Quase 5 décadas de trabalho ativo em prol da comunidade e da formação de alunos

A servidora Maria do Carmo está há 20 anos na equipe do Fórum Universitário

Por Diana Monteiro – jornalista
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A jornada de trabalho começa logo cedo, às 7h30 da manhã e, pelo volume de atividades, prolonga-se ao longo do dia. Mas essa rotina não é uma novidade para Maria do Carmo Silva, que, no próximo mês de maio, completa 47 anos de atividades na Universidade Federal de Alagoas. De todo esse tempo, 20 anos são dedicados ao Escritório Modelo de Práticas Jurídicas (EMAJ), que integra o Fórum Universitário José Cavalcanti Manso, no Campus A.C. Simões, que beneficia a comunidade pelas múltiplas ações que oferta e contribui com a formação acadêmica dos alunos do curso de Direito da Ufal.

No desempenho de suas funções, advogada, em home office, o trabalho de Maria do Carmo flui conectado com as demandas diárias, “que não param de chegar”, como ela mesma diz, e aquele horário da rotina presencial, de 7h30 às 13h30, teve que se adequar a uma nova realidade imposta pela pandemia da covid-19. “O Escritório Modelo não parou um dia sequer, a prática jurídica dos alunos de Direito continua em andamento e os clientes assistidos. Não presencialmente, mas on-line, por meio de e-mails, contato telefônico, conversas, na participação das audiências. Tanto no 8º Juizado de Pequenas Causas como na 26ª Vara de Família”, frisou a servidora, enxergando no trabalho remoto um aliado para a continuidade de suas responsabilidades.

O somatório dos atendimentos realizados pelo Escritório Modelo diariamente em prol da sociedade e, prioritariamente, para os bairros circunvizinhos da Ufal totaliza benefícios a cerca de 3 mil clientes. Entre as ações ajuizadas estão: divórcio consensual e litigioso, investigação de paternidade, curatela, reconhecimento e dissolução de união estável, pensão alimentícia, execução de alimentos, exoneração de alimentos e alvará judicial. No 8º Juizado de Pequenas Causas, espaço também de prática jurídica dos alunos de Direito, as ações são da área de despejo, cobrança, danos morais e materiais, consignação em pagamento, entre outras.

O Escritório Modelo integra a Faculdade de Direito de Alagoas (FDA) da Ufal e, segundo Maria do Carmo, o dinâmico trabalho empreendido pela equipe técnica é acompanhado atentamente pela diretora da unidade, Elaine Pimentel, por meio reuniões periódicas, on-line, nesse tempo de trabalho remoto. “O bom do EMAJ é que toda a equipe técnica trabalha coletivamente buscando o mesmo objetivo, o de atender bem aos clientes, buscar solução para a causa apresentada e fazer com que os alunos tenham um estágio proveitoso, aplicando o conhecimento teórico à prática ao exercício da advocacia”, frisou.

O EMAJ tem a coordenação do professor Flávio Luiz da Costa, também juiz do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-AL), conta com uma equipe de nove técnicos e constitui-se como campo de estágio obrigatório de alunos do curso. Também são espaços para atividades práticas o 8º Juizado de Pequenas Causas, sob a responsabilidade do juiz Ricardo Jorge Cavalcante, e a 26ª Vara de Família da Capital, cujo juiz titular é o também professor Wlademir Paes de Lira. No Fórum Universitário funciona ainda a 16ª Vara Criminal da Capital.

Ao enfatizar a dinâmica de seu trabalho, Maria do Carmo disse que de 13 de abril de 2020 até o dia 31 de janeiro deste ano ela diligenciou 121 processos, todos apresentados à coordenação do Escritório Modelo, por meio de relatório. Nesse intervalo de tempo cada advogado do Escritório Modelo ficou responsável por grupos dos estagiários do 10º período do curso, com a supervisão dos professores que dão plantão no setor. “O EMAJ desenvolve um trabalho sério e profissional e a soma de processos distribuídos para cada advogado da equipe resulta numa significativa demanda, cuja dinâmica consiste em trabalhar para a sociedade e contribuir com a prática forense dos alunos, disciplina obrigatória da grade curricular”, reforçou.

E complementa, enfatizando que as demandas diárias são contínuas, têm prazos para a efetivação de etapas jurídicas e entre elas estão a produção de peças, contestação, réplicas e toda informação que o juiz despacha para o pronto atendimento ao processo. “No cansaço a cada fim de expediente, que adentra os dois horários, não cabe o desânimo, e sim a sempre satisfação do cumprimento do dever e a importância da continuidade de um trabalho de tanta contribuição para a comunidade e para o aprendizado dos alunos, cujas atividades transcorrem sob supervisão da equipe, técnica e docente, que atua no Escritório Modelo”, frisou a servidora, mostrando disposição para continuar, mesmo com quase cinco décadas de trabalho na instituição, colaborando com a evolução e crescimento da Ufal.

Experiência e aprendizado

Em sua trajetória de trabalho, a partir do ingresso na Ufal em 5 de maio de 1974, lidar com atividades conectadas com a comunidade no âmbito da instituição ou no atendimento externo sempre fez parte da vida de Maria do Carmo. Com toda formação feita na Ufal, graduada em Serviço Social e em Direito, com pós-graduação nessa área, o primeiro setor de trabalho da servidora foi a então Pró-reitoria de Assuntos Acadêmicos, atual Pró-reitoria de Graduação (Prograd), onde passou 26 anos. Como responsável pela Secretaria Administrativa daquele setor tinha contato direto com a comunidade acadêmica de todos os cursos, para ela um grande aprendizado.

“Adquiri uma grande experiência e tive a oportunidade de trabalhar com pessoas que contribuíram com o meu crescimento, como o primeiro pró-reitor Manuel Ramalho, seguido dos professores também ocupantes desse cargo, José Damasceno Lima, Fernando Gama, Eduardo Almeida, José Lima de Moraes e Eduardo Lira. Durante as mais de duas décadas que passei na, hoje, Prograd, guardo afeição de todos que estiveram conduzindo a área de graduação da Ufal. Destaco o aprendizado que recebi da professora aposentada Elce Amorim, pela experiência e conhecimento, fruto de um trabalho empreendido competentemente”, disse Maria do Carmo, que no quadro institucional é assistente social.

Até chegar ao Fórum Universitário, a servidora teve uma rápida passagem pela Pró-reitoria de Administração (Proad), atual Pró-reitoria de Gestão de Pessoas e do Trabalho (Progep), onde considera ter tido, mesmo curta, uma experiência valiosa por meio do então Programa de Assistência aos Servidores da Ufal. O trabalho consistia em visitas domiciliares a servidores afastados por problemas de saúde os mais variados.

O convite para o setor onde está há 20 anos, recebeu do professor Wlademir Paes de Lira, que lecionava a disciplina Direito de Família, quando ela fazia a segunda graduação. Até o prédio do Fórum Universitário ficar concluído, a prática forense dos alunos do último ano do curso iniciou provisoriamente no Caic, localizado do Campus A.C. Simões. A mudança para o novo local proporcionou aumento da demanda e com a necessidade de ampliação da equipe jurídica, deu-se início a atuação de Maria do Carmo no Escritório Modelo, considerado, depois do Hospital Universitário, o segundo maior projeto de atendimento à comunidade carente.

Para a prática dos alunos no Escritório Modelo, além de Maria do Carmo, o setor conta com mais dois advogados no suporte, que vai desde recepção aos estagiários, orientação nas diligências processuais, correção de requerimentos a petições. A equipe também faz acompanhamento aos estagiários nos acordos firmados entre as partes e participa das audiências.

São muitos os desafios na rotina universitária imposta pela pandemia da covid-19, mesmo tendo a tecnologia como aliada e conectada com a disposição ao trabalho. Para Maria do Carmo não poderia ser diferente. Com atribuições tão diversificadas, a maior delas é fazer o atendimento não presencial ao cliente. E, segundo a servidora, o significado das atividades remotas para ela está sendo um aprendizado jamais imaginado.

“O grande desafio começa a partir da carga horária, que extrapola o tempo. Passamos a atender os clientes, diariamente, quando por necessidade os assistidos nos recorrem a qualquer hora, até no final de semana. Mas desempenhar um trabalho de tanta importância para a comunidade carente, representa para mim um dever cumprido. Saber que o problema que tanto afligia o cliente foi solucionado, para mim é gratificante”, disse a dedicada servidora.

Sobre o isolamento social, enfatizando a sua área de trabalho, ela aproveita para complementar: “O isolamento social em toda esfera institucional foi necessário. Como medida protetiva a sociedade teve que atender as medidas legais, ficando em casa. A integração da equipe técnica do Escritório Modelo tem sido totalmente fiel. Em meio a tudo isso o EMAJ manteve o compromisso com sua clientela, dando continuidade aos seus trabalhos que envolvem a demanda sociojurídica”.

Ufal e seus 60 anos

Dizendo-se grata por todo o seu percurso de formação profissional e de trabalho, das oportunidades recebidas, da confiança a ela depositada para responsabilidades funcionais assumidas e desempenhadas, Maria do Carmo enfatiza que toda essa trajetória institucional sempre refletiu positivamente em sua vida familiar. Além dela, seus três filhos foram graduados pela Ufal e, assim como ela, dois deles são servidores da instituição.

Os laços de amizade consolidados, a turma da “Cantina da Amizade” [grupo de servidores que almoçava na copa do Gabinete da Reitoria na gestão do reitor Rogério Pinheiro], da rotineira convivência saudável, a participação no Corufal, representando a Universidade por mais de duas décadas, estão na memória da servidora com grandes significados para a sua vida. Mesmo com tantas tarefas, ela integra a Comissão de Cerimonial da Ufal, desde agosto de 2001.

Sobre os 60 anos da Ufal, Maria do Carmo destaca que a principal missão da instituição é a produção do saber e considera como o grande marco histórico em benefício da sociedade alagoana o Projeto de Interiorização. “Expresso meus parabéns à Ufal. Ao completar 60 anos, essa instituição é um broto. Que continue avançando nas áreas de ensino, pesquisa e extensão. Sabemos que o cenário não é dos melhores no âmbito da educação, mas a força do saber é maior que qualquer ameaça contrária aos seus propósitos. A Universidade Federal de Alagoas, é um exemplo na educação dos alagoanos”.