Curadora do MHN é homenageada com nova espécie de animal marinho

Descoberto por ex-aluno da Ufal, pesquisador deu o nome da professora a um molusco encontrado na costa brasileira

Por Jaci Lira - estudante de Jornalismo
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O pesquisador e mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Ivison Brandão, descreveu uma nova espécie de serpulídeo, tipo de minhoca marinha, do gênero Spirobranchus, e apresentou como Spirobranchus lirianeae. A nomeação é uma homenagem a Liriane Freitas, professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e curadora do setor de Malacologia (molusco) do Museu de História Natural (MHN).

Ivison Brandão foi aluno de Liriane Freitas durante a graduação em Ciências Biológicas na Ufal. Em outubro deste ano, ele publicou o artigo On a new species of Spirobranchus Blainville, 1818 (Annelida: Serpulidae) and considerations on the genus along the Brazilian coast, na revista Papéis Avulsos de Zoologia, que pode ser conferido aqui. Na publicação, Ivison apresenta essa nova espécie de anelídeo, verme marinho pertencente à família Serpulidae, que ocorre na costa brasileira, nas ilhas de Cataguases e Angra dos Reis.

“Desde que eu entrei na graduação eu via alguns professores, conhecidos e até mesmo pessoas famosas sendo homenageados com nome de espécie, então, dada essa relação que eu tinha com Liriane, eu já tinha em mente que eu queria descrever uma espécie e homenageá-la”, explicou Ivison.

Quando fez o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Ciências Biológicas pela Ufal, Ivison decidiu que iria se especializar em sistemática de poliqueta, área que estabelece relações evolutivas entre os animais, sendo as espécies produtos de evolução. “Dentro desse aspecto de ser sistemata de invertebrados e descrever novas espécies, eu comecei a fazer meu mestrado trabalhando com uma família de poliqueta, os serpulídeos”, contou.

Homenagem

O nome da nova espécie foi uma forma de homenagear Liriane Freitas, responsável pelo início da trajetória de Ivison, despertando seu interesse por animais marinhos, servindo de inspiração e apoio.

“Ela orientou que eu fosse para o laboratório da professora que terminou por me orientar [no TCC], Hilda Sovierzoski. Mas Liriane é um ponto fora da curva quando a gente pensa na relação aluno e professor. Ela é extremamente humana, compreensiva e faz você se apaixonar pelo que ela explica, falando de uma forma que você percebe o quanto ela acha bonito o assunto que está explicando”, lembrou Ivison.

Além de professora, Liriane também foi supervisora dele na monitoria da disciplina de Zoologia de Invertebrados. Após a monitoria, Ivison se voluntariou para participar das aulas de campo da docente.

“Ela era como uma mentora para mim, sempre me deu muito apoio, me ajudando nos momentos em que eu estava com bastante dificuldade para me manter no curso, me fez perseverar. Meu crescimento enquanto ser humano durante a graduação tem influência muito grande da pessoa que ela é”, afirmou.

O pesquisador lembra ainda que auxiliou bolsistas de Liriane do setor de Malacologia do MHN e enxerga a importância do Museu em sua vida: “A gente conta com os museus para que o nosso trabalho seja frutífero, seja no papel acadêmico ou social”.

A homenageada e seu reconhecimento

Liriane Freitas atua na Ufal há quase 36 anos e sua participação frente ao Museu de História Natural (MHN) teve início em 1989, ao ser convidada por Delsa Gitaí, reitora à época, para auxiliar nos trabalhos iniciais para a fundação do Museu.

“Atualmente o MHN é um espaço efetivamente consolidado, não só como estrutura científica, mas também de acesso à comunidade: para os alunos da graduação com estágios e monitorias, para alunos dos cursos fundamental e médio de escolas públicas e particulares através de visitas guiadas ao acervo e Coleção”, ressaltou Liriane.

Quanto à homenagem de seu ex-aluno, ela conta que ficou “perplexa”, mas recebeu com satisfação. “Me perguntei: ‘Mereço? Meu Deus!’. Mas foi uma alegria imensa. Confesso que para mim foi um tributo muito acima dos títulos que obtive na pós-graduação. Considero o maior congraçamento profissional que recebi em 40 anos de trabalho, foi inacreditável”, comentou.

A professora de Zoologia explica também que descrever uma nova espécie não é uma tarefa fácil, pois requer pesquisa e estudos minuciosos, inúmeras comparações e bibliografia especializada.

“Para mim, remeto a homenagem ao trabalho de todos os docentes empenhados no curso de graduação de Ciências Biológicas da Ufal. Sem esse coletivo, impossível ‘fazer’ um aluno tão profissional. Ivison foi aluno de grande distinção durante o nosso curso – logo cedo traçou seu Norte, indo em busca de informações e questionamentos. Percebia-se que iria longe. Brilhante!”, finalizou.