Professor da Ufal destaca aprendizado como voluntário durante a Copa do Mundo

Treinamento do idioma espanhol e capacitação em gestão de grupos foram os objetivos alcançados por Eraldo Ferraz


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Eraldo Ferraz exibe orgulhoso a medalha e o certificado
Eraldo Ferraz exibe orgulhoso a medalha e o certificado

Lenilda Luna - jornalista

Durante pouco mais de um mês, de 12 de junho a 13 de julho de 2014, os olhos do mundo se voltaram para o Brasil, onde 32 seleções disputaram a taça da Copa do Mundo. A Alemanha acabou campeã, para tristeza dos brasileiros, mas outros saldos e conquistas estão sendo computados de um lado, além das críticas e protestos de outro. Para um grande grupo, em especial, essa Copa do Mundo no Brasil foi uma oportunidade de aprendizado: os voluntários. Pessoas de todo o país, sem receber salário por isso, resolveram se apresentar para auxiliar no que fosse possível para a organização do grande evento esportivo mundial. Eraldo Ferraz, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas, foi um desses voluntários.

O professor relatou a experiência e disse que foi um momento muito rico. "Quando a Fifa abriu inscrições pela internet eu pensei que não ia ter oportunidade de presenciar um outro evento como esse no Brasil, por isso, queria viver a Copa do Mundo da forma mais próxima possível", ressalta Eraldo. Depois de inscrito, ele recebeu a convocação para os cursos online. ."Foram sete disciplinas, que iam de Direitos Humanos, Gestão de Pessoas, até Meio Ambiente, porque a Fifa tem essa filosofia de fazer campanha nas cidades sede para a preservação ambiental e pelo respeito aos direitos das crianças, mulheres e idosos", relatou o professor.

Depois de aprovados nas disciplinas online, os voluntários foram convidados para os cursos presenciais, nas sedes escolhidas para atuação. Eraldo Ferraz se inscreveu para a Arena Pernambuco.  O estádio foi construído em São Lourenço da Mata, região metropolitana de Recife, e tem capacidade para 46 mil espectadores. "Tivemos alguns cursos presenciais na Arena, para conhecer o ambiente de trabalho. Nessa oportunidade, os coordenadores também puderam levantar detalhes como as disponibilidades de horário de cada voluntário, as habilidade individuais para fazer a divisão de grupos e ainda foi realizada uma dinâmica para permitir o entrosamento de todos", contou Eraldo.

A preparação dos voluntários incluiu, ao todo, três meses de cursos online, encontros presenciais e mais outra etapa de cursos online específicos para o treinamento do idioma, como Inglês e Espanhol. "Depois de todo o treinamento, eu fui escolhido como líder do grupo de voluntários com a função de atendimento ao espectador. Nosso trabalho começava seis horas antes do jogo e continuava duas horas depois de encerrada a partida. Eram 10 horas de jornada de trabalho em dias de jogos, mas todos estavam lá alegres e dispostos a ajudar, mesmo nos dias de chuva torrencial que caíram sobre Recife na ocasião!", contou o professor.

O professor Eraldo Ferraz trabalhou em um estande montado na entrada da Arena Pernambuco. "Antes da partida, uma das funções mais importantes da nossa equipe era identificar com pulseiras todas as crianças que fossem entrar na Arena. Era uma grande preocupação nossa que as crianças que se perdessem dos pais pudesse ser identificadas. Também oferecemos apoio para espectadores com dificuldades de locomoção e até guardamos carrinhos de bebê que não poderiam ser levados para o estádio. Outro serviço muito procurado foi o de achados e perdidos. As pessoas deixavam celulares e até dinheiro na Arena. Tudo era levado para os Correios. Quando o jogo começava, nós fechávamos o stand e íamos ajudar os voluntários que estavam dentro do estádio", relatou o professor da Ufal.

Críticas e aprendizado

A Copa não foi uma festa unânime. Durante os jogos, com bem menos visibilidade na mídia, foram registrados protestos de pessoas que reivindicavam, principalmente, investimentos em serviços essenciais e deficientes no Brasil, como educação, saúde e mobilidade urbana. O campeonato mundial foi uma oportunidade, para os manifestantes, de colocar as bandeiras para o mundo. Eraldo Ferraz não estava alheio a essas questões e foi bastante questionado sobre porque iria trabalhar de graça para a Fifa. "Não quis me ater a essa polêmica. Eu tinha dois objetivos e eles foram alcançados: treinei o idioma espanhol e aprendi muito sobre organização de eventos, além de fazer novos amigos", disse Eraldo.

A gestão de pessoas em eventos de grande porte, a divisão de trabalhos, a coordenação de grupos que estavam trabalhando por adesão voluntária, mesmo enfrentando críticas e protestos, foi um experiência que Eraldo Ferraz fez questão de acompanhar de perto. "Como coordenador do curso de Pedagogia, organizo eventos acadêmicos em nível regional e nacional. Em algumas oportunidades, sediamos congressos com participações de universidades de todo o país. Para mim, foi um aprendizado excelente acompanhar a forma como os coordenadores de comitês, durante a copa, administraram várias questões relacionadas ao trabalho das equipes. Além disso, estou fazendo doutorado na Espanha e queria treinar conversação no idioma", ressaltou Eraldo

Foram cerca de 700 voluntários na Arena Pernambuco, ajudando a organizar uma grande festa esportiva para 46 mil espectadores de várias partes do mundo. É claro que algumas deserções foram verificadas. "Foi decepcionante ver que alguns voluntários apenas receberam o material, que incluiu fardamento completo de boa qualidade, os tickets para alimentação e o cartão de transporte e desapareceram. Mas também pude conhecer pessoas de perfis diferenciados, atuando com muita boa vontade e disposição. Tinha uma jovem que me ajudava muito com os turistas que se comunicavam em inglês. Também vi um médico muito contente em dirigir um carrinho no campo para verificar se estava tudo certo antes da partida", contou o professor.

Eraldo Ferraz destacou que ter sido voluntário durante a Copa do Mundo, foi uma vivência inesquecível e muito positiva no sentido pessoal e acadêmico. "A seleção brasileira não conquistou o hexacampeonato e a taça foi para a Alemanha. Mas eu conquistei a minha medalha e estou orgulhoso da minha participação nesse grandioso evento", disse o professor, exibindo a medalha de voluntário. 

Certificados e programas

A experiência de voluntariado não se limitou à Copa do Mundo. Eraldo Ferraz destacou que, após o término do serviço realizado, a Fifa ofereceu aos voluntários, principalmente aos desempregados, cursos do Programa de Desenvolvimento Profissional e Empregabilidade para Voluntários. "Esse programa é uma oportunidade para aqueles que não tem emprego se qualificaram para concorrer a uma vaga no mercado de trabalho", destacou o professor.

Além disso, o portal da Copa já divulgou que no segundo semestre de agosto serão emitidos os certificados de participação para os voluntários.  “Serão emitidos três conjuntos de certificados distintos para cada voluntário que cumpriu as etapas previstas: treinamento virtual; treinamento presencial; e atuação na Copa”, explicou Janaína Ferraz, diretora do Centro Interdisciplinar de Formação Continuada (Interfoco) da Universidade de Brasília (UnB), instituição responsável pela emissão e envio dos documentos, em matéria publicada no Portal da Copa.

Veja matéria do Portal da Copa sobre os certificados.