Defesa de memorial é um marco na trajetória de Amauri Barros na Ufal

Atual pró-reitor de Graduação, ele compartilhou sua história de vida em cerimônia virtual

Por Izadora García – Relações Públicas
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A defesa do memorial acadêmico é um dos momentos mais importantes para um docente do magistério superior. É requisito para a promoção ao nível mais alto da carreira universitária e o candidato, em 40 minutos, resume sua trajetória de vida dedicada à educação. Na última sexta-feira (21), foi a vez do atual pró-reitor de Graduação, Amauri Barros, passar por esse processo. A defesa, que aconteceu virtualmente devido à pandemia de covid-19, o consagrou como o mais novo professor titular da Universidade Federal de Alagoas e, neste ano em que a Ufal completa 60 anos, foi um marco na história de dedicação do professor na instituição.

Participaram da Comissão Especial, como membros titulares, os professores Hilário Alencar (Ufal), Daniel Cordeiro (UFCG), Everaldo Souto (UFPB) e Gregório Pacelli (UFC). Além deles, estiveram presentes Krerley de Oliveira (Ufal) e Barnabé Pessoa Lima (UFPI), como suplentes. Após a apresentação do memorial, a banca decidiu pela aprovação de Amauri Barros com a nota 9,8.

“Gostaria de parabenizá-lo, não apenas pela sua linda trajetória na Universidade, como também por este memorial, que deve ser disponibilizado para todos, pois trata-se de uma obra-prima”, elogiou Hilário Alencar, que presidiu os trabalhos.

“Parabéns Amauri! Obrigada por toda a contribuição que já deu à Ufal e à minha formação também, sendo importante para o que fui, o que sou e o que serei no futuro. Orgulho de ter sido sua aluna e de hoje trabalharmos juntos”, comentou Francine Paula, professora do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB).

É simbólico que o ponto mais alto da carreira de um excelente professor, pesquisador e gestor da Ufal aconteça no ano em que a Instituição completa 60 anos de sua existência. Em 34 destes, Amauri, enquanto aluno ou servidor, esteve sempre presente, sendo atuante e dedicado a transformar não apenas a Universidade em um lugar melhor, mas também a vida das pessoas que passam por ela.

“São poucas pessoas que, na Universidade, elas conseguiram dar contribuição efetiva à Instituição. E no seu caso, meu caro [Amauri], eu tenho certeza disso”, afirmou Alencar.

A história de Amauri da Silva Barros com a educação pública vem desde o início de sua formação. O professor passou por todas as etapas de ensino, desde o básico até a pós-graduação, em instituições públicas. O filho de agricultores, nascido na Zona Rural do Município de Mar Vermelho, viu a educação transformar a sua história e a dos seus 11 irmãos, dez dos quais também concluíram o ensino superior.

Para isso, contou com o apoio incondicional dos pais e dos padrinhos para concluir os estudos, e também com sua própria dedicação e perseverança, chegando a andar 10 km de estrada para frequentar as aulas, no município vizinho. A tradição da educação como instrumento potencializador de histórias, passou para seus alunos, assim como para seus filhos Larissa, Lucas e Amauri Júnior.

"Meu pai sempre foi um referencial na minha vida, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Desde que eu era pequena, ele tinha o costume de levar meus irmãos e eu para a Ufal, para que pudéssemos nos familiarizar com o lugar onde iríamos estudar futuramente", conta Larissa Madeiro, estudante de Relações Públicas e filha do professor. 

"Eu o vi sair de casa, inúmeras vezes, aos sábado pela manhã, com o carro cheio de ábaco, material dourado, e lanches para as "crianças", como ele costumava chamar os alunos de outras cidades do estado, que iam assistir às aulas extras.  Ele sempre fazia questão de ir falando sobre a importância do estudo nas nossas vidas e deixava claro que tudo que conseguiu na vida foi por meio da educação. Meu pai nunca se contentou em transformar só a vida dele. Durante os 29 anos de Ufal, entre professor e aluno, ele lutou e luta todos os dias pra que mais pessoas tenham dignidade de vida por meio do ensino, para que a Universidade seja cada vez mais um espaço de transformação. A careca e as olheiras são as marcas do esforço de quem acredita que só a educação salva. Hoje eu sei o valor do ensino na minha vida e isso eu devo ao meu pai", complementa.

Anos depois, Amauri se mudou para a capital, Maceió, no intuito de prosseguir com sua formação. À época, trabalhou como caixa de supermercado, economizando para se manter na cidade e pagar a mensalidade do cursinho, que frequentava com o sonho de ingressar no ensino superior.

Docência, matemática e gestão

Em 1987, Amauri ingressou, finalmente, na Licenciatura em Matemática na Ufal. Não era a primeira escolha de curso. Devido à história de vida ligada ao campo e ao exemplo dos pais na agricultura, o professor tentou, inicialmente, ingressar em Agronomia. Mas o destino havia reservado uma surpresa. Ao se dedicar aos números, redescobriu um dom. “Desde o início do ensino básico já me identificava com a área de Matemática. Sempre aprendi com certa facilidade as técnicas desta ciência e suas estratégias de raciocínio”, destacou.

Entretanto, por dificuldades financeiras, precisou se afastar das salas de aula enquanto aluno por alguns meses. Mas a matemática continuava ali: nas escolas e nas aulas particulares que ministrava para se sustentar. Sem perceber, a docência se tornou uma paixão.

“Sempre gostei de lecionar e me considero um bom professor. Acredito que a pedagogia aplicada, como se ensina, é tão importante quanto o que se ensina. De minha experiência com o ensino, sei que a clareza da apresentação e o saber colocar-se no lugar do aluno, lembrando-se de suas experiências de aprendizado, são também dois aspectos chave do processo pedagógico”, explicou Barros.

Na graduação, foi um aluno bem ativo, que se dedicou tanto ao estudo dos números quanto às lutas pela melhoria da Universidade. “Fui um universitário comprometido com o aprendizado e com a busca frequente por conhecimento. Durante a realização do curso, fui coordenador do Centro Acadêmico de Matemática e membro do DCE [Diretório Central dos Estudantes], onde tive a oportunidade de convivência com colegas e contribuí para a reestruturação destes espaços”, relembrou.

Em 1993, Amauri iniciou uma especialização em Matemática e, já no ano seguinte, ingressou no mestrado na Universidade Federal do Ceará. “Cursar o mestrado foi um dos momentos de maior aprendizado em minha vida, principalmente para a minha carreira docente. Foi no mestrado que compreendi o papel de um professor em sala de aula e estudei temas que jamais escolheria estudar por opção”, explicou.

Ao concluir o mestrado, no ano de 1996, Amauri se candidatou a uma vaga para professor efetivo na Universidade Federal de Alagoas, na área de Análise Matemática. Aprovado no processo seletivo, tomou posse e, após três meses de trabalho, foi escolhido para coordenar o curso de licenciatura em Matemática. Sua dedicação e capacidade resolutiva lhe renderam o primeiro cargo de gestão na Ufal.

“Amauri sempre foi uma personalidade expansiva. É dedicado, tem capacidade de trabalho e muito poder de agregar”, explicou Josealdo Tonholo, reitor da Ufal. “Além de ser extremamente carismático, uma figura sempre lembrada com carinho pelos seus estudantes, ele tem um histórico de colaboração ímpar na Universidade.

Conquista

No ano de 2000, mais uma conquista acadêmica e profissional: foi aprovado no processo seletivo para o doutorado na Unicamp. “No dia 21 de fevereiro de 2000 viajei a Campinas com minha esposa e os três filhos, o mais novo com 17 dias, em busca do sonho de fazer o doutorado e retornar para contribuir melhor com a Ufal”, disse Amauri.

Ao retornar, dividiu-se entre as tarefas de ensinar, pesquisar e de gerir, um dom desenvolvido ainda enquanto estudante, como representante da pós-graduação no mestrado e no doutorado. Fez parte de grandes projetos de desenvolvimento do Instituto de Matemática e da própria Universidade: liderou o processo de reconhecimento do curso de Matemática, coordenou projetos, trabalhou no processo de expansão e interiorização da Ufal, auxiliou na construção do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências Matemáticas e na implantação de novos polos EaD. Uma trajetória extensa e difícil de resumir, principalmente, porque ainda está em curso.

Hoje é, pela segunda vez, pró-reitor de Graduação da Ufal, assumindo um desafio ímpar em sua carreira enquanto docente e gestor: a implementação de um modelo de aulas remotas, imposto repentinamente pela pandemia da covid-19.

“Falar do professor Amauri é uma tarefa muito fácil, pois estamos nos referindo a um servidor extremamente comprometido, extremamente dedicado, que realmente coloca amor em tudo que faz, em prol da nossa Instituição. Ele tem a capacidade de valorizar as pessoas, o que termina motivando todo o grupo a trabalhar com o mesmo entusiasmo que é característico dele. Com seu talento, é capaz de se reinventar e propor novas formas de lidar com os desafios, o que tem sido especialmente importante nesta situação de pandemia”, avaliou Alexandre Lima, pró-reitor Estudantil.

Indagado sobre o futuro, Amauri tem planos de seguir contribuindo com a Universidade, enquanto for possível, pois a Ufal é parte indissociável de sua história de vida. “Foi nesse jardim de flores, espinhos e muros que me tornei parte do mundo e deixei a instituição Ufal fazer parte”.

Queria parabenizar o Amauri e agradecer o privilégio de acompanhar a carreira dele, que agora chega ao ápice na situação de professor titular”, finalizou Tonholo.