Projeto sobre a Ditadura Militar mobiliza estudantes em Palmeira dos Índios

Debate final teve como tema o direito à Memória, à Verdade e à Justiça

Por Ascom Ufal
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Evento aconteceu na Unidade de Palmeira dos Índios
Evento aconteceu na Unidade de Palmeira dos Índios

Um projeto coordenado pela professora Olívia Monteiro, do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), da Unidade de Ensino de Palmeira dos Índios, que integra o Campus Arapiraca, mobilizou estudantes do 2º período para refletir sobre um tempo tenebroso da história recente do Brasil: a Ditadura MIlitar (1964-1985).

Durante mais de um mês, os grupos propuseram atividades em relação ao tema: teve mural de fotos, sessão do filme Marighella, cordel elaborado por uma aluna e peça teatral expondo a crueldade dos sequestros e torturas. “Os alunos se envolveram, pesquisaram, quiseram desvendar o que foi a Ditadura e quais as consequências sociais e humanitárias sentidas até hoje”, ressaltou a professora Olívia.

Para concluir o projeto, foi realizado, na segunda-feira (16), um debate sobre Memória Verdade e Justiça, para o qual foram convidados o professor José Nascimento França, graduado e com mestrado em Serviço Social, e doutor em Linguística; e Lenilda Luna, jornalista da Assessoria de Comunicação da Ufal, especialista em Novas Tecnologias na Educação e integrante do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Alagoas. A professora Adielma Lima do Nascimento, coordenadora do curso de Serviço Social, também compôs a mesa.

Estudantes e professores reuniram-se no pátio da Unidade para acompanhar a exposição, sob a coordenação da aluna Evellyn Farias. “Esse projeto abriu meus olhos para uma realidade que a gente tem que conhecer melhor, porque não fica só no passado. O autoritarismo e a violência do Estado devem ser combatidos na atualidade também, por isso precisamos ter muita atenção aos acontecimentos”, ressaltou a discente.

Lenilda Luna expôs o trabalho realizado pela Comissão Nacional da Verdade, criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. “Hoje, quando estamos realizando este debate, está fazendo dez anos da criação da Comissão que teve a missão de revelar os crimes da Ditadura e instaurar a Justiça de Transição no Brasil, com ações reparadoras dos crimes que foram cometidos pelo Estado contra cidadãos e cidadãs deste país”, destacou a jornalista.

Ela também falou sobre a Comissão Estadual da Verdade Jayme Miranda, que realizou várias audiências com sobreviventes das torturas e organizou a documentação a que teve acesso nesse período. “O relatório da Comissão foi entregue ao Governo de Alagoas e à Ufal, em agosto de 2017. Esse material precisa ser consultado, estudado e deve ser fonte para mais pesquisas e artigos. Como dizemos no movimento: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”, declarou.

Para finalizar sua fala, Lenilda apresentou a Carta de Teresina, um documento elaborado durante o 7º Encontro Norte-Nordeste de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça - José Carlos Zanetti, realizado em Teresina (PI), de 1º a 3 de abril deste ano. “A impunidade dos crimes da Ditadura encoraja os autoritários a continuar promovendo torturas, perseguições e mortes dentro das instituições. Essa violência só pode ser contida se for enfrentada pela sociedade”, declarou a representante do Comitê MVJ Alagoas.

O momento mais emocionante do debate foi o relato do professor José Nascimento, sobrevivente das torturas da Ditadura Militar. “Durante as sessões de choques elétricos que aconteceram dentro do Quartel da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, eu me senti só e no escuro. Eu tinha vindo do Nordeste para trabalhar nas ações da organização da qual eu fazia parte. Minha família não sabia onde eu estava”, narrou Nascimento.

O professor contou sua trajetória desde que começou a militar no Movimento de Educação de Base, depois entrou na Ação Popular, participou dos debates para a legalização da UNE e das ações de integração à produção, quando quadros intelectuais marxistas buscavam trabalho nas fábricas para conviver e conversar com os operários. “Nossa proposta era colaborar com a formação crítica desses trabalhadores para que eles aderissem à resistência contra a Ditadura. Mas isso tinha que ser feito com muito cuidado para que ninguém fosse denunciado e preso, como acabou acontecendo comigo”, relatou.

Nascimento também se referiu ao pai da professora Olívia, que foi militante deste período. “Não é uma história distante, que está nos livros. É uma história que está viva. Eu conheci José Monteiro, pai da professora de vocês, que também foi preso e torturado. As pessoas com as quais convivemos lutaram contra a repressão e a violência do Estado. E continuamos lutando por Justiça Social e Democracia. Essa é uma tarefa também da juventude, não deixar que nosso país recrudesça para aqueles tempos sombrios. Ditadura Nunca Mais!”, finalizou.