Pesquisadora da Ufal participa de Encontro na Universidade de Harvard (EUA)
Evento acontece nesta quinta-feira (21) e sexta-feira (22) e tem como foco a Educação Infantil
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Diana Monteiro - jornalista
A professora Lenira Haddad, do Centro de Educação (CEDU) da Universidade Federal de Alagoas, integra a comitiva de brasileiros convidados a participar do Encontro Educação Infantil Harvard-Brasil que irá discutir pesquisas e práticas bem sucedidas na área de Educação Infantil. O evento, a se realizar nos dias 21 e 22 deste mês, na Escola de Pós-Graduação da Universidade de Harvard (Estados Unidos), contará com participação de cerca de dez pesquisadores brasileiros, de universidades, de organizações não governamentais (ONGs) e gestores de Secretarias Municipais de Educação.
Lenira Haddad é coordenadora do Grupo de Pesquisa Educação Infantil e Desenvolvimento Humano do Cedu, vinculado ao Programa de Pós-Graduação (mestrado e doutorado) em Educação (PPGE/Ufal), onde ministra as seguintes disciplinas: Políticas e práticas de educação infantil; A teoria da pessoa de Henri Wallon e as implicações da prática pedagógica; e Pesquisa com criança. Na graduação em Pedagogia é uma das professoras orientadoras da disciplina Estágio Supervisionadas em Educação Infantil.
A larga experiência de Lenira, com destacados estudos e projetos internacionais, a partir do doutorado sanduíche que fez entre 1993 e 1994, na Universidade de Gotemburgo, quando se aprofundou nos sistemas de educação infantil dos países da Escandinávia na perspectiva da Ecologia do Desenvolvimento Humano, faz da professora da Ufal uma referência como pesquisadora nessa área.
Dentre os projetos que participou destacam-se a pesquisa Educação e Cuidado na Primeira Infância: questões de políticas internacionais (Early Childhood Education and Care: International Policy Issues) desenvolvida entre 2000 e 2002, a convite da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em que analisa os sistemas de educação infantil de 14 países membros da OCDE, além de oito países da África, Ásia e América do Sul na perspectiva de uma abordagem integrada.
Entre 2005 e 2006, outro projeto que contou com a participação da professora Lenira trata sobre a organização, da parte Brasil, de uma Enciclopédia Internacional de Educação Infantil (Early Childhood Education: An International Encyclopedia), a convite de Moncrieff Cochran, da Universidade de Cornell,nos Estados Unidos e em 2007, integrou os estudos sobre A contribuição da educação infantil para o desenvolvimento sustentável da sociedade (The contribution of Early Childhood Education for Sustainable Society Development). Para este projeto foi convidada pela pesquisadora Ingrid Pramling Samuelsson, da Universidade de Gotemburgo, onde concluiu doutorado.
Programação
Para o Encontro na Universidade de Harvard nesta semana, o nome dela foi indicado pela professora Maria Malta Campos, da Fundação Carlos Chagas (SP), onde trabalhou e atua como pesquisadora associada.
Lenira informou que o dia 21 será reservado aos pesquisadores brasileiros. Na oportunidade haverá a apresentação de um panorama geral da Educação Infantil no Brasil, constando de: Base Nacional Curricular Comum; profissionais e diretrizes pedagógicas; qualidade e avaliação; e realidade da educação infantil nos dois maiores municípios do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro.
No dia 22, os estudiosos da Universidade de Harvard farão apresentação das ações em desenvolvimento na área, culminando com uma plenária de discussão, visando uma possível colaboração Harvard/Brasil relativa à área da educação infantil.
Raízes da Educação Infantil
Lenira ingressou como docente da Ufal em 2006, ano do primeiro concurso para uma vaga específica para a área da Educação Infantil, inaugurando no Centro de Educação o setor de estudos nessa área na graduação e pós-graduação. “A matriz curricular do curso de Pedagogia estava sendo reformulada, em decorrência da aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia em 2005/2006, e disciplinas específicas de educação infantil foram então inseridas. No curso de Pedagogia da Ufal até então, só havia uma disciplina eletiva, que era Educação pré-escolar. Com novas disciplinas no currículo, novos concursos foram realizados, ampliando os docentes deste setor de estudos que hoje totalizam sete”, afirmou.
A Educação Infantil vai de 0 a 5 anos de idade e Lenira destaca que há uma diferença enorme entre o Brasil e os países desenvolvidos e seus pares (países latino-americanos) no que refere à apropriação das raízes da Educação Infantil. E enfatiza: “Perdemos as raízes da área, a boa tradição, os princípios que vieram com os pioneiros da Educação Infantil como Froebel (alemão, fundador do primeiro jardim de infância), Montessori, Steiner, Freinet, entre outros, que reconhecem as especificidades e a cultura própria dessa etapa da educação”, diz.
Aproveita para acrescentar que as raízes da Educação Infantil consistem nos princípios onde: a infância tem um valor em si mesmo; a educação infantil não é preparatória para a escola; a aprendizagem se dá na interação com as coisas, as pessoas, a cultura; os espaços são organizados de forma que os materiais sejam acessíveis às crianças e o ambiente seja convidativo às explorações, interações, descobertas e experiências cada vez mais complexas; os adultos são parceiros que observam, apoiam, ampliam essas experiências e descobertas. E esclarece:
Durante a expansão em larga escala de programas de creches e pré-escolas, a partir da década de 70, esses princípios se perderam e deram lugar à expansão de massa de baixo custo, visando compensar carências e preparar crianças de populações desfavorecidas para o ingresso no ensino fundamental, por exemplo: qualquer lugar poderia ser ocupado para ser creche ou pré-escola, qualquer mulher poderia ocupar a função de cuidar e educar as crianças e não havia padrões mínimos o monitoramento da qualidade. Só a partir da aprovação da LDB em 1996 (Lei de Diretrizes e Bases) é que a regulamentação das instituições de educação infantil em escala nacional teve início, processo este extremamente complexo haja vista a dimensão continental do nosso país. O mais grave de tudo, foi que a expansão não foi acompanhada pela devida formação do profissional da Educação Infantil”, disse Lenira.
Acrescenta informando que o professor da pré-escola tinha como escolaridade o nível Normal e depois o Magistério, havendo a falta de exigência de formação para os profissionais de creches. A LDB vem exigir a formação mínima em nível médio para todos, indicando a preferência pelo ensino superior. “No entanto, esse foi outro fator agravante, pois em nível superior não existia um lócus definido para essa formação. Algumas faculdades de Pedagogia ofereciam habilitação para a educação pré-escolar, mas não era uma exigência legal. Só em 2006 com a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia é que a Pedagogia foi designada a também formar na docência em educação infantil. Mas isso ainda não é suficiente, apesar do inegável avanço; há muito chão a percorrer para que a Pedagogia possa dar conta da abrangência de questões que caracterizam a área da educação infantil”, destacou a pesquisadora.
Estudos e ações
O Grupo de Pesquisa Educação e Desenvolvimento Humano é vinculado ao Programa de Pós-Graduação do CEDU, foi criado em 2007 e aprovado pelo diretório de pesquisas do CNPq em 2008. É formado por alunos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), do mestrado e do doutorado e também realiza atividades em conexão com professores de outras instituições de ensino superior do Brasil e de países europeus, como Portugal e Dinamarca. Este ano o grupo completa dez anos de atividade e a década de existência será marcada com a realização de um seminário, em novembro, com foco nas respectivas linhas de atuação.
Atualmente o Grupo de Pesquisa tem em desenvolvimento as linha de pesquisa: Compreensão da prática pedagógica de educação infantil a partir de videogravação. O estudo conta com a colaboração da pesquisadora dinamarquesa Jutty Juul Jensen, com quem estabelece parceria desde 1994. Segundo Lenira Haddad, a pesquisa é uma réplica da pesquisa de Jensen desenvolvido a partir de filmes de um dia das crianças em um centro de educação infantil de três países: Hungria, Dinamarca e Inglaterra. A pesquisa em desenvolvimento na Ufal tem financiamento do CNPq e Fapeal, centra- se em dois filmes em dois países: Brasil/Maceió e Dinamarca e tem conclusão prevista para março de 2018. “As primeiras pesquisas”, diz Lenira, tiveram como foco as representações sociais do trabalho do professor de educação infantil por estudantes do curso de Pedagogia e por professores da rede pública municipal de Maceió”.
Na área de extensão, entre 2014 e 2015, a professora Lenira participou de um projeto vinculado ao Ministério da Educação (MEC), que envolvia a oferta de cursos de aperfeiçoamento na docência em Educação Infantil para professores da rede pública municipal e estadual de Alagoas. Foram duas edições e ao final de cada uma foi realizado o evento denominado de “Encontro da Rede de Educação Infantil da Ufal”, porque abrangia as ações realizadas nos três polos (campi): Maceió, Arapiraca e Delmiro Gouveia. A pesquisadora destaca:
“O primeiro encontro teve como foco de debate o tema Infância e Cultura Popular e no segundo, o tema abordado tratou sobre Infância e Cultura Lúdica. O terceiro encontro, marcando ações na área de extensão foi realizado em maio deste ano e ocorreu junto à 1ª Jornada Internacional sobre a Formação de Professores e Professoras de Educação Infantil. Este evento contou com a parceria de pesquisadores da Universidade de Évora (Portugal), das federais do Espírito Santo, Fluminese, Santa Catarina, Pernambuco, Rio Grande do Sul e da Unisul (Universidade de Santa Catarina)”, enfatiza.
Na vasta atuação de Lenira Haddad como docente e pesquisadora está também o trabalho de consultoria junto à Secretaria Municipal de Educação de Maceió (SEMED), entre 2014 e 2015, para a elaboração das orientações curriculares que culminou na publicação do livro Orientações Curriculares para a Educação Infantil da rede municipal de ensino da capital (SEMED, 2015) que pode ser acessado no link.