Sou 60 conta a história do professor Zé Roberto que nasceu 17 dias após a Ufal
Ele decidiu trilhar o caminho da Universidade por influência de seus tios
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Apenas 17 dias após a criação da Universidade Federal de Alagoas, dia 11 de fevereiro de 1961, nascia José Roberto dos Santos, hoje professor do curso de Agronomia. À época, na histórica cidade de Penedo, ninguém sabia, mas a vida que acabara de nascer se ligaria de maneira indissociável à instituição recém-fundada. Em fevereiro de 2021, o docente completou 60 anos, 39 dos quais dedicados à Ufal.
“Eu acho que sou o servidor ativo da Universidade que nasceu na data mais próxima da fundação. Eu nasci no dia 11 de fevereiro e a Ufal foi fundada no dia 25 de janeiro, sendo apenas alguns dias de diferença. Sempre faremos aniversários juntos. Isso é um privilégio. Quando a Ufal fizer mil anos eu farei mil anos, então seremos sempre lembrados”, comentou, rindo da coincidência, marcada pelo entrelace de seus destinos.
O docente, conhecido por colegas e alunos do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) como Zé Roberto, desde criança sonhava em ingressar na Ufal, graças à influência de dois tios que se formaram em Medicina pela Ufal. Assim, após concluir os estudos no Colégio Liceu Alagoano, prestou vestibular e foi aprovado pela primeira vez em 1980, mas foi convocado pelo exército e precisou adiar o ingresso.
No ano seguinte, o professor tentou, mais uma vez, iniciar seus estudos. Entretanto, assim como acontece com tantos outros jovens, Zé Roberto precisou optar por um emprego para poder se manter. “Eu me matriculei, mas precisei trancar porque eu não conseguiria sobreviver sem trabalhar, apenas estudando”, relembrou.
Mas algumas histórias precisam apenas de tempo para acontecer. Com muita dedicação e perseverança, o jovem de apenas 21 anos ingressou na Ufal, não como estudante, mas sim como servidor. Em 1982, foi aprovado na 14ª colocação em um concurso público do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp) para preenchimento de cargos na Escola Técnica de Alagoas [atual Instituto Federal de Alagoas, o Ifal] e sua vaga foi aproveitada pela Universidade, em um cargo administrativo. Com isso também pôde iniciar sua graduação em Agronomia no mesmo ano.
“Eu fiz carreira na Universidade. Trabalhei como técnico-administrativo, sou professor, coordenei a Extensão, fui pró-reitor. Na Ufal, eu só não fui reitor”, brincou.
Em 1988, dois anos após concluir o curso, ingressou no mestrado em Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Em seu retorno, trabalhou por um ano na Fazenda São Luiz, propriedade da Ufal em Viçosa, onde atualmente funciona o curso de Medicina Veterinária. Mas foi em 1994 que Zé Roberto prestou concurso para o quadro de docentes da Ufal.
“A Ufal para mim era um sonho. Decidi trilhar este caminho devido ao exemplo de dois tios e, agora, a Universidade para mim significa a própria vida. Minha história se confunde com a história da Ufal porque quando as pessoas que conheço olham para mim, lembram da Universidade”, comentou.
A carreira acadêmica abriu portas para o professor em diversas esferas da sua vida. A partir dos seus estudos, o docente conheceu e viveu em outros estados do Brasil e fez parte do seu doutorado na Tokyo Agriculture and Tecnology University, no Japão. “Uma experiência marcante, sem dúvidas”, afirmou.
De volta à Ufal, o professor dividiu seu tempo entre as salas de aulas e diversos cargos de gestão. Ao relembrar sua trajetória, fala com especial carinho sobre a extensão universitária. “Foi a área com que mais me envolvi. Eu adoro essa relação com a sociedade. Então desde estudante eu trabalhei com assentamentos rurais, gostava muito desse contato próximo com os agricultores, que é algo que faço até hoje”, disse.
Paixão pela extensão
Essa paixão pela aproximação entre a universidade e a comunidade em seu entorno o levou a assumir a coordenação e da Pró-reitoria de Extensão. Durante doze anos, o professor se dedicou a este pilar do ensino universitário.
“Eu entrei na área administrativa da extensão em uma época de discussões nacionais sobre o que fazer com a extensão. Sempre houve recursos para a pesquisa, mas não havia para a área de extensão, mas é justamente ela que dá o retorno social ao que é desenvolvido dentro dos muros das universidades. Então, eu creio que a minha maior contribuição foi em lutar por esse reconhecimento e por sua curricularização, dentro das minhas possibilidades”, avaliou.
Quando repensa os momentos mais importantes de sua trajetória, o professor fala sobre a produção de alimentos na Fazenda São Luiz para o consumo na Ufal. O que era plantado na propriedade se destinava às refeições servidas no Restaurante Universitário e no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HU) da Ufal. Segundo o professor, era um orgulho para ele saber que os estudantes e servidores podiam se alimentar de algo que era produzido pela própria instituição.
A paixão pela Agronomia ultrapassa suas atividades laborais. “Eu gosto muito da área de agroecologia e agrofloresta. Então, mesmo quando eu não estou trabalhando, estou envolvido com isso”, confessou. Em seu tempo livre, o professor também se dedica à leitura. Viciado nos livros, o professor conta que lê, no mínimo, dois títulos por mês.
Após tantos anos de serviço, Zé Roberto já ganhou o direito de se aposentar, mas o professor não se vê longe da Universidade nem das salas de aula. “Percebo que terei muita dificuldade de fazer isso. O motivo é que eu adoro a Ufal, eu não me vejo fora das salas de aula. Adoro os estudantes, a graduação é o meu paraíso. Estou sentindo muita falta dos meus alunos por conta da pandemia”, afirmou o docente.
Para o futuro, o professor tem planos de adquirir um sítio e dar continuidade ao seu trabalho por meio do plantio. “Meu sonho é continuar, deixar um legado de agrofloresta aqui no Estado de Alagoas, no Brasil e no mundo. Posso dizer que é meu grande sonho”, finalizou. E, conhecendo a história de lutas, dedicação e realizações desta ilustre figura da Universidade, sabemos que é certamente mais um sonho que se concretizará.