Aposentadoria abre espaço para dedicação à arte

Tânia Maria Sarmento conta por que as tintas e os pincéis serão as novas ferramentas de trabalho


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Tânia contribui a universidade por 33 anos
Tânia contribui a universidade por 33 anos

Manuella Soares - jornalista

Na antessala do gabinete do reitor, está emoldurado o carinho despretensioso de Tânia Sarmento. A réplica do Museu Théo Brandão, pintada à tinta óleo, foi um presente da servidora pública que dedicou mais de 30 anos da vida à Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O quadro é agora uma lembrança do tempo de trabalho e da história que ela construiu na Ufal, porque a decisão de encerrar o ciclo como assistente administrativa foi oficializada neste mês de março.

Antigos e novos amigos se reuniram para entregar a tão esperada portaria de aposentadoria à Tânia num dia que parecia comum, mas que, para ela, foi uma etapa concluída. A surpresa preparada pelos colegas de trabalho ganhou um toque de emoção durante o discurso de reconhecimento, lido pelo reitor Eurico Lôbo, com quem conviveu nos últimos anos da jornada na Reitoria. Ele agradeceu ao longo serviço prestado e enfatizou a união da equipe. “Sei o quanto é árduo o dia a dia de trabalho, mas se não tivermos o apoio de pessoas como você, nada disso seria possível. O Gabinete tem algo de particular, porque é sempre muito carinho e muitos sorrisos”, disse, arrancando lágrimas da serena e paciente Tânia Maria, que não se conteve diante de todos que formaram fila para oferecer um abraço.

Recordações e motivações

Aos 57 anos, Tânia Sarmento Maranhão ultrapassou alguns processos de evolução que recorda saudosa. Ela trabalhou no comércio antes de prestar concurso na Ufal para Datilógrafa. Foi daí que viu as transformações das ferramentas de trabalho, como datilografia, máquina de escrever e computadores que vieram para facilitar o serviço e o acesso aos procedimentos que antes eram feitos por ela, como digitação de teses e provas para os professores. “Eu ficava horas digitando. Era muita coisa, às vezes tinha que levar para casa e terminar tudo a tempo”, lembrou.

Tânia vai continuar levando o trabalho para casa, mas a partir de agora, será outro tipo de expediente a cumprir. A inspiração para a tarefa é o quadro que por muito tempo enfeitou o local de trabalho. “Quero continuar pintando porque é uma terapia, eu me distraio”, comentou, revelando que iniciou a arte para fugir da dor da perda do pai, há 13 anos. “Foi uma época muito difícil e eu encontrei um refúgio nas telas de pintura”, rememorou, com lágrimas nos olhos, mas com a voz firme de quem também vai utilizar desse recurso na nova fase da vida.

Uma grande motivação para a aposentadoria foi, segundo Tânia, o tempo disponível para dedicar à família. Ela conta que no meio do ano a filha mais velha vai casar e, como “mãe-artista”, ela quer produzir todas as lembrancinhas, forminhas de doces e detalhes da festa que exigem uma certa habilidade manual. “Já fiz tudo do chá de cozinha da minha filha e agora quero trabalhar para o casamento. As pessoas até gostam e eu, já que posso fazer disso um ofício”, brincou.

Com apoio da família, a aposentadoria só foi bem aceita mediante uma condição: sentir-se verdadeiramente bem! “Eu quero que ela tenha alguma ocupação, porque parar de vez é ruim. Mas será ótimo tê-la em casa, fazendo companhia ao meu pai, que já está aposentado e é o mais ansioso de todos”, recomendou Marília sarmento, a filha caçula.

A arte escolhida para acompanhar os anos da aposentada propicia mesmo equilíbrio e bem-estar em qualquer época. Os quadros pintados por Tânia já foram expostos na Associação Comercial e na própria Ufal, mas muito além de um tema para exposição, ela quer sentir o prazer de viajar entre cores e pincéis. Tânia chegou a imaginar como seria pintar um quadro que representasse a Universidade que foi sua segunda casa por 33 anos. “Eu pintaria com cores fortes, alegres, porque fui feliz aqui. Na tela, também teriam muitos rostos que significam os grandes amigos que fiz e não vou esquecer”, compôs, o que pode até não estar materializado numa tela emoldurada, mas sem dúvidas, está muito bem guardado no coração e nas lembranças da aposentada.