Cem anos da UFRJ: legado reflete na formação acadêmica da Ufal
Professores da Ufal compartilham as experiências e conhecimentos adquiridos na UFRJ e que passaram adiante
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A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) virou centenária e carrega histórias que estão entrelaçadas às trajetórias acadêmicas de muitos professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Se referindo como “mãe das federais”, o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, enalteceu o papel da primeira universidade criada pelo Governo Federal para a sociedade e a imensa contribuição com a formação do corpo docente e técnico da maior instituição de ensino superior de Alagoas.
“Ter a oportunidade de, nesse momento, parabenizar a UFRJ pelo seu centésimo aniversário é um privilégio ímpar. A Universidade Federal de Alagoas tem muito no que se inspirar. A UFRJ é um modelo para todas as instituições e até hoje temos parcerias extremamente frutíferas”, destacou.
Eleita a terceira melhor universidade da América Latina, a instituição já recebeu milhares de docentes e técnicos da Ufal, seja entre os 176 cursos de graduação ou nos 232 de pós-graduação. Os números refletem o investimento da UFRJ em se voltar mais para a sociedade nos últimos anos e ser referência em pesquisa científica. Nesse caminho, as parcerias com a Ufal em eventos, publicações, periódicos e pesquisas ficam mais abrangentes em diversas áreas, como prevê a reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho.
“Vemos a possibilidade de interação com a Universidade Federal de Alagoas cada vez maior nos próximos anos, porque a pesquisa científica deve aumentar em todas as instituições do país e nós podemos atuar conjuntamente naquelas áreas do conhecimento nas quais desenvolvemos pesquisa de ponta. As parcerias causam uma sinergia, o que é muito melhor para ambas as instituições: A Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Alagoas unidas para o avanço científico e tecnológico do nosso país!”, ressaltou.
Histórias e memórias
Para o professor Krerley Oliveira, do Instituto de Matemática, A UFRJ é um caso de amor e de formação. Foi lá onde ele conheceu a esposa, Marcela Oliveira, atleta de triathlon, enquanto dividia a mesma paixão pelo esporte e chegou a defender a UFRJ pela equipe estudantil.
Nessa época ele cursava o bacharelado em Matemática na instituição, conciliando com o mestrado e, posteriormente, o doutorado pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). Dos anos de muitos desafios acadêmicos ficaram as lembranças e a gratidão por alguns nomes que marcaram o docente que se tornou.
“Professora Walcy e professora Zezé Pacífico foram fundamentais para que eu pudesse conciliar as aulas de mestrado e doutorado no Impa com o calendário de provas na graduação da UFRJ. Foi com muito orgulho que ganhei uma medalha de prata e uma de bronze na Olimpíada Iberoamericana de Matemática Universitária representando a UFRJ”, recorda Krerley, e segue nostálgico: “Trago ótimas lembranças desse período e dos amigos que lá deixei, os quais conservo até hoje. Essa experiência foi fundamental para minha formação e sou muito grato por isso”.
Alguns vínculos afetivos como esses, criados durante a formação dos docentes da Ufal, abriram portas para a afinidade temática nos estudos mais aprofundados e, então, parcerias em pesquisas científicas em benefício da sociedade. O professor João Araújo-Júnior é um exemplo de como o incentivo dentro da universidade pode alimentar o desejo por mais conhecimentos.
Buscando o contato com o professor Eliezer Jesus Barreiro, um dos mais renomados na área de Química Medicinal, ele foi aprovado em primeiro lugar no doutorado em Química de Produtos Naturais da UFRJ e conseguiu não apenas um orientador, mas um parceiro em diversas publicações de artigos em periódicos nacionais e internacionais e capítulos de livros. Por intermédio de Eliezer, João ainda fez um doutorado sanduíche na França e, assim como foi incentivado, segue inspirando outros tantos por aí...
“Até hoje mantenho colaboração com o meu ex-orientador. Aprendi muito durante o doutorado, seja pessoal, como academicamente. Desde que fui contratado pela Ufal, já orientei dezenas de alunos de iniciação científica, mestrado, doutorado e supervisão de doutorado, inclusive docentes e técnicos da Ufal. Vários alunos egressos são hoje docentes em outras instituições de nível superior em Maceió, Pernambuco e Amapá, por exemplo”, ressaltou com entusiasmo pela contribuição que passou adiante.
Estrutura para avançar
A universidade mãe, como bem se referiu o reitor Tonholo, é modelo em estrutura para a formação de alunos de várias áreas. Embora sofra, como outras instituições, cortes orçamentários ao longo dos anos, possui 1.456 laboratórios e o maior complexo laboratorial de engenharia da América Latina, vinculado à Coordenação dos Programas de Pós-graduação em Engenharias (Coppe).
Foi na Coppe onde a professora Sandra Helena Vieira fez seu mestrado e doutorado no Programa de Engenharia Química (PEQ), que é notadamente conhecido pela inovação e trabalhos voltados para a solução de problemas relacionados às áreas de impacto socioeconômico.
“Alunos formados na Coppe apresentam um diferencial de conhecimento e de visão frente aos problemas , como também de iniciativa e tomada de decisão. Caso não fosse assim, não conseguiria chegar ao final do curso. Foi muito sofrido, mas no final, recompensador. O PEQ/Coppe continua sendo nível sete na Capes. A infraestrutura é excelente e isto faz toda a diferença. Também há muitos convênios com empresas. É uma excelente escola. Não a toa ocupa um lugar diferenciado no ranking Capes”, reforçou a docente do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal.
Pesquisas ativas e diferenciadas
A Universidade Federal do Rio de Janeiro ganhou destaque no QS World University Rankings by Subject , publicado no ano passado. O ranking apontou que a UFRJ está entre as cem melhores universidades do mundo em cinco áreas: Antropologia, Arqueologia, Arquitetura/Ambiente Construído, Estudos de Desenvolvimento e Línguas Modernas.
E é da Antropologia de onde vem o ilustre alagoano Arthur Ramos, foi o primeiro professor de Antropologia da antiga Universidade do Brasil, que se transformou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na década de 30. Foi lá onde se formou o professor Wagner Diniz Chaves, com doutorado pelo programa vinculado ao Museu Nacional da UFRJ. Ele é docente colaborador do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Ufal desde 2015 e já contribui em atividades acadêmicas e científicas na instituição bem antes disso.
“Tive uma passagem muito feliz na Universidade Federal de Alagoas entre 2009 e 2014, onde na ocasião tive o privilégio e a honra de dirigir o museu de Antropologia e Folclore Théo Brandão. Esses laços entre UFRJ e Ufal vêm se mantendo e atualmente estou orientando e co-orientando trabalhos e desenvolvo uma pesquisa sobre o acervo sonoro do Théo Brandão”, ressaltou ratificando a importância de homenagear a instituição centenária.
A professora Rosa Prédes, da Faculdade de Serviço Social (FSSO) da Ufal também tem relações diretas com a universidade do Rio. Ela foi aluna da segunda turma do doutorado na área da UFRJ, em 1995, e desde então mobiliza uma série de atividades e pesquisas voltadas para o mercado de trabalho do Serviço Social, com passagem no pós-doutorado da UFRJ nas áreas de destaque da instituição: Sociologia e Antropologia.
“Foi nessa experiência que aprendi, de fato, o que era pesquisa em nível de pós-graduação. Foi uma experiência muito rica. Desfrutei de tudo o que a UFRJ podia oferecer. Vivi a universidade nas suas diversas opções de convívio acadêmico”, relatou.
Foi dessas relações que nasceu um dos núcleos mais antigos e atuantes da Ufal, o Grupo de Pesquisa e Extensão Serviço Social, Trabalho e Políticas Sociais, liderado por Prédes há 20 anos. São muitos frutos produzidos até então, a exemplo de um projeto de intercâmbio entre as duas instituições, com apoio da Capes e do CNPq (2012-2016); uma coletânea sobre ensino superior, vários eventos de disseminação de informações sobre o trabalho da área de assistência social e a participação em redes de pesquisa com a UFRJ e em outros países ibero-americanos.
As contribuições são mútuas e a mesma alegria de carregar no currículo uma parte da formação com o nome da Universidade Federal do Rio de Janeiro é voltar à instituição como professor convidado, com reconhecimento e atestado de que o ciclo do conhecimento continua girando. É assim com a professora Rosa Prédes e foi assim com o professor João Araújo-Júnior, que já retornou à UFRJ para proferir palestra e participar de eventos e banca de concurso para docente. Ele reitera um sentimento de gratidão comum a quem já passou por lá: “Todo o legado profissional que carrego foi, em grande parte, devido à orientação que recebi na UFRJ”. Um centenário de responsabilidades e desafios que deixa marcas individuais e projeções coletivas em todas a sociedade.
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