O que você quer ser quando se aposentar?


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Neste artigo o psicólogo Flávio Costa fala sobre a importância de se pensar no Dia do Aposentado
Neste artigo o psicólogo Flávio Costa fala sobre a importância de se pensar no Dia do Aposentado

Comemora-se o dia do/a aposentado/a em 24 de janeiro. Cabe refletir sobre esse marco no calendário, ainda que surjam alguns questionamentos sobre quais seriam as razões para “comemorar”.

Em algum momento da infância, é comum crianças escutarem dos que lhe cercam a clássica pergunta: “O que você quer ser quando crescer?”. Mesmo correndo o risco de infantilizar os adultos em transição para a velhice, é válido perguntar: o que você quer ser quando se aposentar?

Observa-se um aumento de estudos e práticas multiprofissionais voltadas ao campo da aposentadoria nos últimos anos. De repente, esse tema despertou curiosidade? A aposentadoria é um fenômeno social relativamente recente, daí os estudos serem igualmente recentes? Como nasceu essa preocupação com as pessoas que estão para se aposentar? Alguns dados podem esclarecer tais perguntas. O IBGE nos informa que a projeção de expectativa do/a brasileiro/a em 2050 será de 81,29 anos, representando mais de 23% da população no país. Por sua vez, a OMS prevê que o Brasil será o sexto país do mundo com maior população idosa em 2025.

Considerando que o/a trabalhador/a, em geral aposenta-se no período entre 60 e 70 anos (idade limite para permanência no trabalho, daí ocorrendo a aposentadoria compulsória), pode-se pensar num intervalo de tempo de aproximadamente dez anos de vida (baseando-se apenas nos números aqui citados) vividos fora da esfera do trabalho. Evidentemente é um risco realizar este cálculo sem levar em conta uma variável importante como saúde, por exemplo. Mas é justamente para que ocorra este movimento de parar para pensar sobre o futuro que intervenções como o presente texto são produzidas. Sob a rubrica de Promoção à Saúde, ações como o Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA) são realizadas visando à criação de um espaço psíquico para elaborar as mudanças que esta etapa do desenvolvimento humano acarreta.

São várias queixas e situações escutadas no trabalho com as pessoas diante da aposentadoria, são diversos os exemplos que a literatura especializada cita. A grande maioria parece ser produto da dificuldade de reinvestir a energia psíquica anteriormente direcionada ao trabalho associada à sociedade contemporânea que privilegia o belo, o novo e ohigh tech. Que fazer? Voltar-se inteiramente para a família, ocupando um lugar determinado pelos familiares? Manter-se “na ativa”, desempenhando atividades voluntárias? Lançar-se na, assim chamada, “segunda carreira”? Todas as alternativas são válidas. O único ponto a ser ressaltado é: desde que parta de uma escolha, de uma decisão.

Há formas e formas de ser aposentado/a. O curso de Preparação para a Aposentadoria (PPA) oferece a possibilidade de iniciar a decisão acerca do uso do tempo livre, entre outras questões. A aposta no PPA é válida porque o processo ocorre a partir do saber dos participantes.

Igualmente, na ciência, há formas e formas de acessar o conhecimento das pessoas acerca do que elas pensam sobre temas pesquisados. O conceito de representações sociais ilustra bem uma das formas de pesquisar: segundo Serge Moscovici, o referido conceito corresponde “(...) a certo modelo recorrente e compreensivo de imagens, crenças e comportamentos simbólicos. Vistas desse modo, estaticamente [grifo do autor], as representações se mostram semelhantes a teorias [grifo do autor] que ordenam ao redor de um tema (...) do ponto de vista dinâmico, as representações sociais se apresentam como uma “rede” de ideias, metáforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por isso, mais móveis e fluidas que teorias”.

A teoria citada produziu muitos ganhos para a sociedade, quando da ocorrência de estudos acerca de temas como saúde mental, HIV/AIDS, violência, entre outros. Ganhos porque as intervenções desenhadas e posteriormente executadas em termos de políticas públicas, por exemplo, foram embasadas nos resultados de algumas pesquisas.

Assim, nasce a necessidade de se produzir estudos e intervenções voltados à uma faixa crescente da população. Em evento recente da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abraspo), Leny Sato (professora da USP) chama a atenção para as “profissões ignoradas”. Levando em conta a pouca produção científica (na psicologia) com funcionários públicos federais, delineia-se no horizonte a perspectiva de realização da pesquisa “Análise da construção de representações sociais da aposentadoria no Serviço Público Federal”.

Uma vez que o Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass) apresenta-se como política pública voltada aos servidores públicos federais, que os novos saberes e fazeres a serem desempenhados após execução da pesquisa futura sejam produtos de um cálculo preciso e realmente promotor de saúde.

*É psicólogo da Progep, lotado na Unidade SIASS/Ufal