Caloura destaca os desafios para ingressar na Ufal após 20 anos longe dos estudos
Aos 44 anos, Quitéria foi aprovada e está cursando Geografia

Sempre que começa um semestre com entrada de novos alunos, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) recebe pessoas que têm histórias para contar. São calouros e calouras que superam deficiências, situações de vulnerabilidade social e muitos outros obstáculos para cursar uma graduação e buscar mais qualificação. Nesta entrevista, vamos conhecer a Quitéria Leite da Silva Santos. Sua história é um exemplo de persistência e superação.
Nascida no interior de Pernambuco, Quitéria mudou-se para Alagoas ainda criança. A necessidade de ajudar a família a sustentar a casa fez com que ela interrompesse os estudos por longos períodos. Aos 13 anos, Quitéria deixou a escola para ajudar a mãe a cuidar dos sete irmãos mais novos. As dificuldades financeiras da família impediram que ela frequentasse a sala de aula.
Mas aos 33 anos, ela decidiu que era hora de retomar os estudos. Agora, aos 44, ela comemora a conquista de uma vaga no curso de Geografia (Licenciatura), na Ufal. "Sempre tive o sonho de terminar os estudos, mas a vida me levou por outros caminhos. Trabalhei, casei, tive filhos e adiei esse sonho por mais de 20 anos”, conta.
O ponto de virada veio quando seu filho mais novo completou seis anos. Decidida a retomar os estudos, Quitéria se matriculou na Educação de Jovens e Adultos (EJA) para concluir o ensino fundamental e, posteriormente, o ensino médio. "No início, meu objetivo era apenas terminar o ensino médio. Mas, quando concluí, percebi que o sonho de fazer um curso superior ainda estava vivo em mim", relembra.
Em 2019, ela fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e obteve uma nota que permitiria sua entrada na Ufal na segunda chamada. No entanto, por desconhecimento, perdeu o prazo para a matrícula. "Foi um momento muito difícil. Cheguei a pensar em desistir, mas logo me dei conta de que não poderia ser um exemplo de desistência para meus filhos", afirma.
Determinada, em 2023, ela tentou novamente o Enem e, desta vez, conseguiu garantir sua vaga na Ufal, sendo convocada na chamada na convocação do segundo semestre da Seleção Unificada (Sisu) de 2024. "Foi uma mistura de alívio e felicidade. Saber que todo o esforço valeu a pena é indescritível", comemora.
Quitéria destaca que o apoio da família e de professores foi fundamental para sua jornada. "Conheci um professor que me apresentou o curso de Geografia e me encorajou a seguir em frente. Foi amor à primeira vista. Decidi que era isso que eu queria fazer. Agradeço a Deus por não deixar meu sonho morrer e a todos que me apoiaram. Nunca é tarde para recomeçar e buscar o que nos faz felizes", finaliza.