Egressa da Ufal estuda impactos psicossociais da desinformação

Myllena Diniz, egressa do PPGCI, vai expandir no doutorado do Ibict a pesquisa realizada na universidade

Por Thâmara Gonzaga - jornalista
- Atualizado em
Myllena Diniz, egressa do PPGCI, vai expandir no doutorado do Ibict a pesquisa realizada na universidade
Myllena Diniz, egressa do PPGCI, vai expandir no doutorado do Ibict a pesquisa realizada na universidade

Muitos dados e narrativas disponíveis, com a possibilidade de acessar histórias verdadeiras e falsas também. O acesso à internet mudou a forma de as pessoas se informarem e as pesquisas acadêmicas estão atentas a esse fenômeno. A mestra pelo Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Myllena Diniz, é uma dessas pesquisadoras e abordou o tema em sua dissertação, intitulada Os impactos da desordem informacional para o fenômeno da infodemia: uma análise dos discursos políticos sobre a covid-19.

“O meu trabalho faz uma reflexão sobre as contribuições da desinformação para um problema de ordem social, que foi acentuado pela pandemia: a infodemia, aquilo que, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), é considerado uma ‘epidemia da informação’, um fluxo exacerbado de informações – fidedignas ou não”, explica.

Formada em jornalismo pela Ufal, Myllena conta que foi o compromisso ético e social com a profissão e a informação que a motivou a se dedicar ao estudo. “A humanidade já enfrentou crises sanitárias semelhantes, como a Peste Negra e a Gripe Espanhola, mas, em nenhuma delas, nos deparamos com um fluxo informacional tão exponencial como o da contemporaneidade. A pandemia da covid-19 foi marcada por um ‘boom’ de conteúdos – verdadeiros, falsos, retirados de contexto e manipulados – que nos colocou em um panorama de permanente instabilidade e desconfiança”, explica.

Ao realizar o trabalho, ela conta que buscou reforçar a importância da informação de qualidade para a condução eficaz e eficiente de políticas públicas, pois, acrescenta a pesquisadora, “a desinformação tem servido a projetos políticos antidemocráticos, autoritários e negacionistas”.

“Esse estudo demonstra como a informação, a desinformação e a ideologia devem começar a ser pensadas como possíveis determinantes sociais de saúde. Esses temas precisam, urgentemente, entrar na pauta da saúde pública, para que pensemos estratégias de combater a desinformação, que já é considerada um fator de adoecimento físico e mental da população”, analisa.

Continuidade da pesquisa

Ainda no mestrado, Myllena percebeu as chances de continuar a pesquisa e participou da seleção para o doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), desenvolvido em cooperação entre o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) e a Escola da Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Reconhecido pela excelência, o programa é nota seis pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

“Fui aprovada no doutorado antes mesmo de defender minha dissertação de mestrado. Precisei correr contra o tempo. Defendi a dissertação numa semana e iniciei as aulas na semana seguinte, cinco dias após ser aprovada com louvor do mestrado e ter meu trabalho indicado pela banca a concorrer ao Prêmio Nacional de Melhor Dissertação do Ano da Ancib [Associação Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação]”, conta.

Em março, ela mudou para o Rio de Janeiro e relata que o foco é estudar e expandir a pesquisa para identificar os impactos psicossociais da desinformação, considerando informação e ideologia como possíveis determinantes sociais de saúde.

“As expectativas são as melhores possíveis. O programa é o segundo melhor do país, com nota 6, então está categorizado como um programa de excelência. Além disso, a cooperação com o Ibict, referência nacional na área da informação, nos permite pensar numa ciência aplicada”, comenta.

Experiência internacional

O tema de pesquisa trabalhado por Myllena, aliado à sua capacidade de trabalho, a fez ser a primeira aluna do PPGCI da Ufal a participar da internacionalização do programa. Ela fez intercâmbio como pesquisadora convidada no Departamento de Patrimônio Artístico e Documental da Universidad de León e no Instituto de Estudios de Género da Universidad Carlos III de Madrid, ambos na Espanha. “Desde que fui aprovada no mestrado, alguns professores do programa sinalizavam o potencial de internacionalização da minha pesquisa. Iniciamos as tratativas para possíveis cooperações. E, para isso, foi indispensável o empenho do meu orientador, professor Marcos Prado, que encabeçou toda a articulação”, relata.

Na Universidad de León, ela conta que colaborou com a disciplina de Informação e Meios de Comunicação, por meio de palestras e aulas sobre infodemia, desinformação e meios de comunicação, sob a supervisão do professor Daniel Martínez-Ávila. Já na Universidad Carlos III, sob supervisão da professora Rosa San Segundo, participou do desenvolvimento do Seminário Ibero-americano de Informação e Estudos de Gênero, que visa debater, entre pesquisadores da Espanha, de Portugal, do Brasil e de toda a América Latina, temáticas de gênero, com enfoque no feminismo e no enfrentamento da violência contra a mulher.

Ainda na Europa, Myllena participou da 6ª edição do Congresso Medicina e Informação, na Universidade do Porto, em Portugal. Ela apresentou, com a professora Rosaline Mota, coordenadora do PPGCI da Ufal, o trabalho Rede Nacional de Dados e os desafios da interoperabilidade entre os sistemas de informação na rede de atenção do Sistema Único de Saúde no Brasil, que também contou com a coautoria do mestre pelo PPGCI da Ufal, Luiz Tenório. As experiências na internacionalização também originaram um artigo de autoria da doutoranda e publicado na revista científica espanhola Scire: Representación y Organización del Conocimiento. Elaborado em parceria com pesquisadores da Universidad de León (Espanha) e da Universidade de Coimbra (Portugal), a publicação tem como título El análisis pecheuxtiano del discurso: uma propuesta metodológica en el ámbito de las ciências de la información e pode ser conferida neste link.

Recentemente, em junho deste ano, ela apresentou trabalho no 14° Encontro de Diálogos da Ciência da Informação (Edicic), na Universidade de Lisboa, sobre a análise do discurso do governo brasileiro no primeiro mês da pandemia da covid-19.

Trajetória na Ufal

Formada em jornalismo pela Ufal, a egressa recorda as oportunidades de formação profissional e acadêmica que teve por ser estudante da Universidade, a exemplo do intercâmbio para o México e o estágio na Assessoria de Comunicação (Ascom).

“A Ascom foi uma escola, foi o local no qual aprendi a ser jornalista, onde pude respirar a Universidade e ver, de perto, todas as oportunidades que a academia é capaz de proporcionar. Foi aqui que pude relatar histórias de transformação por meio do ensino”, contou.

Filha e neta de professores do ensino superior, destaca que a realidade do ambiente universitário sempre fez parte da vida dela. “Minha família é exemplo do poder transformador da educação. E a Ufal, especificamente, presenteou-me com uma formação, uma profissão e com duas mobilidades para o exterior”, reconhece.

E conclui: “Digo, com muita convicção, que a universidade me permitiu realizar os grandes sonhos da minha vida, desde aquele primeiro, que foi ver meu nome na lista de aprovação do vestibular numa universidade federal!”