O que faço Além da Academia: Maria Tereza Araújo

Professora da Ufal há 28 anos, ela dedica um pouco do tempo livre às artes plásticas


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Prof. Tereza mostra seus trabalhos na sala do IF
Prof. Tereza mostra seus trabalhos na sala do IF

Bruno Cavalcante – estudante de jornalismo

O papel e a tela imprimem o resultado da expressão livre e intuitiva da mente da artista. Dos traços geométricos à ausência de rigidez, os desenhos e as pinturas da professora Maria Tereza de Araújo, do Instituto de Física (IF), nascem das curvas e de motivos inspiradores diversos. Sem preocupação com o valor artístico de suas obras, a servidora, que em 2012 completa 28 anos de docência na Ufal, nunca frequentou uma escola de artes para se apropriar de uma técnica que a auxiliasse em suas criações estéticas.

As mãos dão forma às imagens criadas na mente da docente. Além do material convencional do desenho e da pintura, ela tem em casa um pirógrafo (aparelho elétrico para gravação a partir do calor) que permite soltar sua criatividade enquanto a madeira é queimada. “Adoro o cheiro de madeira queimando”, disse a professora.

Tereza não se recorda quando começou a desenhar. Mas, desde criança, sua imaginação ganhava forma em seus cadernos. As anotações retiradas da lousa  recebiam a companhia de vários desenhos, dentre eles, os professores, representados naquelas folhas pautadas enquanto ministravam as aulas. Essa atitude tinha a reprovação de seu irmão mais velho: ele acreditava que desta forma a jovem estudante estragava o material escolar.

A pintura surgiu na vida de Tereza mais por curiosidade. Ela recorda que ainda na infância, quando passava por papelarias, gostava de olhar as bisnagas de tinta e as canetas de nanquim. “Meu sonho não era ter uma bicicleta ou uma boneca, por exemplo. Eu via aqueles materiais e desejava ter uma maleta com todos os lápis de cor, aquarelas, pincéis e tubinhos de tintas”, relembrou a professora.

Até hoje, diz nunca ter realizado esse sonho de consumo. “Acho que nunca comprei essas ferramentas, porque nunca busquei me profissionalizar. Era o medo de não saber usar e de jogar dinheiro fora”, completou.

Embora a pintura lhe desperte uma sensação estética prazerosa, ela não ganhou a mesma atenção que o desenho ao longo dos anos. Foram apenas algumas experimentações de pintura a óleo sobre a tela, colorações em biscuit e nada mais.

Transpondo gêneros

Para desenhar, a professora Tereza se apropria de diversos materiais: lápis, canetas nanquim, canetas coloridas de gel e as mais variadas gramaturas e texturas de papel. Quando as mãos livres ganham seu espaço sobre o papel os traços curvos que surgem não se preocupam com os erros. Na verdade eles não existem, sempre viram alguma coisa no conjunto visual ao final.

A simetria é uma característica muito presente nos desenhos da professora. Quando começa a riscar o papel, ela inicia sempre por uma das pontas e vai delimitando o espaço sem medir as bordas, mantendo as mesmas distâncias dos limites da folha.

Além de artes abstratas, a "professora-artista" trabalha com os corpos humanos enaltecendo algumas partes que lhe inspiram numa nova obra. Corpos nus femininos são representados por meio da exaltação dos volumes e formas, sem recorrer para exposições da genitália com teor pornográfico. “Prefiro desenhar mulheres a homens por causas da anatomia feminina. Ela dá a possibilidade de mudanças, já o corpo masculino não tem tanta variação”, explicou.

O humor também é recorrente no trabalho de Tereza. Fatos corriqueiros da sua vida e de seus colegas do Instituto de Física são as referências nas charges e caricaturas que a docente cria. Muitas delas são expostas nos murais do bloco do curso. Ela observa as características sutis de seus amigos e os retrata em caricaturas.

Influência na arte

Quando começa a criar, Tereza não busca inspiração em temáticas específicas ou em algum artista. “Eu sento e aí o que sair, saiu! Às vezes eu penso no que quero. Questiono-me: por que quero fazer isso?”, relatou. A paisagem litorânea do povoado de Barra Nova, em Maceió, foi representada em suas obras durante os 20 anos que ela residiu por lá. "O ambiente acabava influenciando, porém não via nos hibiscos, coqueirais e na praia, por exemplo, inspiração para o desenho".

Da abstração de Kandinsky ao colorido do surrealista Miró, os desenhos ganharam suas influências ao acaso. “Eu já trabalhava com muita cor quando conheci Joan Miró. Uma amiga olhou alguns trabalhos meus e associou a esse artista. Isso parece um Miró, disse ela à época”, contou.

Porém, dois artistas visuais influenciaram bastante nos desenhos de Tereza: o catalão Salvador Dalí e o pernambucano Romero Britto. Ela busca nas obras do espanhol a tridimensionalidade (altura, largura e profundidade) e o seu humor sarcástico ao representar mundo. “Você percebe que sempre há alguma coisa por trás da pintura dele, isso é muito interessante de analisar. Outra coisa, ele não esquece os detalhes, nada é sugerido: uma boca é uma boca, um rosto é um rosto”, explicou.

Os traços, as bolinhas, as paisagens e as pessoas frequentes nos trabalhos do artista brasileiro atraem a atenção de Tereza e influenciam quando ela pega nas canetas sob o papel. “As flores que ele desenha não são reproduções das reais, não tem nada de realidade no que ele faz”, disse. Enquanto essas características parecem inconciliáveis, Tereza pondera: “No que gosto da realidade de Dali, gosto também da irrealidade de Britto”.

Valor da obra

Os trabalhos de Tereza sempre ficaram reclusos aos seus amigos e familiares. Ela não faz seus trabalhos pensando no julgamento de outras pessoas, tanto que não costuma mostrá-los. Como geralmente se faz em artes plásticas, diversas obras são submetidas à avaliação artística e comercial, porém a docente nunca pensou nessa hipótese. “Nunca pensei em avaliações do que faço, tanto que escondia das pessoas. Não sei se eu saberia acolher as críticas de forma quando fossem avaliar a técnica, já que com ela eu não me preocupo. O valor do que faço é de caráter pessoal, é uma coisa que me completa”, explicou.