Além da Academia: Sara Albuquerque alia trabalho na Ufal com a literatura
Conheça um pouco das atividades da servidora que também é advogada, escreve e faz contação de histórias
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Rosiane Martins - estudante de Jornalismo
Sara Regina Albuquerque França é assistente administrativa e está lotada na Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal). Mas, antes de ser servidora, a Ufal já fazia parte de sua vida. Além de trabalhar, ela também estudou aqui, formando-se em Direito no ano de 2013. A menina de 25 anos, que tem brilho nos olhos e um sorriso ímpar no rosto, traz em si uma pluralidade bem comum as mulheres e as representa com uma mistura de tarefas e papéis.
Funcionária da Ufal há três anos, Sara encontrou espaço na agenda para outra profissão, ou melhor, um outro refúgio: a literatura. Nos últimos anos, ela tem visto seu trabalho como escritora crescer significativamente, algo que ela considera como uma surpresa para si mesma, mas, para quem a conhece e sabe de seu amor pelas palavras, torna-se uma constatação. Hoje, com três livros infantis lançados, o que antes era apenas um hobby, transformou-se em profissão.
E não é de hoje que a paixão pela escrita faz parte da sua vida. Desde pequena, Sara já colocava no papel tudo aquilo que sentia e que, por algum motivo, não conseguia expressar em palavras. Inicialmente, escrever era um refúgio, depois uma necessidade. Com referências como Clarice Lispector, Graciliano Ramos e Lygia Fagundes Telles, a menina com sensibilidade aguçada e talento grande lançou-se no mundo das letras e, encantando-se, nunca mais voltou.
"Comecei a escrever desde criança porque era muito tímida, na escrita eu me encontrava. Guardo diários de quando tinha seis anos... Eram coisas aparentemente bobas, mas que hoje eu entendo que influenciaram muito na minha personalidade", destaca Sara Albuquerque. Em 2006, quando tinha 16 anos, criou seu primeiro blog: o Fábrica de Palavras. "O blog foi muito importante, acabei criando uma relação com os leitores, algumas pessoas começaram a se identificar com os meus textos; isso foi muito motivador pra mim", ressalta.
Depois do Fábrica de Palavras, veio o Saralidade e agora o site, um espaço maior, e que, além do blog, revela vários de seus textos e participações em eventos literários. "O site é um lugar para as pessoas conhecerem mais sobre o meu trabalho e mais sobre mim também," diz. Além do site, ela também tem um fanpage que usa para divulgar seus escritos.
Contação de histórias: tarefa prazerosa
Atualmente, Sara é convidada para dar palestras e fazer contação de histórias; uma tarefa que, além de amor a literatura, exige um pouco de desinibição, fruto de um curso de teatro feito aos 18 anos em paralelo ao 1º período de Direito, uma divisão na vida e no coração.
Ela conta que pensou em desistir do curso para seguir Artes Cênicas, mas confessa que o Direito também a prendia na leitura e nos direitos humanos. E não foge dos caminhos escolhidos; advoga em causas trabalhistas e desde dezembro de 2014 ocupa o cargo de Tutora do curso de especialização em Direitos Humanos e Diversidade da Ufal, além de possuir Pós-graduação em Direito Material e Processual do Trabalho.
Literatura infantil
Sara conta que nunca sonhou em escrever para crianças. "O meu contato com o público infantil se deu pelas Artes Cênicas em 2009, quando fiz duas peças voltadas para elas. Neste mesmo ano, quando abriu o edital da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, resolvi escrever. Mas é uma tarefa difícil, você tem que se adequar a linguagem deles. Muitas pessoas têm a visão de que a literatura infantil é menor, o que não e verdade", relata.
Seu primeiro livro, intitulado O Segredo do Rio Mundaú, foi lançado em 2011. Dois anos depois, foi contemplada mais uma vez por um edital da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, desta vez para duas publicações: O Embrulho Misterioso de Nina e Ei, você viu o Luizinho? - este em forma de cordel, algo que ela considerou como um desafio. "Não tinha feito nada em cordel, mas já lia muito o gênero por causa do meu avô que sempre me incentivou a leitura de cordéis", revela.
Os livros foram lançados em 2013 durante a 6ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, em 2013. Foi durante este evento que ela começou a fazer contação de histórias. A partir de então, várias escolas do Estado começaram a convidá-la. Apesar de todos os seus livros lançados serem infantis, ela nos conta que tem pretensão de escrever outros gêneros.
Sara também está escrevendo um romance de literatura fantástica e ainda revela que tem vontade de publicar contos e crônicas, pois tem o desejo de mostrar mais de sua versatilidade como escritora. "Eu quero quebrar um pouco da imagem que só escrevo livros infantis. Acho que tem preconceito, às vezes chamam de livrinho, como se não fosse essencial para formação da criança. Mas, a literatura infantil é fundamental para que elas desenvolvam um pensamento crítico e, assim, participem ativamente da sociedade", ressalta.
Literatura
"Eu percebo que tem havido uma maior conscientização dos pais e da escola. Também é nítido que nos últimos tempos a internet tem possibilitado uma maior oportunidade para as pessoas publicarem seus textos, além dos editais e concursos que tem trazidos grandes oportunidades", diz Sara.
Servidora
"Enquanto secretária, percebi o quanto a comunidade acadêmica tem um certo estereótipo do que é ser servidor. Quis quebrar este estigma e esse tempo que tenho trabalhado aqui tem sido muito produtivo. Tenho consciência da importância de estar aqui. Ser servidor da Ufal é esforço e dedicação", salienta.
Futuro
A moça que, de dia advoga numa causa trabalhista e, de noite, escreve poemas e crônicas sabe bem o que é encenar vários papéis e seguir vários caminhos ao mesmo tempo.
Ela diz não poder optar por apenas um, mas quem a conhece, subentende que de início, a literatura era só um lugar para se esconder, hoje, para transparecer, gritar sobre a vida, deixar-se ser.
"Daqui a alguns anos eu me vejo consolidada no meu trabalho na advocacia e amadurecida como escritora", concluiu a servidora Sara Albuquerque.