Comunidade acadêmica discute segurança pública em audiência pública
Atividade teve como principal objetivo ouvir docentes, técnicos e estudantes sobre as especificidades relacionadas aos problemas envolvendo a segurança no Campus

Dando continuidade às ações que buscam discutir e reunir possíveis soluções para a sensação de insegurança no Campus A.C. Simões da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a Associação dos Docentes da Ufal (Adufal) promoveu, na tarde da última quinta-feira (20), no auditório Vera Rocha, uma audiência pública aberta à comunidade acadêmica.
A atividade teve como principal objetivo ouvir docentes, técnicos e estudantes sobre as especificidades relacionadas aos problemas envolvendo a segurança no Campus.
Para colaborar com o debate construtivo e qualificado, a Adufal convidou especialistas nas áreas de segurança pública, ciências sociais, assistência social e Direito, que fizeram uma exposição breve no início da audiência. Em seguida, foram abertas as inscrições para as contribuições da comunidade acadêmica.
Participaram da exposição inicial Iran Rêgo, tenente-coronel e chefe de Políticas de Prevenção da Secretaria de Segurança Pública (SSP); Emerson do Nascimento, cientista político e professor do Instituto de Ciências Sociais (ICS); Alessandra Costa, assistente social, servidora da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e presidenta do Sindicatos dos Assistentes Sociais do Estado de Alagoas (Saseal); e Hugo Leonardo Santos, professor da Faculdade de Direito de Alagoas (FDA) e coordenador do Grupo de Pesquisas Biopolítica e Processo Penal. Os debates foram mediados pela vice-presidenta da Adufal, Irailde Correia.
De início, o professor Hugo Leonardo Santos apontou a importância de que sejam realizadas ações tanto para aumentar a sensação de segurança, como também a segurança efetiva.
“Digo isso porque, às vezes, a sensação de segurança não está diretamente relacionada à insegurança que se concretiza, de fato. Às vezes, há um sentimento de insegurança que pode não corresponder exatamente às ocasiões de ilícitos ou de eventuais que são realizadas”, pontuou o doutor em Direito Penal.
Por sua vez, a assistente social Alessandra Costa falou sobre a ligação entre a saúde mental das pessoas e a sensação de insegurança, uma vez que esta influencia diretamente no adoecimento mental daqueles indivíduos que se sentem inseguros.
“No senso comum, a segurança pública é uma questão de polícia, quando, na verdade, não é uma questão só de polícia, é uma questão de estado, é uma questão que diz respeito ao conjunto da sociedade. Não dá para a gente discutir segurança pública e saúde mental sem discutir um processo de retrocesso que foi vivido no Brasil, de 2016 até 2022, com a desconstrução e a destruição das políticas públicas, seja na área da saúde, de educação ou de assistência social”, disse a presidenta do Saseal.
Em seguida, o professor Emerson dos Santos fez uma abordagem mais analítica, comparando, inclusive, a incidência de casos de violência nas regiões do entorno do Campus A.C. Simões. Segundo o doutor em Ciência Política, os casos criminais em bairros próximos são relativamente altos, considerando os números de toda Maceió, contudo, dentro do Campus universitário a incidência é muito baixa, o tornando um ambiente seguro, sob esse viés.
“Pensando do ponto de vista mais analítico e científico, eu fiz um experimento de saber o que é que tem sido publicado sobre segurança no Campus em outros estados e, para a minha surpresa, não tem quase nada. Não é um objeto pulsante de estudo da tecnologia, das ciências sociais, nem da psicologia. O que coloca a gente em uma condição até mais experimental nesse sentido, onde a gente vai ter que ir tentando aprender, talvez, com alguns exemplos de como as outras instituições fazem sobre isso”, argumentou o docente.
Encerrando as contribuições dos especialistas convidados, o chefe de Políticas de Prevenção da SSP, tenente-coronel Iran Rêgo, disse que a sensação de insegurança é um problema multifatorial, desta forma, a resolução cabe à vários agentes.
“A repressão qualificada e a apreensão são conectadas, as quais têm que ser pensadas juntamente com a questão da estrutura e do controle de acesso da vigilância natural no Campus, que está juntamente atrelada, também, com a iluminação”, finalizou.
Participação da comunidade
No momento de debates, entre as principais pontuações mencionadas na audiência, muitas foram relacionadas à questão estrutural da universidade, que carece de iluminação, de poda de árvores, entre outros detalhes, além de reforçarem que a mudança no transporte público dentro do Campus é um fator que eleva muito a sensação de insegurança da comunidade, sobretudo para as mulheres.
“Caso seja feito um levantamento para os estudantes escolherem entre um Restaurante Universitário (RU) de qualidade, um transporte – com a entrada dos ônibus de volta -, e a entrada da PM [Polícia Militar] no Campus, acho que eles vão preferir tanto o RU, quanto o transporte. Então, são questões de segurança que precisam ser levadas a sério, porque se a gente modifica as questões estruturais aqui da Ufal, dificilmente vamos pensar em ter a Polícia Militar aqui dentro”, relatou Ismael, estudante de psicologia da Ufal.
As propostas e relatos apresentados na audiência pública e na reunião com docentes do Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte (Ichca), realizada na última quarta-feira (19), serão apresentados pela Adufal para a Gestão da Ufal, em reunião futura, além de servirem para compor o debate em sessão do Conselho Universitário (Consuni).
“A proposta da audiência pública é de, verificando a complexididade do problema, tentarmos encontrar soluções conjuntas com parceiros externos à nossa Universidade, porque a Ufal, sozinha, não vai conseguir resolver os problemas que estamos vivenciando há muitos anos”, discursou o presidente da Adufal, Jailton Lira.