Instituto de Educação Física mantém projeto voltado para autistas durante a pandemia

Os encontros de orientação acontecem às quartas-feiras, 19h30, pela internet

Por Lenilda Luna - jornalista
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O projeto de Extensão intitulado Exercício Físico para população com Transtorno do Espectro do Autismo, coordenado pela professora Chrystiane Vasconcelos Andrade Toscano, do Instituto de Educação Física e Esporte (IEFE), continua com o atendimento aos autistas e pais de autistas de forma virtual, enquanto a pandemia não permite o retorno presencial. Os encontros virtuais acontecem às quartas-feiras, a partir das 19h30, na sala do Google meet. 

O projeto de Extensão foi criado em 2009 , em parceria com a Secretaria de Saúde. “Recebemos uma demanda do setor de Saúde Mental para o atendimento às crianças autistas. A Secretaria criou as condições de transporte dos assistidos pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) até o prédio de Educação Física, para um serviço especializado na organização motora. Neste período, que foi até 2013, foram assistidas 50 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos”, relata a professora Chrystiane. 

Em 2013, às ações do projeto foram deslocadas das instalações físicas da Ufal para o Centro Unificado de Desenvolvimento do Autista (Cuida), serviço especializado exclusivamente na população com Transtorno do Espectro do Autismo da Associação de Pais dos Excepcionais (Apae). “Transferimos o atendimento para o Cuida por apresentar a maior matrícula da população com Transtorno do Espectro do Autismo da cidade de Maceió, segundo dados de 2014/2015, em serviço especializado”, explica Chrystiane. 

Atualmente a IEFE assiste 105 crianças e adolescentes no Cuida, realizando avaliação do perfil de sintomas primários, perfil de saúde e os efeitos de um programa de intervenção baseado em exercícios físicos. A equipe é formada pela professora de Educação Física,  Keity Maria; pelos bolsistas Pibic, Vitor Patriota e Vitória Oliveira; e a coordenadora do projeto, a professora Chrystiane Toscano.

O projeto conta ainda com a parceria de três pesquisadores externos:  Pedro Ferreira, professor Titular da Universidade de Coimbra/Portugal; Humberto Carvalho e  Joana Gaspar, ambos professores Adjuntos da  Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Essa parceria permite a produção de um trabalho ainda mais especializado para população com transtorno do espectro do autismo”, destaca a professora Chrystiane.

Os resultados dos estudos foram publicados em revistas de impacto internacional, despertaram a curiosidade de pesquisadores como Erin Vinoski Thomas,  PhD da Georgia State University, que em 2020 realizou intercâmbio virtual com os alunos dos Cursos de Educação Física da Licenciatura e Bacharelado do IEFE,  e a conferência com a coordenadora do projeto de pesquisa na  Mental Health & Psychiatry, evento realizado em junho de 2020.

Atendimento on-line 

O atendimento feito pelos integrantes do projeto de Extensão visa reduzir comportamentos estereotipados, agressivos e inadaptativos, que são sintomas básicos do espectro autista. Durante a pandemia de Covid-19, que impôs o distanciamento social, a Ufal lançou um edital para projetos específicos voltados à pandemia. “Com o financiamento do edital, nós iniciamos o teleatendimento em exercício físico para que os autistas não precisassem interromper as práticas, mesmo com as instituições fechadas”, ressaltou Chrystiane. 

Os encontros com autistas, pais e cuidadores, às quartas-feiras, conta com a participação de cerca de 12 pessoas. Uma das mães nos enviou aos professores um depoimento bastante entusiasmado, relatando que ao fazer os exercícios orientados pelo programa com o filho, ela mesma acabou sendo estimulada a voltar à atividade física. As atividades ajudaram os dois, mãe e filho, a enfrentar o isolamento em casa com menos ansiedade e mantendo as estereotipias e episódios de agressividade sob controle. “Eu me inspirei muito nos alunos. A Educação Física faz a gente se sentir muito melhor”, disse a mãe do autista. 

O Teleatendimento em exercício físico: estereotipias e organização motora acontece nesta quarta-feira (5), de 19h30 até 20h30, no Google Meet. Link da videochamada 

Autismo 

A professora Chrystiane Vasconcelos explica que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento cerebral, com alterações fisiopatológicas e metabólicas com modificações genéticas, de perfil lipídico, de estresse oxidativo, de sistema imune e outras complicações de saúde associadas. Somado ao perfil endógeno, o TEA é caracterizado por uma díade sintomatológica primária que abrange: déficits persistentes na comunicação social e na interação em múltiplos contextos e padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades. 

O transtorno pode ser representado em três níveis de gravidade em escala que vai do nível leve ao grave. A prevalência do transtorno na população mundial é de 1% e no Brasil de 0,3%, sendo uma proporção de 4:1 de meninos com TEA em comparação às meninas. Em condições regulares, é indicado que o paciente com TEA receba um suporte de uma equipe multiprofissional. “Evidências mostram que o exercício físico, enquanto tratamento adjunto, é eficaz para a melhora do perfil metabólico e de sintomas primários, como também, de funções sócio emocionais e cognitivas”, destaca a pesquisadora. 

Para saber mais sobre o assunto, consulte as referências bibliográficas, artigos e trabalhos acadêmicos no currículo Lattes da professora  Chrystiane Toscano.