Pesquisadora será premiada por dispositivo para identificar enzima da H. Pylori
Doutoranda da Ufal desenvolveu dispositivo de baixo custo em papel que usa sistema de cores para quantificar enzima produzida por bactéria no estômago humano
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As descobertas são o combustível para se dedicar cada vez mais às pesquisas. No Laboratório de Instrumentação em Química Analítica (Linqa), do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Universidade Federal de Alagoas, os trabalhos têm avançado e estão sendo internacionalmente reconhecidos. Na próxima terça-feira (31) a doutoranda Maria Célia Tavares vai receber o Prêmio Jovem Pesquisador Royal Society of Chemistry em cerimônia realizada em Maceió.
A honraria será conferida pelo Comitê de Jovens Pesquisadores da Sociedade Brasileira de Química (JP-SBQ) e Royal Society of Chemistry. O objetivo é reconhecer a competência científica e a qualidade do trabalho dos pesquisadores participantes da Reunião Anual da SBQ.
Maria Célia venceu a categoria 1 do prêmio, que é dedicada a estudantes de doutorado, com o trabalho submetido intitulado Dispositivo colorimétrico em papel: um arco-íris de possibilidades para a determinação da uréase.
De acordo com a doutoranda da Ufal, que é docente no Instituto Federal de Alagoas (Ifal), a pesquisa ainda está em andamento, na fase de otimização das melhores condições para posterior validação. “O trabalho tem o objetivo de desenvolver um dispositivo de baixo custo para auxiliar no diagnóstico de infecção por H. Pylori, laboratórios de pesquisa que desenvolvem inibidores de urease e, até mesmo, determinar essa enzima urease em solos”, explicou a pesquisadora.
O orientador do projeto e coordenador do Linqa, professor Josué Carinhanha, destacou o que esse prêmio representa para o incentivo ao trabalho de pesquisa científica: “Receber um prêmio sempre é bom. É uma forma de ter o trabalho reconhecido, os esforços recompensados. Trata-se de mérito. Contudo, a jornada até este reconhecimento, a disciplina, as abdicações, a necessidade de escolhas, nem sempre são de conhecimento público. Assim, destaco que o recebimento do Prêmio de Jovem Pesquisador Royal Society of Chemistry pela Maria Célia trata-se de uma felicidade, pois coroa não apenas uma excelente profissional, mas sobretudo, um ser humano diferenciado”.
Projeto pela saúde
Durante anos de dedicação à pesquisa na área de química, Maria Célia se engajou no Projeto Urease, que vê a necessidade de determinar a atividade dessa enzima de forma simples, rápida e econômica para diminuir os efeitos da sua ação.
Essa demanda científica surge porque a urease é produzida por fungos e bactérias, associada a problemas na agricultura e na saúde, causando perdas de fertilizantes N-ureia e favorecendo à colonização da H. pylori no estômago humano.
O trabalho submetido ao prêmio propõe desenvolver um dispositivo colorimétrico em papel para determinação da urease explorando diferentes indicadores ácido-base. “A utilização de dispositivos analíticos em papel é devido à facilidade de uso, ao baixo volume de amostra, à portabilidade e à possibilidade de integração com uma variedade de métodos e técnicas de detecção. Neste contexto, a colorimetria merece destaque devido à simplicidade, capacidade de análise operacional usando scanner e/ou smartphone para obtenção de respostas quantitativas ou binárias [sim/não]”, explicou Célia.
Os resultados apontaram cores e tipos de papel que melhor se aplicam ao sistema desenvolvido. A pesquisa mostra o potencial para sistemas reais e para avaliação de possíveis inibidores da urease. O trabalho segue com ajustes e otimizações para validar cientificamente e conseguir chegar à população.
Mérito com tom de estímulo
Mais que acreditar apenas no próprio potencial, Célia confia na grandiosidade do projeto e das pesquisas feitas no Linqa. Ao decidir submeter o trabalho para concorrer ao prêmio, ela contou com o apoio do orientador Josué, fez a carta de motivação e criou um portfólio sobre as atividades já realizadas. Veja aqui.
“É um processo criativo e também demorado, pois não é fácil resumir os 11 anos de trajetória científica na área da química e a minha paixão pela ciência em uma carta de motivação e um portfólio. É uma responsabilidade e, ao mesmo tempo, uma honra representar os jovens pesquisadores do Linqa e do PPGQB [Programa de Pós-graduação em Química e biotecnologia], pois quando um dos nossos chega lá, todos nós chegamos", contou.
O Prêmio que Maria Célia vai receber na próxima terça (30) é mesmo uma conquista coletiva, mas o orientador dela faz questão de dar o protagonismo devido. “Apenas propomos ideias, e os alunos abraçam os projetos e os transformam. Por isso, entendo como merecida esta premiação a Maria Célia; ela tem a capacidade de mudar, mostra profundo respeito pela Ciência, mas, sobretudo, amor pelo que faz. Certamente, tem potencial para ser uma brilhante cientista e, sobretudo, uma pessoa transformadora, capaz de converter sonhos em realidade”, frisou Carinhanha.
Feliz com o resultado e certa de que o caminho é longo, a menina do interior, filha de outra Maria, fruto de escola e universidade públicas e de programas sociais já tem o discurso pronto para o dia da premiação: “Dedico esse prêmio à minha mãe, Maria de Fátima, que nunca mediu esforços para que eu estudasse, e a todas as meninas e mulheres na Ciência. Esse prêmio ecoa aos quatro cantos que vale a pena acreditar na educação”, falou emocionada, citando um longa-metragem em alusão à realidade de muitas mulheres brasileiras que precisam abandonar os estudos para trabalhar. Célia acredita na outra história dela como inspiração: “Que outras ‘Marias’ possam seguir esse caminho e assim reescrevamos, de forma orgulhosa, o nosso novo ‘Vida Maria’, para que mais Marias cheguem lá, como regra e não como exceção”.