Recepção do HU perde Nair Oliveira para a aposentadoria
Com atenção e vontade de ajudar, servidora deixa 33 anos de história no Hospital Universitário
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Jhonathan Pino - jornalista
Nair Oliveira de Lima está só esperando sua aposentadoria sair no Diário Oficial. Há três anos, a recepcionista do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes vem adiando a decisão de se aventurar por novos ares. “Eu fiquei esse tempo arrumando desculpas para não sair do hospital”, confessou. As desculpas tinham razão: ela não queria deixar de se sentir útil, ajudando as pessoas.
Moradora do Benedito Bentes há 27 anos, é no caminho para o trabalho e à espera no ponto de ônibus que Nair conhece as pessoas que, de um jeito ou de outro, acabam indo ao hospital. “Já ajudei muita gente. Meu marido dizia que se eu quisesse me candidatar, eu faturava uma eleição”, sorriu.
Muitos desses amigos-pacientes do hospital vão além: eles procuram a servidora na sua própria casa, em busca de auxílio. “Outro dia, no aniversário do meu filho, eu estava com a mesa posta, quando fui interrompida porque uma pessoa que queria ir para a maternidade. Eu pedi desculpas aos meus familiares e fui com ela ao hospital”, detalhou.
Mas não são só os afazeres do hospital que invadem a sua casa. Durante décadas, a própria servidora usufruiu de vários dos serviços ali disponíveis. Nair diz que, por trabalhar no HU, nunca precisou de plano de saúde. No mesmo dia em que dava a entrevista, ela aguardava a hora da consulta para a sua mãe.
Nair também tem a oportunidade de trabalhar no mesmo ambiente que o seu filho, recepcionista do setor de raio-X, e com Débora Santos, com quem, há três anos, divide o balcão de informações. Emocionada com a saída da colega, Débora define Nair como uma amiga-mãe. “Vai ser um vazio muito grande, mas eu sei onde é a casa dela e assim que tiver tempo irei visitá-la”, disse.
Novos planos
Com a aposentadoria, Nair diz que fará um plano de saúde para sua família. Por presenciar vários momentos de aflição dos pacientes e perder o contato direto com o HU, ela relata que não gostaria de passar por vexames vivenciados pelos usuários do sistema público de saúde. “Outro dia teve um moço, que segundo ele, era formado em Jornalismo, que queria marcar uma consulta e, como não conseguiu vaga, veio com desaforos para o lado da gente. Eu lhe disse que não adiantava nos usar como saco de pancadas e ele respondeu que podia fazer isso porque pagava nossos salários”, relatou Nair.
A servidora disse que toda essa movimentação fará falta a sua rotina, mas, para não cair em depressão, está com viagens marcadas para São Paulo e Salvador. “Eu também temo não acompanhar a moda, por estar em casa. Quando trabalhamos, ficamos por dentro do que está em alta e de como se vestir”, sorriu novamente.
O balcão em que Nair trabalha foi inaugurado por ela. “Ele foi feito para mim”, lembrou. Talvez o local não permaneça com as características de hoje, ponto de informações, desabafos e encontro de amigos, mas terá as memórias de uma “mãe-amiga” disposta a ajudar a todo momento. Esse é um sentimento que Nair deseja que seja levado adiante por quem a substituir. “Tem que dar a vez, né?”.