Alunos de Nutrição da Ufal constatam que orgânicos são mais baratos em feiras

Pesquisa aponta opção mais viável para aqueles que buscam esse tipo de produto mais saudável

Por Simoneide Araújo - jornalista
- Atualizado em
Turma de Nutrição responsável pela pesquisa
Turma de Nutrição responsável pela pesquisa

Estudantes da disciplina Nutrição em Saúde Pública, ofertada no Período Letivo Excepcional (PLE) no curso de Nutrição da Ufal, fizeram pesquisa para comparar os preços de alimentos orgânicos vendidos em feiras livres com os de supermercados em Maceió. Eles chegaram a conclusão que esses produtos geralmente são mais caros, de um modo geral, mas que isso não é um regra, ou seja, quem quer uma alimentação mais saudável pode recorrer às feiras livres, onde os orgânicos são bem mais em conta.

A pesquisa foi orientada pelas professoras Giovana Longo Silva, coordenadora da disciplina ofertada, e Ana Paula Clemente, ambas da Faculdade de Nutrição (Fanut). “O trabalho traz um recorte atual sobre o panorama do comércio de orgânicos na cidade de Maceió-AL, fazendo um levantamento das feiras orgânicas da cidade com atendimento por delivery, e um comparativo de preços desses alimentos em relação a alimentos advindos de produção convencional comumente vendidos em supermercados”, explicaram o alunos.

Os pesquisadores compararam  os preços dos alimentos orgânicos vendidos nas feiras em relação a orgânicos comercializados em um dos principais supermercados da cidade. Eles pretendiam ter informações comprovadas para divulgar os resultados para a sociedade, utilizando redes sociais, para incentivar o consumo de alimentação adequada e saudável, de forma a promover saúde e prevenir doenças. “A intenção é prevenir agravos nutricionais que lideram a agenda de prioridades no contexto da saúde pública, tais como obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis (diabetes, doenças do coração etc), assim como as carências nutricionais específicas (anemia ferropriva, hipovitaminose A, entre outras)”, afirmaram.

Para realizar a pesquisa, a equipe fez um levantamento das feiras orgânicas delivery de Maceió e listou todos os alimentos disponíveis nesses locais e seus respectivos preços por unidade,100g e 1Kg. Em seguida, o grupo buscou os preços desses mesmos produtos, oriundos do cultivo convencional, nas lojas e nos sites dos principais supermercados da cidade, além de outros aplicativos de entrega onde esses pontos comerciais estão presentes.

Resultados

Foram identificadas quatro feiras orgânicas, as quais foram comparadas com dados de cinco dos principais supermercados da cidade e de uma feira orgânica de supermercado. Ao todo, foram analisados 67 produtos agrupados em frutas (18), verduras (12), cereais, raízes e tubérculos (sete), legumes e leguminosas (10), temperos e ervas (oito), carnes (uma) e outros (11). Para análise de dados, os produtos foram separados por tipo de estabelecimento e de cultivo e categorizados em sete grupos de acordo com o tipo de alimento.

O grupo constatou que alimentos orgânicos vendidos nas feiras são mais baratos do que os comercializados no supermercado, com variações percentuais de até mais de 600%, o que demonstra a vantagem de adquirir estes produtos em feiras e direto com o próprio produtor. O único alimento orgânico mais barato no supermercado foi o coco fresco ralado - a média do preço de 100g foi R$2,00 nas feiras e 1,65 no supermercado.

Comparando os orgânicos nas feiras delivery com os convencionais [com agrotóxicos] nos supermercados, os pesquisadores chegaram à seguinte conclusão: “Embora alguns alimentos orgânicos das feiras sejam mais caros que os de cultivo convencional vendidos nos supermercados, a diferença média foi relativamente baixa para muitas categorias. Cerca de 8,2% entre as frutas; 14,7% entre as verduras; 9,7% entre os legumes e leguminosas; 6% entre carnes; 44,1% entre os cereais, raízes e tubérculos; e 18,12% entre outros alimentos. Dos grupos de alimentos analisados, o das frutas e o dos legumes e leguminosas tiveram a menor diferença de preço, com variação média de 8,21% e 9,79%, respectivamente. O item com maior diferença nas frutas foi o coco fresco ralado (-127,83%), enquanto o coco verde (-9,12%) teve a menor variação”. 

Seguindo o levantamento dos pesquisadores, no grupo de legumes e leguminosas, a couve-flor (-179,33%) e feijão verde (-72,76%) foram os alimentos mais baratos em relação aos convencionais. Outros alimentos orgânicos mais baratos que os convencionais foram: coco seco (-30,38%), goiaba (-24,93%), laranja lima (-101,36%), repolho verde/branco (-66,61%), tomate cereja (-67,11%), castanha de caju assada (-64,88%), castanha do pará (-50,45%), mel (-40,61%), polpa de açaí puro (-1,94%), polpa de cajá (-47,50%), polpa de    maracujá (-65,31%) e sal com ervas (-106,37%).

Os estudantes também listaram uma série de fatores que mostram por que, às vezes, o alimento orgânico pode ser mais caro. Vejam a seguir:

  • Maior custo na produção pelo não uso de agrotóxicos, levando a uma colheita mais reduzida em comparação a uma convencional);
  • Maior tempo de espera para colheita (já que é respeitado o tempo natural do alimento)
  • Maior demanda de mão de obra, pois há necessidade de compostar e distribuir as sementes no campo;
  •  Poucos ou ausentes maquinários, já que se trata de um cultivo mais artesanal;
  •  Custos para certificação, sendo necessário, muitas vezes, contratar uma empresa para isto ou organizar com outros produtores, além de precisar garantir todas as normas de uma produção orgânica;
  •  Tempo de espera de áreas vizinhas a produção não-orgânica, pois para garantir que sua produção seja orgânica certificada é necessário reservar áreas sem produção nas proximidades, o que pode diminuir a colheita do produtor;
  •  Alta procura, o que eleva os preços (lei da oferta e procura);
  •  Falta de apoio à pesquisa e à transferência de tecnologia, que poderia gerar quedas nos custos de produção.

Vale a pena pagar um pouco mais caro por alimentos orgânicos? Quais os seus benefícios?

  • Produção livre de agrotóxicos;
  • Preservação do solo e da água;
  • Utilização de fontes de energia renováveis;
  • Respeito a saúde do agricultor e consumidor;
  • Incentivo a criação de políticas públicas voltadas ao pequeno agricultor;
  • Melhora a qualidade de vida evitando doenças causadas pela ingestão de agrotóxicos, reforçando um consumo consciente e estilo de vida mais saudável.

O que fazer para consumir orgânicos gastando menos?

  • Preferir comprar em feiras do que em supermercados;
  • Priorizar compras direto com o produtor;
  • Optar por produtos regionais;
  • Preferir produtos da estação (safra);
  • Incentivar a criação de feiras e espaço de vendas de orgânicos pelos governantes locais, para que haja maior oferta e maior variedade de preços.

O grupo lembra, ainda, que o Guia Alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde, reforça a importância de se priorizar o consumo de alimentos in natura e minimamente processados e que sejam derivados de um sistema alimentar social e ambientalmente sustentável, estimulando ainda a aquisição de alimentos orgânicos e de base agroecológica em feiras livres e feiras de produtores. “Esta recomendação centraliza-se não só na saúde do consumidor, a partir do consumo de alimentos sem uso de agrotóxicos, os quais podem ser considerados verdadeiros venenos injetados em nosso corpo, mas também no impacto social positivo a partir do consumo de sistemas centrados na agricultura familiar e, por outro lado, o impacto ambiental negativo gerado a partir do consumo de alimentos produzidos em sistemas convencionais, que dependem de grandes extensões de terra, do uso intenso de mecanização, do alto consumo de água e de combustíveis, do emprego de fertilizantes químicos, sementes transgênicas, agrotóxicos e antibióticos e, ainda, do transporte por longas distâncias”, concluíram.