Minha História na Ufal conta a trajetória do servidor Avelar Brandão
Ele tomou posse na segunda gestão da Ufal, quando o diploma de datilografia era obrigatório
- Atualizado em
José Avelar Brandão da Silva é um técnico-administrativo bastante conhecido em toda a Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Não poderia ser de outra forma, pois atuou muitos anos no antigo Departamento de Pessoal (DP), onde mantinha contato com todo o quadro de servidores da instituição, além do seu engajamento nas lutas da categoria. Avelar está prestes a completar 50 anos de serviço, e ainda está na ativa!
Sempre estudou em escola pública, tendo cursado o primário no Grupo Escolar Tomaz Espíndola, no bairro da Levada. O antigo ginásio foi na Escola Industrial Marechal Deodoro da Fonseca (hoje Ifal), no final da década de 1960. Concluiu o Científico no início dos anos 1970, no Colégio Estadual de Alagoas, que disputava, à época, com o Colégio Estadual Moreira e Silva o título de melhor dos dois e quem aprovava mais estudantes na Ufal.
Para conseguir a vaga de servidor da Ufal, Avelar lembra que o primeiro passo foi fazer o curso de Datilografia, requisito obrigatório nos concursos realizados pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), com sede em Brasília. “Em 1971, obtive meu diploma, com toda a solenidade que a ocasião exigia, já que, na época, essa era uma habilitação profissional relevante”, lembrou o servidor.
Em 1972, Avelar prestou concurso e foi aprovado. Em março de 1973 recebeu, por telegrama, a convocação do Dasp para tomar posse, na altura dos seus 21 anos. “Fui empossado no gabinete do segundo reitor da Ufal, o general do Exército, Nabuco Lopes. Na época, a Reitoria ficava na Avenida da Paz, no Centro de Maceió. Antes de assinar a ata, tive que entoar o Hino Nacional, sozinho, diante do general”, recordouBrandão.
A gestão da Universidade era dos militares, que dominavam a vida política do país naquele período. “O diretor do Departamento de Serviços Gerais, o chefe do Setor de Transportes, o chefe do setor de compras, o coordenador de Atividades Estudantis da Proest [Pró-reitoria Estudantil] eram todos militares do Exército. E ainda tinha a Assessoria de Segurança e Informações (ASI), que funcionava na última sala do corredor da residência estudantil masculina. O chefe da ASI, claro, era um militar do Exército. Havia também os informantes infiltrados nas categorias, inclusive nas salas de aula”, enfatizou o servidor.
Cultura, amor e resistência
O servidor José Avelar Brandão da Silva sempre foi bastante atuante. Além das tarefas administrativas, integrou grupos culturais, como o jogral, que era um coro para declamar poemas e textos literários, muito em voga na época. “Certa vez, nos apresentamos em uma solenidade oficial realizada no auditório da Reitoria, na praça Sinimbú. Estavam comigo: Denise Codá [in memorian]; Manoel Messias (Mané Carequinha), ainda na ativa; Kátia Silva [in memorian]; José Fernandes Costa Silver e Maria Berenice Porciúncula, assistente social aposentada”, relatou Brandão.
Ele também participou do Teatro Universitário, sob a direção de Wolney Leite, e se apresentou em várias cidades do interior alagoano, como Viçosa, Penedo, Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, dentre outras. E era bastante assediado para participar do Pastoril, dirigido pela professora Maria Carrascosa [in memorian]. Com tantas atividades culturais, Avelar ainda arranjou tempo para integrar o time de futebol dos servidores.
Além de trabalhar, Avelar queria estudar. Poucos servidores técnico-administrativos tinham curso superior na década de 1970. Ele prestou vestibular para Administração, e, a partir de 1974, passou a ser também universitário. Conciliar estudo e trabalho, não era fácil, mas para o jovem irrequieto, dava para organizar a agenda. “Eram tempos difíceis, mas, apesar de tudo, éramos alegres. As aulas aconteciam no Campus Tamandaré, aquele lugar lindo entre as lagoas e o mar. No final de cada semestre, a turma ia comemorar no restaurante Maré, no Pontal da Barra”, relembrou o servidor.
Para ir até o Campus Tamandaré, os estudantes esperavam carona na Avenida da Paz. “Poucos estudantes tinham carro naqueles anos. Ficavam filas enormes no acostamento e dava para saber quais os cursos de cada um, porque as pastas eram de cores diferenciadas: azul para Administração, vermelha para Direito, verde para Serviço Social, e por aí vai. Quem era estudante e servidor como eu, não conseguia pagar todas as disciplinas do semestre, por isso passei mais de quatro anos para concluir o curso”, contou.
Como estudante de Administração, Avelar teve a oportunidade de fazer estágio de Parlamentar Universitário no Congresso Federal, em 1977. Ainda havia reflexos dos acordos entre o Ministério da Educação e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que vigoraram até 1971. Um resquício era sistema de créditos de disciplinas. “Meu projeto foi sobre a extinção dos regimes de créditos, que tinham sido implantados nesse período para acabar com o espírito de turma”, declarou Avelar. O regime acadêmico seriado só voltou a ser implantado na Ufal em 1995.
Mesmo com toda a censura do período e o serviço de informações observando todos os movimentos, Avelar participou da organização estudantil e representou o curso de Administração no Diretório Central dos Estudantes. “Fazíamos reuniões nas casas dos militantes e aconteciam muitas conversas no restaurante universitário. Lembro bem do meu conterrâneo de Viçosa, Aldo Rebelo, muito magro e pálido, de chinelas de dedo, chegando para pegar o bandejão onde serviam as refeições”, recordou Avelar.
Nessas idas e vindas, entre trabalho, estudo e reuniões estudantis, Avelar conheceu Ângela Maria de Oliveira, naquela época, uma estudante que vinha do município de Junqueiro para cursar Serviço Social. “Nos aproximamos numa das reuniões estudantis realizadas na casa de um amigo em comum, no Trapiche. Ângela também era militante do movimento estudantil e representante acadêmica no curso dela. Depois de uns três anos de namoro, nos casamos, em 1979, mesmo ano em que concluí o curso de Administração. Na década de 80, ainda consegui cursar Direito no Cesmac”, relatou.
Movimento Sindical e democracia
E ainda tem muitas histórias nesses quase 50 anos de trajetória de Avelar, dentro dos 60 anos da Ufal. O movimento sindical é um longo capítulo com muitos acontecimentos. É preciso lembrar que nesse período da Ditatura Militar, a organização sindical dos servidores públicos era proibida. Mas a categoria se organizava em associações que tinham uma atuação mais assistencialista e de promoção de festas e de lazer. “Isso não impedia o debate político e a luta por direitos civis, sociais e trabalhistas”, ressaltou Avelar.
Além de líder estudantil, Avelar estava presente nas atividades da categoria. Assumiu, por meio de eleição, a segunda gestão da antiga Associação dos Servidores da Ufal (Assufal). “Nessa época fui alvo de processo administrativo disciplinar por ter, segundo a visão dos militares no poder, ofendido as Forças Armadas quando eleito para a presidência da entidade, que anos mais tarde, com a garantia constitucional de sindicalização dos servidores públicos, se tornaria Sindicato dos Trabalhadores da Ufal (Sintufal)”, narrou o servidor e sindicalista.
Avelar representou a Assufal no 1º Encontro Nacional dos Servidores das Universidades Federais, realizado em Belo Horizonte (MG). Nesse evento, os delegados hospedaram-se no Ginásio do Mineirinho e debateram a criação de uma Federação de Associações para unificar as pautas da categoria dos técnicos-administrativos em todo o país. Foi como nasceu a Fasubra, fundada em 1978, em Natal (RN), na qual Avelar compôs a primeira direção. “Em 1994, participei do 5º Congresso Nacional da CUT, em São Paulo, juntamente com Ângela, ambos delegados da base, eu pelo Sintufal e ela pela Adufal”, contou Avelar.
Cargos, representações e lições de vida
No currículo de Avelar, como técnico-administrativo da Ufal, constam várias funções exercidas com muita dedicação. Foi diretor da Imprensa Universitária e do Departamento de Serviços Gerais; diretor de divisões e chefe de seções do Departamento Pessoal (atual DAP); coordenador da Coordenação de Órgãos Colegiados, atual Secretaria dos Órgãos Colegiados Superiores (Secs); atuou em assessorias e foi lotado nos Departamentos de Patologia, Física e Química.
José Avelar representou e ainda representa os técnico-administrativos em várias comissões para tratar de questões da carreira de servidores públicos. Foi indicado como conselheiro junto aos Órgãos Colegiados Superiores: Conselho Universitário (Consuni) e Conselho de Curadores (Cura). Também foi representante da categoria no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Há mais de quinze anos, vem exercendo a advocacia no Escritório Modelo da Faculdade de Direito de Alagoas (FDA), no Fórum Universitário.
Perto de completar 70 anos, em março de 2022, e com uma vida ligada à Ufal e aos movimentos sociais, Avelar continua testemunhando, inclusive para os seus sete netos, a importância do engajamento na defesa da democracia, como uma conquista do povo brasileiro que precisa ser preservada. “Precisamos estar atentos nesse momento que estamos vivendo. A comunidade universitária deve ter um papel ativo na consolidação do Estado Democrático de Direito”, finalizou Avelar.