DNA Forense da Ufal prepara alunos para atuar em perícia criminal
Disciplina é atividade prática no laboratório e dá suporte para futura atuação profissional nessa área
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Todas as terças-feiras, das 14h às 17h, um grupo de alunos do curso de bacharelado em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) participa da prática da disciplina eletiva Genética Forense, ministrada pelo professor Dalmo de Azevedo. São ofertadas dez vagas a cada semestre e se constitui num importante suporte como parte de preparo para, por exemplo, um futuro concurso para graduandos que aspiram a carreira de perito criminal.
A atividade prática é executada no referenciado Laboratório de DNA Forense, espaço científico pertencente ao Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), unidade acadêmica do Campus A.C. Simões da Ufal. Os conteúdos contemplam todas as etapas de análise de DNA, desde a coleta de amostras à elaboração de um laudo. Ao destacar a importância da disciplina, Dalmo Azevedo diz que, mesmo para os que não pretendem ser peritos criminais, ela proporciona o treinamento em técnicas de biologia molecular que podem ser aplicadas a outras áreas de pesquisa nas quais a análise de DNA seja realizada.
Integram a parte prática da disciplina: procedimentos para coleta de DNA; aplicação de técnicas para isolamento de DNA de diferentes tecidos; amplificação de DNA para obtenção de perfis genéticos com a técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR); análise de perfis genéticos; análise estatística para cálculo de probabilidade de relações de paternidade e vínculo genético de parentesco; e emissão de laudos. Paralelamente, segundo o pesquisador, são feitos treinamentos para o preparo de soluções, utilização de equipamentos e orientações sobre biossegurança.
“A Genética Forense tem uma carga horária majoritariamente prática e é uma das disciplinas que dá suporte à perícia criminal. Atualmente conta com nove graduandos do bacharelado em Ciências Biológicas. No próximo semestre serão ofertadas vagas para a licenciatura também, mas já houve turmas com participação de alunos da graduação em Farmácia”, enfatizou Azevedo, mestre em Genética e doutor em Ciências. Ele leciona a disciplina desde 2015 e coordena o Laboratório de DNA Forense da Ufal desde setembro de 2020.
Sobre a importância da disciplina Genética Forense com atividade prática dotada de abrangente estudo científico, no laboratório específico, Azevedo destaca que, por meio da análise de DNA, é possível tanto vincular uma pessoa ao local do crime como inocentar alguém falsamente acusado.
E explica, citando um exemplo: “Em um crime sexual, por exemplo, no qual a vítima foi assassinada, a presença de impressões digitais no local indica que o suspeito em questão esteve no local, mas não assegura que foi o agressor. Porém, a presença de sêmen na vítima com o mesmo perfil genético do suspeito, é uma evidência muito mais forte de que ele cometeu o crime. Por outro lado, se o perfil genético da amostra do local de crime não coincide com o do suspeito, isso é uma forte evidência a favor de sua inocência”.
Sobre a importância do Laboratório de DNA Forense para a formação acadêmica, o professor diz que é o local onde a ciência deixa de ser apenas um conjunto de informações, um texto publicado em um livro ou periódico, e se materializa diante do aluno. “É onde se faz a interação entre teoria e prática. Eu fui um dos alunos que passaram pelo Laboratório de DNA Forense durante a graduação. Há mais colegas que hoje são docentes da Ufal e que passaram pelo laboratório. Foi o primeiro passo para uma carreira dedicada à pesquisa e à docência”, lembrou.
Ele destaca que a disciplina foi idealizada pelo professor Luiz Antônio, atualmente aposentado e fundador do laboratório da Ufal. Durante as mais de duas décadas de coordenação do espaço científico, Luiz Antônio desenvolveu trabalho nessa área, com reconhecido destaque.
No ICBS, Dalmo Azevedo também leciona a disciplina Genética das Populações e atualmente coordena o projeto Identificação de Espécies Envolvidas nas Colisões de Aeronaves com Avifauna por Análise de DNA. Como o título sugere, o estudo tem como finalidade identificar por meio da análise do DNA as espécies de aves que colidiram com aeronaves. Adianta que, a identificação é feita a partir de vestígios de aves encontrados nas aeronaves.
“Com esse trabalho estamos dando apoio a um projeto da Universidade Federal de Santa Catarina que é financiado com recursos do Ministério da Infraestrutura. O estudo pretende fazer o mapeamento das espécies de aves que colidem com aeronaves com o propósito de traçar estratégias para a prevenção deste tipo de acidente”, enfatizou.
Integram também a equipe do laboratório os docentes Francisco Tovar e Carolinne Marques, além do técnico de laboratório Lucas Gomes. O professor Dalmo informa que, nas atividades em curso, a exemplo da acadêmica, o DNA Forense também faz divulgação da ciência por meio da rotineira visitação de alunos do ensino médio da rede estadual de ensino de Alagoas.
Ações em prol da sociedade e desafios
O Laboratório de DNA Forense da Ufal foi fundado em 1997 e, segundo Azevedo, apenas uma década antes havia surgido essa área da Genética, a Genética Forense, com os trabalhos do cientista inglês Alec Jeffreys. Na época, a Genética Forense estava sendo introduzida no Brasil. Segundo o pesquisador, foram feitas várias ações voltadas para o atendimento de demandas da sociedade que podiam ser atendidas pelo laboratório da Ufal
O coordenador aproveita para citar que as ações desenvolvidas incluíram: treinamento de peritos para coleta de amostras em local de crime, destinadas à análise de DNA, assim como, foram firmados convênios com a Secretaria de Segurança Pública para análise de DNA de amostras de local de crime, com o Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL) para a realização de exames de DNA em casos de investigação de paternidade de pessoas que não dispunham de recursos para o custeio do exame, e com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) para a formação de especialistas em Genética Forense do quadro de peritos das polícias Civil e Federal. Também foram realizados estudos populacionais para reconstituição da história da formação da população de Alagoas e de remanescentes de quilombolas por meio da análise de marcadores genéticos do DNA.
As ações realizadas pelo Laboratório da Ufal ainda contemplaram projetos de iniciação científica para o preparo de graduandos para a pesquisa; formação básica em genética forense para alunos da disciplina ministrada para a graduação; formação de alunos de mestrado e doutorado; divulgação da ciência para alunos do ensino médio que fizeram visita ao laboratório; além de outras colaborações que foram feitas entre a Ufal e institutos de criminalística de outros estados brasileiros.
Alguns desafios, segundo o coordenador, permearam a rotina das ações científicas realizadas pelo laboratório da Ufal, a partir do final de 2020. Atividades até então realizadas rotineiramente tiveram que ser interrompidas, devido à descontinuação da assistência ao analisador genético de DNA (sequenciador de DNA), que se tornou obsoleto.
No entanto, Azevedo aproveita para anunciar a perspectiva de retomada das atividades paralisadas, ainda deste ano: “Em 2022, numa reunião da equipe com deputado federal alagoano Paulão, que nos recebeu atenciosamente, ele se interessou por direcionar recursos de emenda parlamentar para a aquisição de um equipamento que substituísse o antigo. Acreditamos que até o meio deste ano os recursos estarão disponíveis para a realização da aquisição. Com isso, vários projetos de pesquisa e convênios voltados para o atendimento da sociedade alagoana poderão ser retomados”.
E comemora: “As atividades desenvolvidas no Laboratório de DNA Forense demonstram que a Ufal tem sido bem-sucedida em levar à sociedade alagoana os benefícios proporcionados pelo conhecimento científico”.
O Laboratório de DNA Forense da Ufal está localizado na Avenida Aristeu de Andrade, 452, bairro do Farol, no prédio que abriga a Usina Ciência da Universidade.