Oncologista do HU responde dúvidas sobre câncer de mama

Seguidores das redes sociais da Ufal enviaram os questionamentos

Por Ascom Ufal
- Atualizado em
Oncologista Aline de Carli, médica do HU
Oncologista Aline de Carli, médica do HU

No mês de outubro, dedicado às ações de prevenção e conscientização do câncer de mama, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) convidou a médica oncologista do Hospital Universitário (HU) Alline de Carli para responder às dúvidas enviadas pelo perfil oficial da Ufal no Instagram. Durante 24h perguntamos quais os principais questionamentos dos nossos seguidores sobre a doença.

A oncologista também gravou um vídeo, que já está disponível no Instagram, respondendo às perguntas mais recorrentes. Abaixo, descrevemos todas as respostas. A entrevista, assim como a campanha de arrecadação de lenços, promovida pela Coordenação de Qualidade de Vida no Trabalho (CQVT), faz parte das ações da campanha Outubro Rosa na Ufal.

Confira:

Ascom: Qual a incidência do câncer de mama no Brasil em comparação com a média global?
Aline:
O câncer de mama é o mais incidente em mulheres, excetuando-se os casos de pele não melanoma, representando 24,2% do total de casos de câncer femininos no mundo em 2018, com aproximadamente 2,1 milhão de casos novos naquele ano. É a quinta causa de morte por câncer em geral (626.679 óbitos) e a causa mais frequente de morte por câncer em mulheres. No Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama também é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa a primeira posição. Para o ano de 2019 foram estimados 59,7 mil casos novos, o que representa uma taxa de incidência de 56,33 casos por cem mil mulheres.

 Ascom: Pessoas com histórico familiar tem mais chances de desenvolver a doença?
Aline:
O Risco de Câncer de mama é maior entre as mulheres com parentes em primeiro grau (mãe, irmã ou filha) que tiveram a doença. Nesses casos o risco da doença praticamente dobra. Ter dois parentes de primeiro grau aumenta o risco cerca de três vezes. Este risco é maior quando os parentes de primeiro grau tiveram a doença com menos de 50 anos.

Ascom: Todos passam pelo processo de quimio, rádio e retirar mama? Como é o procedimento de quimioterapia?
Aline:
Existem mais de 20 subtipos de câncer de mama que podem variar de acordo com a histologia e o perfil molecular. Além disso, o estadiamento também pode variar (casos mais iniciais ou casos mais avançados). Então, todas essas variáveis devem ser analisadas pelo médico para indicar o tratamento ou combinação de tratamentos mais adequada. A cirurgia nem sempre necessita ser a mastectomia (retirada completa da mama), algumas vezes podem ser realizadas cirurgias conservadoras de mama como as segmentectomias (retirada do segmento afetado) ou quadrantectomias (retirada do quadrante afetado). No caso da quimioterapia e da radioterapia também, nem todas as pacientes necessitarão de tratamento combinado, alguns casos mais iniciais e menos agressivos podem não necessitar do tratamento quimioterápico ou radioterápico. Além da cirurgia, quimioterapia e radioterapia, hoje também podemos fazer uso dos tratamentos com hormonioterapia e com imunoterapia, mas sempre dependendo da indicação de cada caso. O câncer de mama vem cada vez mais, sendo tratado de forma individualizada, por isso nunca se deve comparar um caso de uma pessoa ou parente com o de outra. O procedimento da quimioterapia, na maioria das vezes, consiste na aplicação de medicações endovenosas que apresentam alguns eventos adversos como a queda de cabelo.

Uma classe de drogas muito utilizada para câncer de mama são as antraciclinas, que têm como efeito colateral a queda do cabelo. Mas nem todas as quimioterapias fazem cair o cabelo e a queda do cabelo também não tem relação com a potência do tratamento ou com o tratamento estar dando certo ou errado. A queda é apenas um efeito colateral. Outras drogas podem causar náuseas, diarreias, formigamentos e não causar queda de cabelo, por exemplo.

Ascom: Em homens o câncer de mama está associado à obesidade?
Aline:
Não só em homens como em mulheres também a obesidade está muito associada ao câncer, e não somente câncer de mama. Cada vez mais trabalhos relacionam a obesidade com as neoplasias como mama, intestinos, gástrica, endométrio, entre outras. Hoje em dia sabemos que manutenção de peso adequado, atividade física moderada a intensa associados a uma dieta rica em nutrientes, e pobre em alimentos processados e carne vermelha, são fatores protetores das diversas neoplasias malignas.

Ascom: Homem pode ser afetado pela doença?
Aline:
Sim. Cerca de 1% dos casos de câncer de mama acontece em homens. Apesar de raro, é possível.

Ascom: Os sintomas iniciais do câncer masculino são iguais ao feminino?
Aline:
O câncer inicialmente é uma doença assintomática, ou seja, quando de lesões muito pequenas, estas não causam nenhum tipo de sintomas. No caso dos homens, como a mama é menor e com muito pouco tecido glandular, estes conseguem perceber as lesões mais inicialmente.

Ascom: Ele só atinge mulheres? Se não, os meios de identificação é o mesmo?
Aline:
Como já citado anteriormente, 1% dos casos de câncer de mama ocorre em homens. Os meios diagnósticos são os mesmos, porém nos homens é mais utilizada a ultrassonografia pela menor quantidade de tecido mamário. A diferença é que como o câncer de mama é muito raro nos homens, não é necessária a realização de exames de rastreamento e nem de autoexame, pois qualquer alteração na mama masculina deve ser reportada a um médico já que pelo menor volume mamário, é mais fácil detectar a presença de lesões com o exame clínico. A biópsia também pode ser feita da mesma maneira que para a mulher, guiada por ultrassonografia ou com a retirada cirúrgica da lesão.

Ascom: Existe câncer de mama infantil?
Aline:
O Câncer de mama é altamente relacionado com a exposição estrogênica que ocorre primordialmente após a puberdade. Consideramos as mamas adultas após os 18 anos como suscetíveis de apresentar câncer de mama. Desta forma, casos infantis ou precoces são extremamente raros e geralmente relacionados com outras histologias como os sarcomas ou linfomas por exemplo.

Ascom: Câncer de mama se desenvolve em qualquer idade? Ou só na fase adulta?

Aline: Primordialmente na fase adulta.

Ascom: Mudança na pele da mama sem a presença de nódulo pode ser um indicativo para este câncer?
Aline:
Pode. Alterações de pele que não cicatrizam, presença de nodulações diversas, presença de descarga papilar (secreção pelo mamilo) sanguinolenta ou purulenta anormal, assimetria das mamas, mudança da pele, afundamento do mamilo, são todos sintomas que podem estar associados ao câncer de mama. Porém é importante lembrar que a doença inicial é assintomática, por isso é essencial a realização de exames periódicos preventivos como a mamografia após os 40 anos, pois ela tem a capacidade de detectar lesões iniciais que ainda não são palpáveis, nem visíveis e nem causem sintomas, aumentando as chances de cura da doença.

Ascom: Laqueadura pode trazer riscos para um futuro câncer de mama?
Aline:
Não. A laqueadura tubária não tem relação com aumento do risco de câncer de mama.

Ascom: None cura câncer?
Não há evidências científicas que suportem tal afirmativa.

Ascom: Anticoncepcional causa câncer de mama?
Aline:
O uso de anticoncepcional não é causador do câncer de mama. O que consideramos na atualidade é que a exposição prolongada aos estrógenos pode aumentar o risco do desenvolvimento da doença. Antigamente os anticoncepcionais eram utilizados entre uma gestação e outra e por curtos períodos de tempo, hoje em dia, as mulheres iniciam sua vida sexual mais precocemente e fazem uso dos anticoncepcionais por tempos superiores a dez, 15, às vezes 20 anos ininterruptos, o que tem sido associado com um discreto aumento no risco de desenvolver a doença.

Ascom: O câncer é genético ou hereditário?
Aline:
O Câncer de mama é uma doença que tem como principais fatores de risco, as causas externas. Idade, tabagismo, etilismo, obesidade, sedentarismo, fatores hormonais, menarca precoce, menopausa tardia, ausência de filhos ou primiparidade tardia, dieta desbalanceada, entre outros configuram como as principais causadoras da doença. De modo que a minoria dos casos (em trono de 10—15%) está relacionada com os fatores hereditários. 

Ascom: A partir de qual idade a mulher deve se preocupar em fazer o autoexame?
Aline:
O autoexame poder ser realizado pelas mulheres adultas a cada ciclo menstrual, porém, o mesmo não substitui o exame clínico realizado pelo médico e mesmo bem feito, não é capaz de detectar lesões muito pequenas. Então não é considerado um meio de rastreamento. Ele é importante pois muitas vezes são as próprias pacientes que observam alterações em suas mamas. Porém, a preocupação deve ser em realizar os exames de rastreamento como a mamografia anual após os 40 anos e as visitas ao ginecologista/mastologista conforme orienta a Sociedade Brasileira de Mastologia.

Ascom: A partir de que idade aumentam as chances de se desenvolver o câncer?
Aline:
Mulheres com mais de 50 anos são as mais afetadas.