Estudantes compartilham conhecimentos durante isolamento social

Perfis criados no Instagram abordam conteúdo do Enem e orientam docentes sobre estratégias para o ensino literário

Por Manuella Soares - jornalista
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O que os estudantes têm feito com o tempo durante a quarentena? As opções e situações são diversas, mas alguns aproveitam as redes sociais para se aproximar das pessoas que precisaram se recolher em suas casas. Dois grupos de alunos do curso de Letras da Ufal em Arapiraca foram adiante: criaram contas no Instagram para oferecer um serviço que além de solidário é educativo.

Eles estão usando o conhecimento adquirido na graduação para praticar a docência no formato universal da pandemia: o virtual. Um dos perfis no Instagram é o @lescrita onde quatro amigos dedicam o tempo para criar conteúdos voltados aos estudantes inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

De acordo com os idealizadores, o intuito é auxiliar os estudantes por meio da plataforma que facilita o compartilhamento e a discussão de temas voltados para a área de linguagens. O público-alvo do perfil no IG é, especialmente, alunos da rede pública.

“A escola pode não ter condições de oferecer ensino remoto, e se tem, há a problemática de que nem todos os alunos têm acesso à internet ou não dispõem dos equipamentos e espaço necessários. Infelizmente, não conseguiremos alcançar essas pessoas, mas nossa pretensão é auxiliar as que têm, sobretudo, contato com a plataforma que a gente escolheu. É alcançar essas pessoas e ajudar na preparação para a prova do Enem”, relataram os organizadores do perfil.

A ideia do grupo é dar diretrizes para estudar os assuntos cobrados no exame e, para isso, organizou um cronograma de estudos em cada dia da semana. A equipe direciona os pontos que os alunos precisam se ater dentro dos conteúdos, começando por atualidades, no dia seguinte gramática, no meio da semana redação, em seguida literatura e encerrando na sexta-feira com um espaço para revisões, dicas e interação com os seguidores da página.

Os estudantes de Letras em Arapiraca Janieliete Lima, Marcos Vinícius, Polyana Alves e Rafaela Áurea contam que tem sido uma experiência de troca, porque eles também estão tirando proveito da iniciativa.

“Nos ajuda a manter contato com a nossa área e é uma oportunidade de aplicar o que aprendemos no curso até agora. Além de nos estimular a procurar novas formas de ensinar, fora dos modelos que aprendemos, apesar das limitações e da falta de preparo para lidar com a educação remota. É uma oportunidade de fazer agora o que seria possível apenas no fim da graduação: devolver à comunidade os anos passados na universidade, o que é investido em nós”, destacam.

Docentes também são cuidados

O projeto de criar o perfil no Instagram @jequiti.ba surgiu antes da pandemia, mas ganhou forma durante o distanciamento social. As estudantes de Letras em Arapiraca Larisse Nolasco e Jaiane Beatriz são amantes da literatura e preocupadas com o ensino literário em sala de aula. Pensando nisso, elas resolveram que dedicariam o tempo na rede social, e num blog de mesmo nome, para ajudar os professores responsáveis por passar esse conhecimento adiante.

“Pensamos em criar um espaço que pudesse refletir sobre educação de modo geral, mas com foco no ensino de literatura, onde a gente pudesse compartilhar reflexões sobre os problemas de sala de aula e ideias de propostas metodológicas a partir de textos literários”, reforçou Larisse.

As estudantes já passaram pela Residência Pedagógica e viram de perto as dificuldades dos docentes em transmitir a literatura de maneira que desperte maior interesse dos alunos. As postagens no Instagram são baseadas no chamam de ‘textos alicerces’, que norteiam as discussões.

“Haverá também publicação de metodologias, de propostas para a sala de aula. Fazer um recorte, um texto literário, poético e sugerir como aquele texto pode ser trabalhado. Mas, junto à sugestão, sempre uma reflexão de porquê pensar assim e não daquele outro modo, porquê levar aquele texto, e de como seria legal levar assim”, enfatizou a estudante sobre as ideias para a rede social.

Inspiradas na analogia do escritor Rubem Alves às árvores da espécie jequitibá, que seriam os educadores, seres raros, capazes de provocar reflexões e promover o encanto e o entusiasmo, Larisse e Jaiane dedicam um dia da semana para evidenciar a arte. Elas recorrem a nomes de artistas para conduzir o conteúdo das postagens e sugerir filmes, obras e outros textos.

As meninas contam que planejaram um roteiro de assuntos para abordar, mas precisaram reformular as ideias conforme as demandas de temas realçados na pandemia. Jaiane aponta a Série Quarentena como uma experiência positiva para ela, onde puderam compartilhar inquietações e conhecer relatos de como os docentes estão inseridos no lugar onde também precisam se reinventar.

“Um espaço que reflete sobre esses assuntos tão urgentes e tão sentidos na pele, que pense em maneiras de se relacionar com os nossos estudantes - que também estão inseridos nesse contexto de crise - é muito rico, porque está dentro dessa sensibilidade, se inserindo e conversando com outras pessoas para saber que não estão sozinhas, que estamos errando, acertando, e estamos aqui pra aprender”, descreveu Jaiane sobre o perfil @jequiti.ba.

E elas estão regando a semente dessa árvore, que nasceu em formato virtual, mas como os jequitibás de Rubem Alves, pretende ter história, despertar “por um ato de amor e coragem”. É também como pensa a equipe do @lescrita, que deixou uma mensagem otimista para os alunos seguidores: “A crise atual causa medo, mas encontramos uma brecha para a esperança. Estaremos lutando ao seu lado”.