Sou Ufal: Conheça o amor pelo volante de Kezia Machado

Primeira motorista feminina da Ufal nos fala dos caminhos que a trouxeram até aqui


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Radiante, a motorista da Ufal festeja o novo ambiente de trabalho
Radiante, a motorista da Ufal festeja o novo ambiente de trabalho

Janaina Alves – relações públicas

Lugar de mulher é onde ela quiser. E para Kezia Machado, de 38 anos, o melhor lugar para se estar é comandando um volante. Ela, que é a primeira motorista do sexo feminino a compor a equipe da Divisão de Transportes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), conta para nós, no mês da mulher, o que a motivou a dirigir sua vida por esse caminho e o que espera no seu novo local de trabalho.

Caçula numa família de oito filhos, logo cedo Kezia começou a se interessar por carros e pela direção.  A filha de pais agricultores, natural do município de Jundiá, interior de Alagoas, ainda adolescente ajudava o pai a fazer pequenos transportes pela região. Foi quando percebeu que aquilo poderia se tornar uma profissão.

Inquieta por conseguir a sua independência financeira e vendo os irmãos saírem de casa para conquistar "seu lugar ao sol", Kezia conseguiu tirar habilitação, ainda com categoria B, para poder entregar currículos e se candidatar a fazer o que mais gostava.

Ela conta que alguns familiares não concordavam com sua escolha e que seus pais não acreditavam que isso pudesse se tornar real, que ela fosse viver daquilo. Mas o sonho se tornou realidade e a paixão se transformou em profissão no ano de 2005, quando foi chamada a trabalhar numa empresa de transporte público de Maceió, como motorista de ônibus. Kezia relembra algumas situações que vivenciou e o que fez para driblar a falta de respeito: “Quando dirigia ônibus, alguns passageiros vinham discutir comigo porque não queriam pagar passagem. Situação normal na vida de qualquer motorista de ônibus”, disse.

No entanto, ela conta que nunca passou por situação de preconceito pela sua condição de mulher e motorista e, afirma: “Se percebo alguma conversa estranha, relevo, desconverso como se nada tivesse acontecido, tento driblar e colocar meu profissionalismo em primeiro lugar”, comentou.

Além da empresa de ônibus, Kezia trabalhou na Petrobras, como prestadora de serviço de uma empresa terceirizada, e como taxista no aeroporto de Maceió. Prestes a completar 12 de profissão e após muitos quilômetros rodados pelas estradas, ela chega até a Ufal para somar competência e experiência ao time de motorista da Divisão de Transporte, setor ligado à Superintendência de Infraestrutura (Sinfra).

E com o sorriso aberto e os olhos brilhando, conta as conquistas que conseguiu obter com seu trabalho. “Hoje eu consegui minha independência financeira, já tenho minha casa, meu carro... E vou sempre batalhando. Ainda não cheguei aonde eu quero chegar, que é ter a minha carreta”, planeja.

Quando perguntada sobre se algum dia ela se imaginara fazendo outra coisa, a resposta é objetiva: “Não! Eu não sei fazer outra coisa”, afirma a realizada Kezia, que compartilha conosco sua bela trajetória esperançosa de que os caminhos que a trouxeram até a Ufal sejam cheios de boas surpresas.    

Caminhos até a Ufal

O processo que culminou na chegada da primeira motorista da Ufal e uma das primeiras entre as Universidades Federais do Brasil começou há muito tempo. Evandro Pinheiro, chefe da Divisão de Transportes da Sinfra fala sobre a importância dessa quebra de paradigma dentro de um setor tão fortemente marcado pela presença de homens.

“Nós já tínhamos a vontade de trazer para o time uma motorista mulher, mas precisamos esperar a oportunidade surgir de uma vaga aqui no setor, já que a rotatividade é muito baixa”, explica Evandro, reforçando que esta era uma vontade também dos gestores da Ufal.   

O motivo apontado por Evandro para a contratação de Kezia é o fato de que a Ufal acaba atuando como um agente transformador na região, indo além do tripé do ensino, pesquisa e extensão. “Observei que órgãos públicos não possuem mulheres dirigindo seus carros oficiais. É muito difícil encontrar. E pensei que deveríamos ser os primeiros a promover essa mudança de mentalidade nas pessoas, essa quebra de preconceito”, explica.

Avaliando o machismo que ronda o meio, Evandro relata que o acolhimento da nova colaboradora foi melhor do que esperava. “Entre os colegas, ela está tendo uma receptividade muito boa. Está sendo uma boa surpresa!”, afirma.

Nova rotina

Evandro nos explicou qual será a rotina de Kezia dentro do time da Divisão de Transporte. Após passar por um treinamento prático, ela começa a conhecer o Campus A.C. Simões e suas unidades, para só então partir rumo a outros campi.

“Esperamos ela receber o fardamento, que já serve para causar menos impacto e estranhamento e, aos poucos, vamos a introduzindo nos setores mais próximos, atuando no serviço de malote, passando pelo micro-ônibus, até que ela consiga assumir longas viagens”, comenta.   

Em breve, Kezia deve assumir o ônibus rodoviário, e assim passará a ter mais contato com os estudantes da Ufal. O que para Evandro será mais uma forma de educar para a tolerância e igualdade de gênero.

Entre os colegas, o clima também é bem positivo. Para Sebastião Francisco da Silva, o mais antigo motorista terceirizado da Ufal, que está há 14 anos na instituição, a chegada da nova colega está aprovada.

E as experiências trazidas pela motorista serão úteis ao grupo, que agora deverá cuidar para que o ambiente de trabalho seja agradável a ela. “O respeito é o principal. Temos que ter um com o outro. E com ela, nessa condição diferenciada, o respeito tem que ser maior ainda”, pondera.