Alunos de Jornalismo promovem oficinas em Aldeia de Palmeira dos Índios

A iniciativa teve como objetivo introduzir conceitos de fotografia e cinema para os índios Xucuru-Kariri

Por Ingryd Rodrigues e Maykson Douglas - estudantes de Jornalismo
- Atualizado em
Oficina de fotografia foi realizada com indígenas
Oficina de fotografia foi realizada com indígenas

Cerca de 20 estudantes do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) realizaram oficinas de fotografia e cinema na Escola Estadual Indígena Pajé Miguel Celestino da Silva, na zona rural de Palmeira dos Índios. As atividades aconteceram no dia 22 de setembro com o objetivo promover o intercâmbio de conhecimentos, entre o saber técnico e a vivência do povo indígena.

O conteúdo das oficinas foi planejado previamente, durante a disciplina de Gêneros e Culturas Visuais, ministrada pela professora Raquel do Monte, também responsável pela iniciativa.

“A ideia dessa atividade foi justamente a de repassar conhecimento para as comunidades, inclusive comunidades que não têm tanto acesso aos grandes centros urbanos, como é o caso da aldeia Xucuru-Kariri, e promover também um intercambio de saberes, porque os alunos ensinaram a estas pessoas como registrar questões ligadas à memória, ou seja, registrar a cultura, os costumes, a região onde residem, e isso é extremamente importante”, salientou a coordenadora da atividade.

Iniciativa mediada

A professora explicou que o acesso à comunidade indígena foi iniciado no mês de março, quando um grupo de índios compareceu a uma sessão cineclubista, na Biblioteca Central a Ufal, uma ação de extensão também coordenada por Raquel, que exibiu e debateu o filme Martírio, do diretor Vincent Carelli. O longa retrata a luta dos povos indígenas em relação a demarcação de suas terras.

“Eu tive um contato inicial com a professora Raquel, na Ufal, onde estudo Antropologia Social, voltada para o meu povo, Xucuru-Kariri. Eu transito por estes dois espaços, tanto a Universidade quanto a comunidade em que eu vivo. E a ponte foi feita quando fui convidado a falar das minhas vivências enquanto índio, no cineclube Papa-Sururu”, explica Cássio Júnior, primeiro Xucuru-Kariri a ingressar na pós-graduação da Ufal e professor de História na escola da Aldeia.

Fruto desse encontro, surgiu a ideia de uma atividade que fosse desenvolvida para os indígenas. “Nós vimos a oportunidade de estender estes diálogos, que estão se concretizando hoje, uma atividade fantástica, onde a Universidade que parece estar afastada, se aproxima das comunidades, e esse é o caminho, estabelecer esse vínculo entre teoria e prática”, pontuou Cássio.

A professora Raquel propôs, então, aos alunos a transformação do conteúdo dado em sala de aula, em estrutura de diálogo para tornar o conteúdo mais compreensível aos índios e deixar uma perspectiva diferente para os nativos.

“Uma atividade que tem também uma função política, porque é um ato de emancipação, é fazer com que uma comunidade que provavelmente não tem facilidade de acesso à cultura digital, às imagens técnicas, e ao cinema, esteja em contato com estes conteúdos e reflita sobre esse processo. E o segundo momento, é que eles também produzam suas imagens técnicas, em foto e em audiovisual, para registrar suas realidades” acrescentou a professora.

Os resultados foram dois curtas-metragens produzidos pelos próprios integrantes da aldeia, e uma série de fotografias tiradas em câmeras digitais e celulares, retratando o ambiente da escola, e da aldeia, próxima ao local. “É importante que estejam nos dando este suporte, para que nosso povo consiga registrar nossas lutas, para manter nossa cultura, nossa terra, e mais que isso, nossa existência. Esperamos também um retorno, com a divulgação da nossa cultura, para mostrar que somos gente, somos todos iguais, com algumas especificidades”, relatou a professora de português e índia Xucuru-Kariri, Yrakanã.