Estudante conquista medalhas em Campeonato Brasileiro de Karatê
Competição aconteceu em São Paulo e reuniu 3.600 participantes; Alagoas foi representada por 37 atletas e conquistou 16 medalhas
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A aluna do curso do Bacharelado em História da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Lauane Beatriz Silva Paixão foi medalha de ouro individual, e de bronze, por equipe, no 31º Campeonato Brasileiro Karatê Interestilos realizado de 12 a 15 de setembro, no Ginásio Mauro Pinheiro, em São Paulo (SP). A edição nacional contou com representantes de aproximadamente 20 estados da federação e registrou a participação de 3.600 atletas nas competições.
Luane conquistou medalha de ouro em limite individual adulto, categoria adulto B verde a vermelha, 18 a 35 anos 60 kg acima. Já a medalha de bronze (terceiro lugar) kumite foi por equipe feminina, categoria adulto branca a preta na mesma faixa etária. Além dela, mais três atletas formavam a equipe que foi premiada com medalha de bronze.
Sobre a dinâmica do karatê, a atleta explica: “Temos duas categorias para competir: kumite, que seria a luta e kata, que é uma execução da luta sem oponente. Em ambas categorias, compete-se individualmente e em equipe, com revezamento, separadas por gênero, feminino e masculino, idade e peso”. Ela aproveita para enfatizar que, o município onde nasceu e continua morando, também trouxe medalhas para Alagoas. “Satuba, obteve seis medalhas, duas de ouro e quatro de bronze, com seis atletas complementando a Seleção de Alagoas. Satuba se fez presente com o total apoio da prefeitura municipal, que não mediu esforços com os custos e auxílio da viagem”, fala com orgulho.
A seleção alagoana participou do campeonato com 37 atletas e logrou êxito na competição, conquistando 16 medalhas. Destas, quatro foram ouro, duas de prata e dez de bronze, o que correspondem, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiros lugares. Estreante na seleção estadual, Lauane também participou pela primeira vez do evento nacional e ao comemorar a conquista de duas medalhas, reforça: “Foi o meu primeiro campeonato brasileiro, porventura primeira vez complementando a seleção alagoana. Faço parte da Federação Alagoana de Karatê Interestilos (Feaki) e já participo de competições estaduais pela federação”.
Lauane Paixão tem 21 anos e cursa o sétimo período do Bacharelado em História, do Campus A.C. Simões da Ufal. Sua ligação com Satuba não é apenas por ser o lugar onde nasceu e continuar morando. Foi em seu município onde começou a prática de karatê, aos 15 anos de idade como participante do Projeto Karatê Satuba, quando ainda estava no ensino médio. Executado pelo sensei Alex Sandro (faixa preta 1º DAN), o projeto foi iniciado em 2016, tem como intuito proporcionar atividade física para os cidadãos e levar uma forma de incluir e dar oportunidades a novas pessoas por meio do esporte.
De acordo com a atleta, a ação conta com o apoio da prefeitura municipal e tem direta responsabilidade do sensei Alex. “Ele teve a iniciativa de criar o projeto com apoio do poder público local, porém, a prática de karatê em Satuba foi iniciada por ele, de forma independente, desde 2012. O sensei não mede esforços para executá-lo e ser cada vez mais uma atividade inclusiva”, afirma.
Karatê e benefícios à saúde
Sobre o que a despertou para a prática de karatê, diz que, inicialmente, sentiu-se motivada apenas pelo intuito de exercitar o corpo e a mente. Aproveita para falar um pouco da comprovação de benefícios que o esporte trouxe para a sua saúde física e mental. “Eu não praticava nenhuma atividade física e sofria com dores nas articulações e ossos. Sou diagnosticada com depressão e déficit de atenção, em uma relação conjunta. O esporte foi me conquistando em quesitos que há tempos não me sentia bem ou com disposição”, destaca.
Ela acrescenta que, na positividade da prática estão a disciplina e a rotina imposta, onde se faz necessário ter foco para poder evoluir e prosseguir. “Levando em consideração que o karatê tem como um grande ponto disciplina e repetição, a convivência com os meus amigos de treino me ajudaram muito no que se refere à socialização e criação de novos laços. Atualmente me encontro na faixa laranja e não me vejo mais sem o esporte que já faz parte primordial na minha vida”, afirma.
Lauane diz que, o karatê proporciona uma mudança de vida, em quesitos físicos e mentais, onde deve-se seguir as regras e hierarquias de dojo (local de treinamento), do mais graduado ao menos graduado, sem distinções ou qualquer preferência. Todos no tatame se tornam iguais e estão ali para aprender, evoluir e praticar o esporte. “O karatê é o esporte que não se começa sabendo ou de maneira rápida consegue-se algum resultado. O trabalho é árduo e repetitivo, a cada treino aprende-se e conserta-se algo. É preciso se dispor a aprender e treinar com uma disciplina, resiliência e paciência em entender que tudo é um processo que apenas colherá os resultados aqueles que persistirem e permanecerem”, conta.
E aproveita para destacar que o lema popularmente conhecido no karatê é: "Até o limite do corpo eu sou atleta, após isso eu sou karateca". Diz ser esse o lema do Projeto de Karatê Satuba, diariamente pregado pelo sensei Alex. A atleta reforça que, independente do estado mental, o karatê exige que se esvazie a mente para poder focar e aprender no treino fazendo com que no final se saia totalmente diferente da que se entrou.
Sobre obstáculos enfrentados em sua trajetória, que exigiu mutia disciplina e dedicação, permeada por incertezas e insegurança, diz: “Particularmente, minha trajetória no karatê foi árdua, sem talento ou qualquer habilidade excepcional, de domingo a domingo treinando até em dias fora do projeto, com o auxílio de amigos de treino que sempre se dispuseram a ajudar. Ano passado eu me perguntava se algum dia eu iria para um campeonato brasileiro. Esse ano participei pela primeira vez, conquistando duas medalhas e uma delas sendo ouro”, relembra mais uma vez o começo de tudo e comemora os exitosos degraus galgados.
E, nessa sua nova realidade de atleta premiada, além da alegria, planos para cada vez mais consolidar sua trajetória: “A ficha ainda não caiu. Agora o assunto é mundial e é muito louco pensar o quão longe o karatê, a minha persistência, foco, determinação e paciência me levaram. Não posso esquecer das vezes que a depressão quis me sabotar, tomando a frente com pensamentos inseguros de "e se eu não conseguir" ou falta de motivação. Parte que devo agradecimento especial a psicóloga que me acompanha, a minha família, ao sensei Alex e aos amigos que nunca me abandonaram nessa caminhada e nunca deixaram de acreditar em mim, mesmo quando eu mesma duvidava. Agradeço também a mim por, mesmo com tantos conflitos, não ter deixado de ir aos treinos, às competições e persistir no karatê”, diz emocionada.
Futuro
Na continuidade das emoções, sobre a sua mais recente conquista, a vitória individual e por equipe dedicou especialmente ao seu avô, que por ser acometido por Alzheimer, não pode viver com ela essa caminhada. Disse que, ao retornar do campeonato, chegando em casa pendurou as medalhas de ouro e de bronze no pescoço do avô, o que foi para ambos, um especialíssimo momento de comemoração.
No campeonato, a primeira reação após a vitória, no individual, onde conquistou o primeiro lugar, foi chorar devido a todo processo vivido até chegar ali. “Mesmo sem acreditar, por me sentir insegura, que seria capaz de conquistar alguma medalha, não desisti de participar do campeonato brasileiro, ao mesmo tempo em que aquela oportunidade também era fruto da minha dedicação e empenho. Foi um momento muito especial na minha vida, por também ser a minha primeira viagem fora do de Alagoas. Tudo proporcionado pelo karatê”.
E complementa, dizendo: “Saber o quão longe eu posso chegar é gratificante, o caminho que posso conquistar pela frente, as possibilidades, e tudo isso fazendo o que eu gosto e amo não tem preço. A medalha é a materialização de tudo isso. Subir naquele pódio foi toda uma caminhada por trás levando o nome do meu estado e cidade, levando o meu nome e do karatê. Com certeza a Lauane nunca imaginaria isso”.
Sobre a graduação em História que em breve concluirá na Ufal, também exercê-la profissionalmente, faz parte de seus planos: “Por gostar das duas áreas, até o momento a intenção é de atuar em ambas. Quem sabe proporcionar uma perpetuação da história do karatê alagoano! As ambições para o futuro seguem lado a lado em focar nas duas áreas”.