Museu de História Natural tem projeto aprovado em edital da SBPC
Aquilombar: Ciência e Cultura em Muquém e Mameluco visar aproximar a Ufal das comunidades quilombolas a partir da promoção do conhecimento
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Promover intercâmbio de conhecimentos entre a Universidade e comunidades quilombolas. Esse é o mote do projeto Aquilombar: Ciência e Cultura em Muquém e Mameluco, aprovado recentemente em edital do SBPC vai à Escola, lançado pela Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC). A ação, coordenada pelo biólogo Carlos Fernandes, do Museu de História Natural (MHN), tem como público-alvo os estudantes e docentes de escolas públicas localizadas nas referidas comunidades de União dos Palmares e Taquarana.
Este é o segundo projeto consecutivo do Museu aprovado pelo órgão que, segundo Fernandes, vai financiar as atividades com R$ 12 mil para aquisição de materiais de custeio, diárias e passagens dos membros das equipes de acordo com as suas atividades itinerantes. Oficinas, minicursos, atividades culturais, pesquisas, rodas de conversa, eventos de socialização e trocas de saberes são algumas das ações previstas no escopo do projeto.
“Penso que isso [segunda aprovação consecutiva] é um bom indicador acerca da coerência do entendimento base que as propostas aprovadas apresentam, qual seja: compreender a extensão universitária e a divulgação científica como agentes de inclusão social. É este anseio que tem nos motivado a articular parcerias como as que permitiram a proposição deste projeto”, celebrou o biólogo Carlos Fernandes ao dizer que a ação terá início em fevereiro e seguirá até novembro de 2024.
Parcerias fortalecem o projeto
De acordo com o pesquisador, o projeto envolve diferentes instituições do estado, tanto de ensino como de pesquisa, mas todas elas têm um foco: promover ações de educação científica para escolas públicas das referidas comunidades quilombolas. “Essas comunidades têm enfrentado desafios significativos ao longo da história, e a promoção da educação científica em suas escolas pode ser um catalisador para o desenvolvimento e o fortalecimento de suas identidades sociobioculturais”, explicou Fernandes.
O Museu de História Natural entra com os recursos educacionais, exposições e conhecimentos científicos que vão enriquecer ainda mais o currículo das escolas quilombolas parceiras do projeto. “E o Museu poderá colaborar com a formação de professores e estudantes, promovendo a sensibilização sobre a relevância da sociobiodiversidade local, sendo cenário, ainda, para eventos que poderão reunir representantes das duas comunidades quilombolas para trocas de saberes e experiências”, complementou o pesquisador.
Outro importante parceiro do projeto é o Instituto Federal de Alagoas (Ifal) que vai oferecer apoio técnico, infraestrutura e formação de docentes – inclusive, docentes do Ifal também integram o projeto.
“Os docentes do Ifal que integram este projeto, por sinal, são os nossos elos na comunidade quilombola Mameluco, onde já desenvolveram algumas iniciativas de educação científica. E o Instituto como um todo pode fornecer acesso a laboratórios e equipamentos que podem enriquecer a experiência educacional das escolas envolvidas no projeto”, celebrou o biólogo.
A Secretaria Municipal de Educação de União dos Palmares também é uma das importantes parceiras da iniciativa do MHN com a Sala Verde Serrana dos Quilombos. “Ela desempenha um papel central no engajamento direto com a escola pública da comunidade quilombola Muquém e atuará como centro de apoio e referência para a organização de eventos, palestras, exposições e atividades de campo relacionadas à educação científica no Muquém”, explicou Carlos.
Eventos culturais e educacionais
Compartilhar ciência é bom, mas aliada à cultura e práticas culturais deixa o trabalho ainda mais prazeroso. Por isso, segundo Carlos Fernandes, o projeto conta ainda com o apoio da Prática Cultural Produções e do Instituto Arte Mambembe que contribuirão com suas experiências na organização de eventos culturais, deixando a ação ainda mais atrativa e impactante para as crianças e para os jovens das comunidades quilombolas partícipes da iniciativa.
“A colaboração entre todas essas instituições aponta-nos para a viabilidade das iniciativas de educação científica aqui propostas. Assim, acreditamos que essa iniciativa não apenas fortalecerá a educação nas escolas envolvidas, mas também valorizará a cultura local e capacitará as comunidades para enfrentar desafios futuros de forma mais informada e preparada. Com isso, reafirmamos o entendimento de que a ciência e a educação são caminhos para promover a igualdade e a inclusão em nossa sociedade”, celebrou.
Integrantes comemoram participação no projeto
Além de Fernandes, a equipe do projeto conta ainda com outras 12 pessoas, sendo 3 estudantes de doutorado: um do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), outro em Ensino – este via Rede Nordeste de Ensino (Renoen) também do Centro de Educação (Cedu) e um de Geografia, mas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Não há estudantes de graduação no projeto, pois um dos critérios do edital foi exatamente estimular a participação de estudantes da pós”, complementou Carlos.
Para Amanda Curto, ver que ações educativas a serem implantadas promoverão um diálogo entre os saberes tradicionais e o conhecimento científico torna sua participação no projeto um privilégio.
“Esta troca de conhecimentos será de extrema relevância na valorização dos saberes culturais da população, favorecendo às questões de respeito e reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira, e em contrapartida essa interação trará aos pesquisadores um amplo conhecimento sobre a cultura local e a promoção de ações educacionais que impactarão positivamente na qualidade de ensino nas escolas públicas parceiras”, destacou.
Leandro Correia destacou a importância da troca de experiências com as comunidades quilombolas selecionadas. “Fico muito feliz em participar de iniciativas que se propõem ao diálogo, as trocas de experiências e interações sociais, considerando que as comunidades quilombolas nos oferecem uma rica compreensão de um território de resistências, marcados por um lugar de fala representativo das suas vivências culturais e históricas”, salientou o jovem.
Já para estudante Juliana Silva, a participação no projeto lhe proporciona oportunidade única de enriquecimento mútuo a partir da criação de conexões entre as várias formas de conhecimento: “Espera-se uma abordagem respeitosa e colaborativa, na qual cientistas e membros das comunidades se envolvem em um diálogo significativo, reconhecendo e valorizando as riquezas culturais e científicas de ambos os lados. A esperança é que essa interação resulte em benefícios concretos para ambas as partes”.
Valorização do patrimônio material e imaterial
O pesquisador Klinger Silva, outro integrante do projeto, acredita que a ação vai contribuir para uma grande valorização material e imaterial do Patrimônio Cultural do povo negro de Alagoas, em especial de duas importantes comunidades quilombolas do estado.
“Relacionar-se arte e patrimônio de forma lúdico-educativa, dialética e dialógica pode tornar efetivo o relativo papel transformador da música em determinado contexto sociocultural em conexão direta com saberes e memórias simbolicamente herdados e experienciados individual e coletivamente no presente. Portanto, Ciência e Arte associadas valorizam-se mutuamente e contribuem juntas para o fortalecimento dos laços comunitários na superação de barreiras e discriminações socioeconômicas e culturais”, celebrou.
A fala foi reforçada por Leonardo Antônio, ao dizer que o projeto representa valorização de saberes tradicionais e das identidades quilombolas. “E isso se dá para a constituição dos conhecimentos sobre as pessoas e os territórios, ocupando as escolas como um canal privilegiado de atuação nas comunidades. As expectativas de compor um projeto como este são de imersão em contextos sociais de resistências culturais e sociopolíticas”, complementou o pesquisador.