Docentes da Ufal participam de evento internacional na sede da Unesco

A participação foi financiada por meio de pesquisas que desenvolvem junto ao MEC com foco em Inteligência Artificial

Por Amanda Alves – estagiária de Relações Públicas
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O Mobile Learning Week 2019 foi sediado em Paris
O Mobile Learning Week 2019 foi sediado em Paris

Entre os dias 4 e 8 de março, aconteceu o evento Mobile Learning Week, na sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em Paris. O evento reuniu especialistas na área de educação e tecnologia, com o objetivo de debater sobre Inteligência Artificial (IA) na educação. Entre os 1,5 mil participantes presentes, de 130 países diferentes, estavam os professores da Ufal Diego Dermeval (Famed), Ranilson Paiva (IC), Leonardo Brandão Marques (Cedu), além de Seiji Isotani (USP/ICMC), que integramo Núcleo de Excelência em Tecnologias Sociais (Nees).

As discussões sobre IA apontam que não há como parar o seu avanço: é preciso controlar, pensando em governança para o uso sustentável e ético. Os professores comentam que é preciso considerar o treinamento daqueles responsáveis pelo desenvolvimento e implementação de soluções no futuro.

Então, os questionamentos foram levantados: É possível que a IA substitua o professor? Qual será o futuro das profissões?

Entre as respostas encontradas, estava o fato de que a IA não pretende substituir o professor, mas aprimorar suas habilidades e apoiar suas atividades. “As ferramentas de IA não são pensadas como forma de substituir o professor, isso ficou bem claro no evento. Um movimento que já se consolida na área de Computação Aplicada à Educação é a de auxiliar ou complementar as funções pedagógicas. O ponto é reconhecer que esse movimento já se iniciou, países como a China, EUA e outros no Oriente Médio já fazem uso da IA para auxiliar a identificar as dificuldades específicas de cada aluno - acadêmicas e socioemocionais - e pensar alocação de recurso em termos de gestão pública”, disse Marques. 

Desse modo, chega-se ao ponto de discussão do futuro das profissões, em que muitas podem deixar de existir ,enquanto novas surgirão. Trata-se de um processo histórico que acompanha o desenvolvimento da sociedade, e o mesmo caminha na direção da priorização da automação.

Marques explica: “Envolve redução de trabalho repetitivo e não dependentes das funções tipicamente humanas. Tudo que já for de conhecimentos e práticas consolidadas pode ser automatizado, aquilo que depende de avaliação moral e ética não. Não faz sentido professor perder tempo copiando conteúdo ou corrigindo tarefas simples de verificação de leitura. O grosso do trabalho pedagógico envolve dar sentido aos conceitos acumulados pela sociedade e mediar a apropriação desses conceitos enquanto guias de práticas e reflexões socialmente relevantes. E isso continuará dependendo das interações humanas diretas entre o estudante, o professor e seus colegas”.

Sobre como será o futuro, o professor Leonardo faz uma estimativa. “Um chute educado seria que precisaremos de profissionais proativos, abertos à discussão e com sólida formação de método de investigação. Conhecer as possibilidades das técnicas computadorizadas será relevante também, não os aspectos técnicos da sua implementação, mas os limites e potencialidades metodológicos que elas possibilitam”, adianta.

Embora o crescimento do alcance da IA seja um fato, há alguns impedimentos para o rápido desenvolvimento e propagação desses sistemas. “O simples acesso à eletricidade e computadores é uma dificuldade real em alguns países em todo o mundo, e isso é apenas uma prova de como há um déficit na infraestrutura de diversos países para suportar aplicações sofisticadas, e tampouco a IA”, completa Marques.

Desenvolvimento da IA no Brasil e relação com a indústria

Quando relaciona o desenvolvimento da Inteligência Artificial com o setor industrial do Brasil, o professor Leonardo Marques afirma que falta infraestrutura e capital humano capacitado. “Soluções de IA dependem de poder de processamento, que, em geral, estão na nuvem, isso demanda equipamentos conectados e boa conexão de internet. Outro ponto é o corpo técnico capacitado nas redes, tanto na gestão, como na ponta. Os professores no país, em sua maioria, ainda não se apropriaram adequadamente das potencialidades das tecnologias digitais para a educação. Parte das potencialidades da IA ainda são mais promessas do que realidade, mas as coisas avançam rápido nesse meio”, relata. O docente ainda afirma que tecnologias em IA com potencial de auxiliar nas escolas podem ser muito úteis na indústria, que se mostra acessível para isso acontecer.

Além disso, ele também cita a distância existente entre professores, gestores, pesquisadores e outros atores que podem impactar a educação, como a própria indústria, tendo em vista que ela é detentora de muitos avanços tecnológicos na atualidade. “Não significa submeter os objetivos educacionais do país às demandas da indústria. Mas, reconhecer que cidadãos bem formados precisam ter autonomia nas suas escolhas de vida, inclusive na barganha em um mercado de trabalho que irá se transformar por conta dos avanços tecnológicos. O que precisamos fazer é regulamentar o acesso e uso aos dados individuais, no sentido de resguardar nossa autonomia. Ao mesmo tempo, buscar as tecnologias de ponta que ajudam a resolver nossos problemas, seja onde ela estiver”, destaca.

O professor salienta a importância de entender a necessidade dos países, principalmente o Brasil, de emplacar na pesquisa e no desenvolvimento e planejamento estratégico global, evitando o uso de produtos, leis e regras importados por outros países.

Diante disso, Marques relata que é necessário repensar o que chama de “visão limitada” existente no campo da educação, sobre as políticas educacionais de estado e sua relação com o resto do mundo. “Trazemos para a discussão da educação como visões dicotômicas do que seria a formação, a questão da cidadania e do emprego.  Nos tempos atuais, significa estar ciente do impacto que as mudanças no mundo do emprego, onde o trabalho acontece, sofrerão muito em breve. O Brasil não é uma ilha isolada dos demais, e sempre sofremos as consequências de políticas que adotaram essa visão’’, disse.

E continua: “É preciso parar de correr atrás do prejuízo e começar a preparar, de verdade, as crianças e jovens do país para pensarem os problemas que temos, às vezes como empregados, às vezes como agentes do estado. Somente assim poderíamos parar de importar ‘solução’ pronta de outros lugares Isso, muitas vezes, custa caro e nem sempre é efetivo. Com a IA, essas soluções estarão disponíveis cada vez em mais áreas e com custos menores. Haverá grande pressão para adotá-las, mas isso pode pôr em risco a privacidade e até a soberania do país”, afirma.

Para ele, foi extremamente revelador participar do evento promovido pela Unesco, onde pode observar de perto planejamentos e ações concretas que alguns países estão adotando, no intuito de gerar saltos de qualidade na educação. “Alguns vislumbram as potencialidades do uso da IA em larga escala, justamente o que a torna mais efetiva. Eles querem liderar esse processo porque percebem como isso dá uma vantagem estratégica. Esperamos ajudar a trazer essas discussões para o Brasil, no sentido de dimensionar os riscos que corremos em não nos prepararmos, e como essas novas tecnologias podem, justamente, ser um dos caminhos para nossas escolas pararem de somente correr atrás do prejuízo”, finaliza.

No Mobile Learning Week, muitas apresentações foram partes de projetos com propósito social/humanitário, em parceria com a Unesco e instituições públicas e privadas. Embora alguns projetos estejam no início, são atrelados a alguma instituição com metas maiores.