Sou Ufal: Professor completa 40 anos de Universidade com desejo de contribuir ainda mais
Um dos pioneiros do Instituto de Química e Biotecnologia, Antônio Euzébio conta que ainda tem muito o que fazer pela Instituição
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Manuella Soares – jornalista
Foi na terra dos Marechais que o mineiro Antônio Euzébio fixou residência e formou família. O trabalho como professor da Universidade Federal de Alagoas criou o vínculo que completa 40 anos com uma narrativa de pioneirismo, dedicação e transmissão de conhecimentos. O Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) deve a este professor muito do que hoje se produz e se ensina por lá.
E depois de quatro décadas na mesma instituição... Cansaço? Quando se pensa num trabalho de 40 anos no mesmo lugar é possível imaginar alguém contando os dias para curtir a aposentadoria. Mas, esse não é o caso do professor que é facilmente encontrado, diariamente, numa salinha nos fundos do laboratório de Química, no prédio mais conhecido como Severinão. “Me sinto muito bem, disposto... Acho que contribuí muito com a Ufal e sinto que ainda posso fazer mais pelas pessoas e pela instituição”, disse.
Não há dúvidas! O professor Euzébio ainda pode contribuir bastante com a multiplicação do conhecimento e, também, na formação de profissionais de excelência. E já foram muitos! Só na pós-graduação, entre mestrado e doutorado, cerca de 100 estudantes herdaram um pouco da experiência e sabedoria do docente. A servidora Ana Paula Oliveira da Silva está entrando na lista. Mineira como ele, viu a oportunidade de se formar doutora quando chegou para secretariar a pós-graduação em Biotecnologia (Renorbio). Bióloga de formação, recebeu apoio e incentivo para tentar a seleção de doutorado. Além da aprovação, ganhou um orientador que é motivo de orgulho.
“Como orientador ele é exigente, gosta que os trabalhos tenham um bom nível, mas exige de uma maneira suave, nada que a gente fique estressado para fazer o trabalho. Ele está sempre disposto a orientar, ensinar e é sempre acessível. Toda vez que você vier aqui ele vai estar trabalhando e, isso é muito bom, porque você se sente protegido. É uma honra, porque ele é uma referência na área no país e eu só tenho a agradecer a oportunidade que ele abriu para mim”, conta a orientanda que, até então, só conhecia Euzébio como chefe. Aliás, foi ao lado dele que Ana Paula também elogiou: “É uma pessoa muito humilde, sabe delegar as competências de uma forma que a gente se sente valorizada no trabalho. Ele aceita opinião pra gente melhorar os procedimentos dentro do Programa e é uma pessoa que está sempre aberta ao diálogo”, disse.
Ufal e família
Quem se dedica demais ao trabalho, muitas vezes, se sente mais em casa no local do ofício do que na própria casa. Com Euzébio essa sensação é até mais justificável. Pouco depois que chegou para ser docente na Ufal, em 1975, a esposa Marília Goulart também veio compor a equipe de docentes da Instituição. Trabalhando na mesma área, Euzébio e Marília tecem suas histórias com a da Ufal, deixando contribuições na área de Química Orgânica.
“É a minha primeira casa, porque passo mais tempo aqui. Meu dia é muito maior no Instituto, no laboratório, do que em casa”, brincou Euzébio. E justificou: “Uma grande parte da nossa família está aqui. Nós depositamos muito da nossa vida na Instituição, então a gente se sente, na verdade, muito dentro de casa”.
Desde o ano passado, mais um membro da família faz parte da Universidade Federal de Alagoas. O filho de Euzébio e Marília, Henrique Fonseca Goulart, foi empossado professor adjunto do Centro de Ciências Agrárias (Ceca). Incentivado pelos pais, o amor pela Química veio de berço. Agora, a relação de pai e filho é também profissional. “E é ótima! De aprendizado diário, de respeito mútuo e também de conversas, ensinamentos, de passagem de experiência, aproveitando muito do conhecimento dele na Ecologia Química”, comentou o professor Henrique, com brilho nos olhos ao falar do pai.
40 anos de história com pioneirismo
Recém-chegado à Ufal, é o filho que resume o histórico do professor Euzébio: “Ele foi um empreendedor dentro da Universidade. Basicamente, criou por completo o departamento e tornou essa área conhecida no Brasil e em algumas partes do mundo, então, é um rompedor!”, disse Henrique.
Quando relembra a própria história, Euzébio não esconde o sentimento que retrata 40 anos de Ufal. “Eu me orgulho muito de ter sido um dos primeiros a estabelecer realmente o departamento. De ter ajudado a construir o Instituto de Química, numa fase bem inicial, ter ajudado a moldar. Quando falam bem desse departamento eu fico muito satisfeito”, contou.
O motivo disso é um passado recente, porém, marcado de pequenas lutas, grandes entraves e bastante resiliência para conquistar espaços e se tornar referência. “Quando cheguei aqui na Ufal, há 40 anos, era uma coisa muito deserta, muito pouco habitada e era muito pouco hospitaleira a região. Isso foi mudando ao longo do tempo, foi sendo habitado, criando-se condições de sobrevivência. Tem uma dificuldade normal dos tempos de hoje, como falta de recurso, por exemplo. No início era diferente, a ideia de universidade e de professor era diferente. Eu não digo ser melhor ou pior, mas era diferente. O profissional tem outra formação, outra visão do que seja a Universidade. Isso a gente precisa acompanhar e saber”.
Aos 66 anos de idade, o professor Antônio Euzébio revela que além da paixão pela sala de aula, do entusiasmo com o trabalho de campo e da vibração na prática em laboratório, ele alimenta outro amor fora do ambiente universitário: o futebol. Mas não como mero apreciador do esporte. Ele joga amadoramente toda semana e, garante, que nunca falta tempo para o bom e velho ‘racha’ com os amigos.
Totalmente adaptado em Maceió, o professor brinca que já é praticamente um alagoano. Com exceção do sotaque e de algumas palavras e expressões características da região que ele não fala, todo o resto pode ser considerado como um nativo do Estado. Porque é aqui que o mineiro ama viver e trabalhar, por muito tempo.
Futuro
E por falar em futuro, o professor compartilha de uma opinião muito firme sobre o futuro dos trabalhos da área aqui na Ufal. “No início a gente tinha uma vontade muito grande de colocar o nome da Universidade no mapa. Hoje, o grande desafio é manter. O maior problema é estrutural. A gente tem várias deficiências, perspectivas um pouco diferentes de outros grupos da Instituição e, acho, que com o tempo isso vai se harmonizar. Se a gente não crescer e se modernizar, a tendência é acabar. Isso em qualquer instituição. Você tem que ser competitivo, e competitivo não é localmente, tem que ser nacionalmente e também competir com pessoas de qualquer lugar do mundo. A competição é mundial”, salientou.
Ainda assim, com todas as dificuldades diárias, o professor Euzébio é otimista, porque não basta apontar o que existe de obstáculo... Ele se doa para enxergar e sentir o que representa a Instituição que trabalha. “Eu me sinto Ufal. Aqui tem muita coisa boa. Tem muita evolução e é claro que a gente quer cada vez mais!”, concluiu.