Pela inclusão: Andifes e mais 37 entidades exigem do MEC suspensão do Enem

Ufal corrobora com a posição das entidades e ratifica a defesa do adiamento do exame

Por Simoneide Araújo - jornalista
- Atualizado em
Reitor Josealdo Tonholo defende que o Enem que seja de qualidade, inclusivo e que represente o que o Brasil precisa neste momento atípico
Reitor Josealdo Tonholo defende que o Enem que seja de qualidade, inclusivo e que represente o que o Brasil precisa neste momento atípico

A pandemia da covid-19 é uma situação sanitária grave, mas, além disso, também está afetando em cheio a vida dos alunos que se preparam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), previsto para novembro deste ano. Por conta disso, a Associação Nacional do Dirigentes de Instituições de Ensino Superior (Andifes) se une a 37 entidades e todas pedem a suspensão do calendário do Enem 2020 e que a nova data só seja definida após o retorno das atividades presenciais na escola básica. O Conselho Nacional de Educação (CNE) também recomenda que, por conta da incerteza do momento que o mundo está vivenciando, a prova não seja aplicada em 2020.  

Além da solicitação coletiva, assinada por 38 entidades, a Andifes também emitiu uma nota reforçando a importância do Enem e do direito à educação. No documento, destaca que “a comunidade científica e a experiência internacional já identificaram o caráter dinâmico de propagação da pandemia e a necessidade de afastamento social, bem como a maior fragilidade das parcelas populacionais mais idosas e desassistidas, diante da doença. As corretas medidas de afastamento decididas emergencialmente, naturalmente trazem transtornos e perdas para as pessoas”. 

E continua: “Na educação não é diferente. Nossas crianças e jovens, apesar dos esforços dos gestores e famílias, estão sem atividades presenciais. Essa circunstância afeta de maneira muito desigual classes sociais e regiões, evidenciando um déficit que jamais pode ser ignorado por instituições que tanto se empenham por efetiva inclusão social. Educação também é solidariedade. Dessa forma, o Enem, instrumento fundamental de acesso ao ensino superior para milhões de jovens, e de complexa operacionalidade, precisa ter adequada execução, situações sanitárias viáveis e também meios que garantam condições razoáveis de isonomia de concorrência aos candidatos. E, hoje, para além de dificuldades históricas, a comunidade científica afirma que essas condições mínimas não se apresentam”.

Diante dos argumentos científicos, a Andifes reafirma ser fundamental a realização de um “Enem tecnicamente exitoso e com concorrência democrática. Propomos a suspensão das datas do exame e que, com apoio da área da saúde, seja aberto um diálogo entre educadores, gestores e instituições, de modo que, em condições razoáveis de segurança sanitária e equidade, seja possível definir um novo calendário”, aponta a nota. 

Para o reitor da Universidade Federal de Alagoas, Josealdo Tonholo, a Andifes trouxe a tona uma preocupação de todos os reitores e todos os educadores do país. “Queremos um Enem que seja de qualidade, inclusivo e que represente o que o Brasil precisa neste momento atípico. Não podemos falar em Enem agora, quando nem começamos as atividades do Calendário Acadêmico de 2020”, defendeu.

A gestão central da Ufal entende que não é hora de definir ou discutir as ações para o calendário 2021. “Antes disso, nós temos que entender e viabilizar a retomada das atividades do ano de 2020. Isto só vai ocorrer quando tivermos a correta dimensão do desenvolvimento da pandemia, bem como as garantias de segurança para as pessoas envolvidas e das tecnologias que serão utilizadas nas atividades presenciais e não presenciais”, destacou.

Tonholo informa que a Ufal já iniciou a discussão com a equipe do Comitê Covid-19 e com o Fórum dos Diretores de Unidades Acadêmicas. “Agora é hora de preservar a vida, mas temos obrigação de fazer o planejamento da retomada. Há, ainda, muita incerteza que nos impede de uma previsão quanto ao processo seletivo de 2021 da Ufal pelo Sisu neste momento", completou.

O pró-reitor de Graduação, Amauri Barros, se alinha à posição da Andifes e também se mostra preocupado com a realização do Enem. “Se mantivermos essa data [novembro de 2020], estaremos excluindo muita gente e tirando a oportunidade de muitos jovens que sonham entrar na universidade. Muitos deles estão fora da sala de aula e, devido à vulnerabilidade econômica, não tem acesso às tecnologias. É por isso que manter esse calendário do Enem nesse cenário de dificuldade, de pandemia, é uma ideia bastante excludente. O mais prudente é regularizarmos o calendário do ensino básico e do ensino superior para, daí, definirmos uma nova data da prova do Enem”, defendeu.

De acordo com o diretor do Centro de Educação, Jorge de Oliveira, a Andifes está preocupada com o desnivelamento entre os setores público e privado da educação básica. “De fato, a realização da prova do Enem neste calendário que está posto vai trazer prejuízo, sobretudo, para os alunos da educação pública, considerando que os estudantes das escolas privadas têm acesso a vários recursos tecnológicos e, além disso, eles têm recursos digitais e contam com modernos sistemas de ensino das escolas”, ressaltou.

Para Oliveira, a manutenção do calendário para realização das provas do Enem vai trazer grande prejuízo para quem estuda em escola pública. “A questão socioeconômica influencia muito no desempenho desses alunos, porque, muitas vezes, não têm uma internet boa, quando tem computador é um pra família toda, muitas vezes só dispõem da internet do próprio celular, ou seja, são inúmeros fatores que colocam o aluno do setor público em desvantagem”, concluiu.

Em anexo, a íntegra dos documentos