Maria Marluce se despede do HU com nostalgia

A técnica de laboratório deixa a função com saudade das amizades que construiu durante 32 anos


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Sorriso é marca registrada de Marluce | nothing
Sorriso é marca registrada de Marluce

Manuella Soares - jornalista

Encontrar a nossa aposentada do mês nos corredores do Hospital Universitário não foi uma tarefa difícil. Era só dizer o nome dela e qualquer pessoa indicava o caminho. Maria Marluce estava no lugar onde se sente em casa: o setor de atendimento do Laboratório de Análises Clínicas. O largo sorriso aos pacientes que presenciei explicou o tamanho da popularidade da técnica de laboratório.

A missão mais árdua foi parar poucos minutos para fazer a entrevista sem que alguém interrompesse com um cumprimento, um abraço ou um aceno de bom dia para aquela mulher que sempre retribuía o carinho da mesma forma, deixando abrir naturalmente o sorriso mais conhecido do HU.

Desde a década de 80, por 24 anos, realizou a função de técnica dentro do laboratório, mas há pouco mais de oito anos um antigo chefe despertou para a qualidade indiscutível de Maria Marluce em lidar com o público. Foi aí que ela passou a coordenar o atendimento do local, na porta da frente, em contato direto com todos que precisam ser encaminhados para os exames clínicos.

Para Marluce, ainda é penoso pensar na aposentadoria. “Passei minha vida toda dentro desse hospital. Nunca pensei que pediria para sair, ainda não sei o que vou fazer a partir de agora”, disse.

Decidir a hora de parar de trabalhar foi tão doloroso quanto lembrar o que vai deixar para trás. Ela desfez o sorriso e se rendeu às lagrimas ao contar algumas histórias vividas nos corredores do HU. “Vou levar tanta coisa daqui. Fiz muitos amigos e tenho certeza que fui útil para muita gente. Nunca olhei de forma diferenciada para um ou outro. Para mim, gente é gente, ninguém é melhor do que ninguém”, disse a servidora, com a emoção de quem já sente saudade.

Marluce ressalta o tempo todo o amor pelo que fez a vida inteira e diz que adora acordar para ir trabalhar no hospital e que até hoje não sabe como agradecer a Deus pelo emprego conquistado. Mas o que ela cultivou durante anos, foi reconhecido e materializado numa homenagem que é motivo de orgulho. A placa fixada na parede da recepção do laboratório leva o nome dela como dedicação ao local, onde passou os melhores anos de trabalho. O “Espaço Maria Marluce” traduz todos os frutos da semente plantada.

As despedidas e a saudade

A notícia da aposentadoria de Marluce pegou muita gente de surpresa. “Que história é essa? Ela vai embora? Meu deus, vai fazer muita falta. Ela é um exemplo para a gente, todo mundo gosta dela e quem vai perder mais são os pacientes”, falou Maria Isabel, colega de trabalho há 16 anos.

Marluce já viu muita gente entrar, ir embora, acompanhou o crescimento de alguns; as despedidas de outros; superou a ausência de colegas que morreram; comemorou o nascimento dos filhos dos amigos servidores e fez também parte da história das pessoas.

Uma, em especial, quem relembra é a atual chefe e amiga, Vânia Marcelino. Ela conta que chegou quando chegou ao Hospital Universitário, para se apresentar ao trabalho, foi logo recebida por Maria Marluce, que ajudou a nova colega a se ambientar. “Eu entrei pelas mãos dela, ela me conduziu para o trabalho e, mesmo nesses 30 anos de convivência, nunca mudou, sempre foi essa pessoa dedicada, amiga, companheira, simples, então para mim foi uma honra ter tido Marluce ao meu lado”, disse a colega.

Vânia também relata que a hierarquia nunca atrapalhou o bom relacionamento das duas. “Ser chefe dela é a coisa melhor que existe, porque ela é o exemplo de dedicação pelo setor, atende de forma humanizada, é responsável e acima de tudo, tem amor ao que faz. Vai fazer falta como amiga particular e para o HU, porque a imagem dela se tornou um ícone para o hospital”.

Dom de servir

Aos 68 anos, a mãe de cinco filhos, avó de nove netos e bisavó de uma menina de um ano, terá muito tempo para seguir a profissão de matriarca, mas essa não é a única prioridade para os dias de aposentadoria. Maria Marluce quer se dedicar ainda mais ao trabalho, numa igreja carente do bairro onde mora.

A servidora disse que trabalhou durante 32 anos no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, mas vai deixar de atender aos pacientes do laboratório, para ajudar, feliz, outra comunidade que também precisa da melhor qualidade de Marluce. “Eu me acho serva, tanto aqui como na minha igreja. Eu acredito que nasci pra servir. Todo mundo tem um dom, alguns têm o dom da palavra, outros, o de curar, Deus me deu o dom de servir.”