O tempo é a receita para conquistas
A arte de cativar pessoas parece ser o segredo de Carminha, da Proest
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Bruno Cavalcante – estudante de Jornalismo
A trajetória de Maria do Carmo Leite Azevedo se confunde com a história da Ufal. Carminha da Proest – para os da casa – coleciona fatos que a ajudaram a ter personalidade profissional e pessoal. Como numa colcha de retalhos, a servidora compreende que o trabalho depende das escolhas certas de “tecidos” e “costura apurada”. De professora de línguas de escolas maceioenses à técnica em assuntos educacionais, ela considera que diversas oportunidades surgidas na vida a conduziram à universidade. “Tenho 38 anos vividos de momentos inesquecíveis, que marcaram a minha existência enquanto servidora pública”, avaliou.
Carminha tem no currículo atividades voltadas aos alunos. Antes de atuar na Pró-reitoria Estudantil (Proest), onde está há 12 anos, já trabalhava junto a programas para monitores e estudantes em outra coordenação. “É muito bom estar aqui. Gosto de trabalhar com pessoas, principalmente com estudantes”, disse. Em 1974, ainda aluna do curso de Letras e recém-concursada, estudava e trabalhava no antigo Campus Tamandaré, no bairro Pontal da Barra, onde hoje funciona o Detran.
- Por que fez Letras? - “É uma história tão longa... (risos)”. De fato, uma escolha que explica a dedicação à Ufal. No momento que Carminha começaria a contar, o telefone toca. Ela atende. Do outro lado da linha, um colega das antigas. Eles estavam acertando os detalhes da festa de comemoração dos 50 anos da turma concluinte do ensino médio. Ela lembra com saudosismo e agradece ao rigor do ensino na Escola Estadual Liceu Alagoano. “Lá, a gente aprendia mesmo a escrever, não era como é hoje. Éramos educados a ler com entonação. Atualmente, é uma vergonha ouvir alguém lendo um texto em público”, disparou.
Vocação
Embora fosse nato à facilidade para redigir, foi alfabetizando crianças que Carminha percebeu sua vocação para educar. A identificação ocorreu no educandário de sua “tia de leite”, Laura Dantas, que a convidou para ensinar durante uma temporada. “Eu sentia uma grande emoção quando via um garoto lendo e escrevendo o próprio nome”, relembrou. Sexta colocada no concurso para o Estado, a professora de línguas, Carminha, se realizou em sala de aula.
A servidora contou que a perseverança a trouxe à Ufal. No primeiro concurso para vaga de datilógrafa (equivalente à atual digitadora, na era dos computadores), ela não foi aprovada no exame prático. Nervosismo e falta de habilidade no manuseio da máquina tiraram dela aquela oportunidade. “A máquina que me deram era horrorosa. Quando eu baixava a maiúscula o cilindro subia, eu não via as letras no papel. Só consegui escrever meu nome”, recordou aos risos. A conquista veio depois, no concurso para assistente administrativo.
Amante de “O pequeno príncipe”, do escritor francês Antonie de Saint-Exupéry, Carminha aprendeu a lição da raposa: “se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro”. Na Ufal, a servidora viveu altos e baixos, porém cativando pessoas conseguiu transpor obstáculos. Recorda que sofreu com a intransigência de uma chefa, porém a esta deve o zelo pelos trabalhos bem feitos. “Quando eu errava ou ela (a chefe) não gostava do documento que eu tinha elaborado, apenas pedia desculpa e voltava a fazê-lo”, declarou.
Em sua memória também estão obras de William Shakespeare e o romance “Éramos seis”, da brasileira Maria José Dupré. Embora Carminha tenha uma diversidade de leitura e escrita aguçada, nunca se dedicou à composição de histórias próprias. “Hoje me projeto em meu neto. João Victor já lançou um livro, ‘Voe com responsabilidade’. Acredito que já passei do tempo de escrever”, lamentou.
Duas formações
A vida virtual das redes sociais não atrai Carminha. Acredita ser uma exposição desnecessária. Confessa também ser avessa a mudanças. “Eu tinha muita dificuldades de me adaptar a elas. Hoje vejo as transformações como necessidade”, retrucou. Mais de três décadas na Ufal, ela coleciona duas formações acadêmicas – Letras e Direito, este último nunca exercido – e a função de mestre de cerimônia, vinda ao acaso. Na colação de grau de uma formatura de Direito, o professor Paulo Lobo, coordenador do curso à época, preteriu um jornalista contratado e nomeou Carminha, ali mesmo, oradora do evento. De lá para cá, já são 17 anos.
Avaliando até aqui, Carminha não se arrepende de ter optado pela universidade quando deixou para trás quadro e giz das escolas. Subindo as escadas, indo em direção à copa do gabinete da Reitoria, ela revelou que planeja parar. “Devo me aposentar no próximo ano, certamente buscarei novos horizontes, novas linhas de ação, porém, a marca dessa instituição será eterna. Sei também que a ‘Carminha’ não será esquecida, pois eu ‘sou Ufal’”, finalizou.