânia Pereira tiveram a missão de difundir o estudo no evento acadêmico. O trabalho faz parte do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e do Programa de Ações Interdisciplinares (Painter) e foi desenvolvido com o objetivo de gerar energia mais sustentável em Alagoas a partir de biomassas, a exemplo do eucalipto, coco, milho e da mandioca.
De alguns anos para cá, a cultura do eucalipto ganha espaço em meio à imensidão de plantações de cana-de-açúcar no território alagoano. Segundo Rafael Holanda, isso ocorre como uma alternativa à pouca fertilidade do solo, já desgastado pela monocultura da cana, e à geração de energia das próprias usinas. “Indústrias no Sul e Sudeste do Brasil tiveram um retorno energético positivo ao trabalharem com plantações de eucalipto para cogeração de energia”, explicou o estudante.
Além da extração de celulose para a produção de papel, o eucalipto serve também para gerar energia. Em Alagoas, os resíduos da madeira da árvore já estão presentes no mercado em forma de briquetes, ou seja, blocos compactados que funcionam como combustível para fornos de pizzarias e padarias, por exemplo. Os briquetes são ecologicamente corretos e, por apresentarem baixa umidade em comparação à lenha, sofrem combustão mais rapidamente, o que produz menos fumaça, cinzas e fuligem.
De acordo com Rafael, o ápice do trabalho seria gerar energia elétrica para uma cidade ou estado, mas, a princípio, os estudos estão concentrados em geração de energia em forma de calor para empresas do comércio local. “Se você for a uma pizzaria de médio a grande porte e perguntar qual madeira eles utilizam, a resposta vai ser briquetes. Produzimos esses briquetes em uma mini usina aqui na Ufal. Além disso, trabalhamos com usinas de cana-de-açúcar, como a Sumaúma, por exemplo”, revelou.
Análise do poder energético
Sob orientação dos professores José Edmundo Accioly e Simoni Meneghetti, os estudantes analisam o poder calorífico, ou seja, a quantidade de energia contida nas espécies de eucalipto encontradas em Alagoas. Para este trabalho, especificamente, foram analisadas três espécies da planta: Eucalyptus saligna, Eucalyptus grandis e Eucalyptus camaldulensis.
Para analisar o poder calorífico, a madeira do eucalipto é coletada, fragmentada, triturada e prensada em bloquinhos, que devem apresentar umidade relativa do ar de 9%. A energia é então medida em um aparelho chamado calorímetro. Nele, ocorre a queima do eucalipto e a medição do poder calorífico superior e inferior. O último é considerado poder útil, o que interessa para geração de energia. No aparelho, a unidade de medida fornecida com a combustão é a quilocaloria (Kcal), posteriormente, convertida para megajoule por quilograma (MJ/Kg).
A partir da análise, chegou-se à conclusão de que a espécie mais recomendada para gerar energia é Eucalyptus saligna, cujo poder calorífico apresentado no estudo foi de 18,3 MJ/Kg. Além desse valor, também foram levados em consideração fatores como teor de cinzas e gases liberados com a queima do eucalipto. Enquanto isso, as espécies Eucalyptus grandis e Eucalyptus camaldulensis apresentaram um poder calorífico de 16,06 MJ/Kg e 16,23 MJ/Kg, respectivamente.
“Tais resultados motivam a continuidade das pesquisas, assim como a busca de novos investimentos para aplicação no mercado. Levando em consideração o enorme potencial a ser explorado e a necessidade de busca de fontes energéticas alternativas e menos poluentes, fazem-se necessários estudos direcionados à produção de energia através da utilização de biomassas em larga escala, gerando mais empregos e renda ao nosso Estado”, destacou o professor José Edmundo.
A divulgação do resultado do trabalho é um dos objetivos do Laben, que procura criar novas parcerias, sejam elas públicas ou privadas, a fim de mudar o rumo energético de Alagoas. O estudo já tem apoio do Centro de Tecnologia (Ctec) e Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal, da Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea) e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur).