Trabalho de conclusão de curso destaca atividade ceramista de Satuba
Riscos de demolição das chaminés de cerâmica de porte industrial motivaram a realização da reportagem
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As peças de barro expostas para comercialização às margens da BR-316, onde está o município de Satuba, a 22 quilômetros da capital, representam mais do que a produção, por artesãos da localidade, da bela e referenciada arte resultada do barro. Guardam e traduzem uma das vocações do artesanato alagoano entrelaçado com a histórica atividade ceramista do jovem município, emancipado há pouco mais de 60 anos. Nas décadas de 1970 e 1980, auge da produção, Satuba se destacou como um dos maiores produtores de cerâmica de Alagoas, com participação marcante e importante nessa vocação econômica local.
A trajetória histórica da atividade ceramista do município ainda é pouco conhecida e sua relevância para a Alagoas, além de estar marcada no cotidiano de vida da comunidade, em várias gerações, despertou o interesse do recém-graduado em Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas, Jorge Ferreira Filho, para a produção de uma reportagem inédita, como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Apresentado em julho deste ano, o TCC recebeu nota máxima [10] da banca examinadora, pela qualidade e ineditismo. A reportagem dá oportunidade à sociedade de conhecer tão relevante trajetória que fez história em Alagoas, também em outros estados da federação e até fora do Brasil, por meio de suas belas e ornamentais peças moldadas no barro.
Retratar a trajetória histórica da atividade ceramista de Satuba é trazer à tona a necessidade de conhecimento pela sociedade e pode significar preservação e resgate históricos de uma arte outrora efervescente nos áureos tempos. Mesmo sendo natural de Maceió, Jorge viveu toda a infância em Satuba, onde os pais ainda residem, mas o despertar para fazer do tema O barro, os rios e as cerâmicas - Satuba e suas chaminés através do tempo, seu TCC, tem outros significados também para o autor, que destaca o real motivo para a realização da reportagem com essa abordagem:
“A pauta foi levantada a partir do risco de demolição das chaminés das cerâmicas, no caso as de porte industrial e houve movimentação da comunidade para que fossem tombadas como patrimônio. As chaminés são símbolo da cidade, estão na bandeira e no brasão do município. Sabendo que a atividade ceramista incluía não só as indústrias de cerâmica, mas também a arte ceramista, vimos que haveria muitas retrancas interessantes para desenvolvimento de uma grande reportagem que aborda desde o surgimento da localidade, sua relação com o uso do barro, até a atividade ceramista nos dias atuais”.
Ferreira reforça que a atividade ceramista foi importante não só para a história e a economia do município, mas para Alagoas, pois a produção das cerâmicas tinha representatividade regional. “Peças produzidas pelas cerâmicas de Satuba eram vendidas para vários estados. Há exemplos de construções em outros locais do Nordeste, como igrejas, nas quais o telhado ainda eram de telhas das cerâmicas do município, especificamente da ‘Cerâmica de Satuba’”, enfatizou.
O estudante destaca que há muitos anos a atividade ceramista, em escala industrial, já não é o principal meio de subsistência do município. Segundo Ferreira, isto ocorreu a partir do momento que as grandes cerâmicas enfrentaram crises financeiras e essa realidade levou ao encerramento de suas atividades, restando apenas as de pequeno porte e as olarias. Uma delas é a do artesão José Sebastião, conhecido na cidade como ‘Zé Olhão’. Outro que se destaca na arte ceramista é o artesão Djalma de Paula, cujas obras são bastante conhecidas no cenário alagoano e com peças também importadas por outros países.
“Outro artesão com maior visibilidade é o Paulo Vicente, que comercializa suas produções às margens da BR-316. Satuba hoje é conhecida como cidade-dormitório, uma referência ao fato de que a maioria dos empregos dos moradores da cidade está fora dela, como na capital Maceió ou usinas localizadas nas proximidades do município”, disse.
Sobre as dificuldades existentes e que tiveram, no decorrer do tempo, contribuição para a atual realidade, Ferreira opina: “As dificuldades são a pouca valorização das artes e a falta de uma divulgação mais ampla dessa arte ceramista”. Aproveita para relembrar que Satuba já teve o seu destaque na indústria ceramista, sobressaindo-se como um dos maiores produtores de Alagoas.
Trabalho Relevante
Jorge Ferreira Filho é engenheiro químico graduado pela Ufal, com doutorado nessa área pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele é docente do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), no Campus Marechal Deodoro, e Jornalismo é sua segunda graduação, concluída após defesa do TCC, que teve como orientadora a professora Janayna Ávila. O trabalho de conclusão do graduado é considerado por Janayna como excelente, por abordar um tema de grande relevância que resultou num material inédito e de qualidade:
“A reportagem de Jorge Filho é de grande relevância porque vai buscar as origens de Satuba a partir de sua vocação ceramista, que fez da cidade uma das mais importantes do Nordeste nessa atividade. Infelizmente desconhecida atualmente por muitas pessoas. Jorge faz um mergulho nessa história, ouve personagens importantes, sobretudo, os próprios ceramistas, para entender com se deu esse ciclo na cidade. É uma atividade artesanal bonita, ancestral, retirar o barro, moldá-lo e cozinhar para, enfim, ver a peça nascer. Felizmente a atividade ainda resiste. Pequena, mas vive. O que Jorge faz é jogar luz nessa história”, comemorou a docente.
Passagem para viajantes
Localizada na região metropolitana de Maceió, a cidade de Satuba comemorou, em 2020, 60 anos de sua emancipação política quando então fazia parte do município de Rio Largo. Conforme a reportagem, “apesar de ser um município jovem quando comparado a outras cidades brasileiras, essa localidade tem uma presença que remonta aos engenhos e às senzalas e aos povos originários que habitavam todo o território nacional quando os europeus chegaram por aqui. Como se sabe, grande parte de Alagoas era habitada pelos povos indígenas Caetés”.
Nesse contexto, a reportagem traz que “vem daí o registro mais remoto dessa localidade que se tornaria uma passagem de viajantes vindos de todos os lugares do Brasil e que cruzam Alagoas pela rodovia BR-316. Aliás, muito antes dessa rodovia, Satuba já era passagem da linha férrea com sua monumental importância para o desenvolvimento do Estado e a ligação com outras localidades do Nordeste”.
Para saber mais sobre a reportagem inédita de Jorge Ferreira, basta ver o arquivo em anexo