Docente lidera capítulo do relatório mundial sobre mudanças climáticas

O professor da Ufal, Humberto Barbosa, foi o primeiro representante brasileiro a ser selecionado pelo IPCC ONU para assumir a função

Por Ascom Ufal
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Humberto Barbosa, pesquisador da Ufal e coodenador do Lapis
Humberto Barbosa, pesquisador da Ufal e coodenador do Lapis

O professor Humberto Barbosa, do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal, foi o primeiro representante brasileiro a ser selecionado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), para liderar a elaboração de um capítulo do novo relatório especial sobre mudanças climáticas e uso da terra. 

Doutor em Ciências do Solo e Sensoriamento Remoto pela Universidade do Arizona, Estados Unidos, o pesquisador da Ufal coordenou a elaboração do quarto capítulo que aborda a questão da degradação da terra. A versão final e já aprovada do documento foi publicada nessa quinta-feira (8). 

Sobre a oportunidade de participar do relatório, Barbosa conta que se candidatou a um processo seletivo e foi escolhido como autor-líder. “Foi um trabalho bastante exaustivo, ao longo de dois anos. São 107 autores e editores, oriundos de 52 países, que participaram da elaboração. Deste total, 96 contribuíram como autores e apenas 11 como cientistas líderes de capítulos, nos quais me incluo. Participei de longas sessões plenárias para apreciação e aprovação do relatório”, relata. O docente destaca que “participar do documento foi uma experiência interessante, pela troca de experiências com pesquisadores de outros países e também para compreender como funciona o processo de construção de relatórios do IPCC”. 

Coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), ele conta que representantes de 195 países estiveram reunidos em Genebra, Suíça, desde o dia 2 de agosto, para examinar, detalhadamente, a versão do novo relatório especial que foi divulgada. 

Ao explicar o documento, o docente da Ufal afirma que “é importante por sistematizar o consenso da comunidade científica mundial sobre os assuntos mais desafiantes da área ambiental e socioeconômica”. Com acesso exclusivo aos dados, ele enumera que, entre os temas discutidos no relatório, estão mudança climática, desertificação, degradação dos solos, gestão sustentável das terras, segurança alimentar e fluxos de gases que provocam o efeito estufa nos ecossistemas terrestres. 

“Os representantes nacionais devem se reunir, no final de 2020, provavelmente no Reino Unido, em uma importante conferência na qual os delegados plantarão formas de alcançar políticas eficazes de emissão zero de carbono nas próximas décadas. Com base no relatório do IPCC, serão estabelecidas metas para que os estados-nacionais busquem alcançar para reduzir os impactos sobre o planeta Terra”, afirma o pesquisador ao apontar como o relatório pode ajudar governantes diante das mudanças climáticas. 

Novidades do Relatório Especial do IPCC 

Ao comentar alguns pontos de destaque do novo relatório do IPCC, o docente faz um alerta para a necessidade de “um modelo mais sustentável de produção de alimentos”. Segundo o pesquisador da Ufal, “essa é uma das conclusões dos cientistas na versão do relatório aprovada pelas delegações nacionais, em Genebra”. De acordo com Humberto, “a agricultura era um assunto, até hoje, pouco discutido no processo de mudanças climáticas. Todavia, desta vez, os especialistas chamaram atenção para o potencial predatório da produção industrial de alimentos”. 

Ele ressalta que “a crítica é para um modelo de agronegócio que devasta as florestas, contamina os solos, as águas e os demais recursos naturais, além de aumentar as desigualdades e a pobreza”. Para o docente, “uma produção alimentar sustentável é centrada no uso otimizado das terras, ou seja, sem precisar desmatar mais extensões absurdas de florestas, mas utilizar racionalmente e com tecnologias adequadas os solos que já estão prontos para a agricultura e pecuária. Dessa forma, será possível produzir mais alimentos, manejando adequadamente os recursos disponíveis”. 

Para chamar atenção sobre a importância da agenda ambiental, o docente afirma que “o relatório prevê um conjunto de impactos irreversíveis e duradouros, como o aumento da temperatura da Terra, com impactos diretos na biodiversidade e nos ecossistemas”. Ainda conforme explicações do pesquisador da Ufal, “extremos regionais climáticos, como situações de seca severa em algumas regiões e chuvas intensas em outras, além de extremos de temperaturas em alguns lugares, elevação do nível do mar, com aumento das inundações e danos às infraestruturas urbanas, aumento da pobreza, riscos à saúde, aumento da fome e impactos no crescimento econômico” são algumas das consequências pelo uso insustentável dos recursos naturais. 

“Uma das novidades é a consideração, neste relatório, do quanto as mudanças climáticas afetam a degradação da terra e vice-versa, com impactos maiores para as populações mais vulneráveis socialmente”, destaca o docente. “Concluiu-se também, neste documento, que já não será suficiente que os países façam a transição energética de combustíveis fósseis para energias limpas. Será necessário também mudarmos a nossa forma de produzir alimentos, pois a população cresce a cada dia”, afirma. E esclarece: “Há um século atrás, éramos quase dois bilhões, hoje somos mais de 7 bilhões e, em 2050, seremos 9 bilhões de humanos na Terra. As pressões sobre o planeta que habitamos são gigantescas e por isso a necessidade de adotarmos novos modelos”. 

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