Estudante de Letras lançará livro de crônicas na Bienal do Livro de Alagoas

“Oxe, nem te Conto…” foi escrito por Felipe Neves e contará com recursos de acessibilidade

Por Deriky Pereira – jornalista
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Felipe Neves
Felipe Neves

Trilhas que vão do riso à emoção; da comoção ao medo; da raiva ao… “equiuvico”. Sim, você pode ter lido errado, mas é assim mesmo que Felipe Neves, estudante de Letras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), também conhecido como Peregrino Cego, define seu mais novo livro. O título? “Oxe, nem te Conto…”. Mas pode deixar que a gente conta – e ele também contou, várias coisas, inclusive, sobre o lançamento da obra, que será durante a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. A entrada é franca.

O livro conta com 35 crônicas e a maioria delas se passa em Alagoas ou ressalta algum aspecto puramente nordestino. Foi daí que nasceu o título, na intenção de trazer maior representatividade maceioense e, sobretudo, nordestina. “Oxe, nem te Conto foi feito com muito carinho. Nós trabalhamos dia e noite pensando em cada detalhe, tudo isso para presentear os leitores/as com uma obra deleitosa, acessível, simbólica, multimodal, didática e que nenhuma inteligência artificial será capaz de produzir”, contou Felipe.

A inspiração para criar a obra surgiu de uma das aulas que Felipe acompanhou na Faculdade de Letras (Fale), na disciplina Leitura e Interpretação de Textos Literários, ministrada pela docente Eliana Kefalás. “Lembro que a professora falou da história do gênero crônica, os tipos de crônicas; apresentou-nos alguns fatos noticiados e, na sequência, algumas crônicas baseadas naquelas notícias. Foi uma aula inebriante! E assim como fazemos com as coisas maravilhosas que vivenciamos, gravei aquelas aulas em minha memória”, recordou.

O estudante ainda lembrou que a correria não o impediu de produzir – quer dizer, ela até tentou, mas ele conseguiu empurrá-la para o canto. “Meses depois, cheio de trabalho e atividades acadêmicas, decidi parar tudo e escrever. Fiz isso por seis horas seguidas e, na sétima, descansei. Ou seja, o livro foi feito numa sentada. Eu já tinha tudo engavetado na cabeça, portanto, só precisei de duas coisinhas: algumas xícaras de café e sentar a bunda pra escrever, como disse Graciliano Ramos”, disse ele, bem-humorado.

Leitura totalmente acessível

Quando Felipe começou a escrita do livro uma coisa já era certa: ele seria totalmente acessível a todos, especialmente às Pessoas com Deficiência (PcD) visual assim como ele. Os trabalhos ganharam vida graças ao canal Pra Ver Ouvir no YouTube e o apoio da Permear Arte e Acessibilidade. E as audiodescrições foram gravadas pela estudante do 7º período do curso de Letras – Português da Ufal, Ienmily Araújo. Para ela, participar de todo o processo de revisão e audiodescrição das imagens foi uma experiência ímpar.

“Foram longos dias e noites de dedicação para lançar uma obra que pudesse adentrar em múltiplos espaços. Para isso, pensamos em cada detalhe: da multimodalidade como objeto educacional para ampliar a comunicação à integração do recurso de audiodescrição para Pessoas com Deficiência visual. Nossa iniciativa foi pautada em proporcionar inclusão no campo literário e cultural, que ainda carecem de ações pensadas de modo plural”, contou.

Além das 35 crônicas, o livro contará com imagens audiodescritas em texto e áudio que foram produzidas pela Pra Ver Ouvir, que disponibilizará as audiodescrições gravadas no YouTube e no Instagram. Os trabalhos também contaram com apoio da Permear Arte e Acessibilidade. “É importante ressaltar que todas as audiodescrições passaram por um processo de consultoria feito por uma pessoa cega com formação na área para validar a qualidade do serviço e, assim, entregar uma obra acessível aos leitores”, frisou a estudante.

O trabalho foi árduo, mas satisfatório. “Estamos muito felizes e realizados por reafirmarmos nosso compromisso com a acessibilidade e possibilitar o encontro do mundo artístico e literário com os mais diversos públicos! ‘Oxe, nem te Conto…’ é o livro de crônicas mais acessível que já vi, não tenho dúvidas de que os leitores vão amar essa obra linda! Eu a recomendo a todas as pessoas e, principalmente, aos professores, pois esse livro também contribui para uma educação mais significativa, plural e equitativa”, vibrou Ienmily.

Compromisso com o público

Segundo Felipe, além da audiodescrição, o livro, dentro e fora, contas com imagens que o inspiram de algum modo, além de QR-Codes que direcionarão o leitor para vídeos e sites que complementam as leituras das crônicas. Os detalhes continuam com os inúmeros floquinhos de neve espalhados pelas folhas.

Folhas essas que também contam com algumas lacunas nos textos para que os leitores e leitoras possam interagir até com a possibilidade de escrever o final que quiser em cada crônica. E pra quem gosta de fofoca… Não deve deixar de conferir o posfácio.

De acordo com Felipe, baseado em sua experiência como leitor cego, ele decidiu elaborar uma forma inédita na escrita dos textos. Como? Com pontuações grafadas por extenso. E ele garante: essa será a sua nova assinatura, ou melhor, a sua marca, o seu novo estilo de fazer literatura. “É bem provável que muitas pessoas vão estranhar ou se incomodar, assim como ocorreu na Semana de Arte Moderna, porém, não me preocupo, afinal, isto também é arte: provocar, inovar”, declarou.

E além do compromisso, Felipe Neves também fez questão de deixar alguns agradecimentos: “Aos meus amigos e amigas que colaboraram com este trabalho, à Companhia das Ideias pelo excelente serviço editorial e à jornalista Jacqueline Freire por sempre apoiar, divulgando e disseminando a minha poesia cega. Sem vocês, esse sonho tateável não seria possível”, finalizou o estudante.

Sim, mas quando será o lançamento?

Você que chegou até aqui e conheceu detalhes do mais novo livro de Felipe Neves pode estar se fazendo essa mesma pergunta. E é claro que nós não encerraríamos o material sem trazer os detalhes do lançamento, afinal, “Oxe, nem te Conto…” é apenas o título do livro.

E olha que bacana: o livro será lançado em mais de uma ocasião. A primeira, pela Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult) no domingo, 13 de agosto, às 18h, no estande da Biblioteca Estadual Graciliano Ramos.

Por último, mas não menos importante, “Oxe, nem te Conto…” também ganhará o público com lançamento na Sala Siriguela pela Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef), nos dias 16 e 17 de agosto, das 14h às 16h.

Tá vendo que a gente te conta? E o Felipe também conta. Mas não só isso, ele também te convida: “Essa é a minha primeira Bienal e com uma obra inédita, acessível, portanto, será muito mais significativo compartilhar esse momento com todos os peregrinos. Quero ver todos lá, hein!”