Do encontro de Alfa e Ômega aos desafios do amor além-mar
E a Ufal, além de cenário, funcionou como coadjuvante da linda e emocionante história de Rose e Eri
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Cumplicidade. É o elemento que muitos buscam nos relacionamentos amorosos e a palavra mais utilizada para definir o casal Rose Ferreira e Erivaldo Farias por quem os conhece. A história dos dois, que hoje conta com um capítulo especial além-mar, se confunde com a da Universidade Federal de Alagoas porque foi lá, participando do Movimento Alfa e Ômega, onde estudaram, se conheceram e trabalham até hoje. Nada mais emocionante do que fazer parte da história dos 60 anos da Ufal.
Erivaldo e Rose eram jovens estudantes quando se encontraram pela primeira vez, no final de 2004. Ela cursava Jornalismo e ele, Serviço Social. No ano seguinte, começaram a conviver no Movimento Estudantil Alfa e Ômega [hoje Cru Campus], um grupo cristão universitário. O interesse foi recíproco, mas a aproximação aconteceu aos poucos. E, após uma brincadeira sobre o Dia dos Namorados na Praça dos Bancos veio a coragem e as coisas começaram a fluir.
Ainda em junho, o namoro teve início. 16 anos após o primeiro “sim”, a amizade, o respeito e os risos soltos continuam a fazer parte da rotina do casal. Após a graduação, o relacionamento dos dois foi posto à prova pela primeira vez: o trabalho voluntário no Cru Campus os levou para cidades diferentes por um ano. Rose ficou no Rio de Janeiro e Eri em Fortaleza.
“Num tempo sem Whatsapp e sem internet móvel tão difundida, nos falávamos uma vez por semana pelo orelhão, graças à promoção Oi 31 anos. A ligação era gratuita aos domingos quando falávamos”, lembrou Rose. Então, o ditado de que relacionamento a distância não dá certo, eles são uma prova viva de que quando há amor, a cumplicidade cresce mesmo nas adversidades.
No meio desse período, o casal veio à Maceió para passar as festas de fim de ano com a família. E foi neste momento que eles noivaram. Ao voltar em definitivo para a cidade natal, começaram os preparativos para o casamento, que aconteceu em fevereiro de 2008, em uma festa totalmente regional, cheia de amigos dos quatro cantos do Brasil. “Queríamos que todos conhecessem nossa cultura. Meu vestido foi todo de filé e no buffet tinha macaxeira, cuscuz e carne de sol”, explicou Rose. Do casamento vieram dois frutos: Alice, de 8 anos e Heloísa, de 3. Duas meninas inteligentes e engraçadas, um misto das personalidades dos pais.
“Eu me orgulho porque Rose e Eri são um exemplo de cristãos, de casal em convivência, de pais e de pessoas e é por isso que eles são tão abençoados por Deus”, afirmou Betânia Carvalho, mãe de Rose. Já o pai de Rose, Valtair Carvalho, afirma que a união do casal é um exemplo para todos que os cercam. “São unidos, uma linda família, agradeço muito a Deus pela vida deles. Eles são uma bênção, minha filha e meu genro, é exemplar a forma como se tratam e criam seus filhos”, completou.
Parceria na vida e no trabalho
Ainda em 2008, Rose foi empossada como assistente administrativa na Ufal. A nomeação de Erivaldo como técnico em Serviço Social aconteceu cinco anos depois, em 2013. O casal passou, então, a dividir a rotina e ter a Ufal como um segundo lar. Para o casal de servidores, trabalhar no mesmo local, quando se está em um relacionamento saudável, só traz benefícios. “É possível dividir o carro, almoçar juntos, ter um relacionamento em tempo integral é uma experiência bem interessante”, afirmou Rose.
"Rose e Eri são amigos muito queridos que a Ufal me deu. É muito bom poder fazer parte da vida deles, enquanto colegas de trabalho e enquanto família, já que nossa relação ultrapassou os muros da Universidade. Eu vejo neles um exemplo de casal que se ama, se respeita e busca levar a vida a dois com harmonia e leveza. E essa sintonia entre eles acaba reverberando em quem convive, seja no trabalho ou fora dele. É muito bacana isso!”, declarou Janaína Alves, Relações Públicas da Ufal e uma das melhores amigas de Rose.
A rotina laboral em um ambiente universitário fez com que os dois cultivassem o interesse na área acadêmica, partilhando o objetivo comum de ingressar em um mestrado. E depois de muito planejamento, com uma rotina familiar já mais bem estabelecida, veio a oportunidade de pôr os planos em prática. Do outro lado do oceano, em Portugal.
“Somos muito gratos também por trabalharmos em uma instituição de Educação, que incentiva a qualificação de seus servidores, seja através de licenças ou redução de carga horária, porque são essas oportunidades que permitem que os servidores possam retornar e oferecer um trabalho mais qualificado, que vai beneficiar não só a universidade, mas a sociedade alagoana como um todo. Todos juntos pela educação”, afirmou Rose, que sente muita saudade da rotina e dos colegas d trabalho.
União Brasil-Portugal
O desejo inicial de estudar fora do país, mais especificamente em Portugal, veio de Rose. “Desde o fim da minha graduação, eu tinha um desejo muito forte de estudar em Portugal, porque meu orientador fez pós-doc aqui e me incentivou muito a publicar meu TCC na Biblioteca On-line de Comunicação daqui, então ficou aquele sentimento de ‘um dia, eu estudo em Portugal’, sabe? Mas com a chegada das crianças e mil e uma responsabilidades, não era o momento de mudar de país”, explicou Rose.
Mas no final de 2018, o sonho voltou a falar mais alto e a possibilidade de solicitar à Ufal uma licença qualificação permitiu tirar os planos do papel. Rose, conhecida pelos colegas de trabalho por sua organização e capacidade exemplar de fazer acontecer, começou a buscar universidades portuguesas, pesquisar os cursos disponíveis, bem como também a avaliar aspectos práticos como custo de vida. E assim, após uma longa e detalhada jornada, o casal optou pela Universidade do Porto e submeteu as candidaturas.
Em 2019, Rose, Erivaldo, Alice e Helô partiram para a maior aventura de suas vidas. Eri está na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP) fazendo mestrado em Ciências da Educação. Rose ingressou na Faculdade de Engenharia (FEUP) e cursa o mestrado em Multimédia. Os dois se revezam nos estudos e nos cuidados com a casa e com as meninas, que também estudam no país.
A jornada, que já seria por si só difícil, contou com mais um obstáculo: a epidemia de covid-19, que atingiu o mundo inteiro. Apesar de ter sido um exemplo no controle de casos na primeira onda, em 2020, o país esteve à beira de um colapso no sistema de saúde, no início deste ano.
“Eu brinco que o universo achou pouco e colocou uma pandemia no meio do caminho. Lockdown, incertezas, câmbio nas alturas e quatro estudantes dentro de casa em ensino remoto. Houve dias em que eu, Alice e Eri estávamos em aula simultaneamente. Troquei fralda enquanto assistia aula. Apresentei trabalhos com Heloísa no colo. Gravei apresentações tarde da noite, porque era o único horário com silêncio em casa”, relembrou Rose.
“Vocês são muito corajosos”
Desde quando o casal começou a contar para amigos e familiares sobre os planos de fazer um mestrado, fora do país, com duas crianças pequenas, a frase que mais ouviram foi “vocês são muito corajosos”. A frequência aumentou depois da pandemia. Para muitos, a rotina pesada somada às incertezas de viver uma fase tão difícil longe da segurança de estar em casa é inimaginável. Mas quando estamos ao lado de quem amamos, é possível superar as dificuldades porque todo lugar é seguro e pode ser chamado de lar.
“Eu me orgulho demais dessa coragem que tiveram de ir para Portugal. Ficar longe deles e das minhas meninas foi muito doloroso, mas jamais eu poderia impedir. Sempre dei força porque eu sei que era um sonho que está se concretizando e também sei que esse sonho nasceu primeiro no coração de Deus. Estou morrendo de saudade deles e das minhas pequenas, contando os dias, as horas e os minutos para poder abraçá-los”, afirmou Betânia, emocionada.
“Muitas pessoas dizem que somos loucos ou muito corajosos. Eu não sei se foi loucura ou coragem, mas de uma coisa temos certeza: foi e é Deus quem está conduzindo todos os nossos dias aqui. Sem Ele, já teríamos surtado há muito tempo”, disse Rose.
Vivendo um sonho no meio de uma pandemia
Segundo Rose, apesar de toda a angústia que estar longe do resto da família em uma pandemia representa, viver a experiência em outro país foi, de certa forma, positiva, pela situação dramática em que o Brasil se encontra. “Entendemos que estarmos em Portugal nesse período foi o melhor para as crianças, principalmente, pelo retorno seguro às aulas presenciais e pela qualidade do ensino remoto. Sem falar das opções de lazer seguras ao ar livre, que também nos ajudaram a ‘respirar’, e que não teríamos se estivéssemos aí”, explicou.
Para Erivaldo, as dificuldades tornaram o casal mais unido e confiante da escolha de construírem um futuro juntos. “Curiosamente, e infelizmente, a realidade da pandemia meio que uniformizou experiências mundo afora, mas as implicações para os relacionamentos foram singulares... Para nós, o distanciamento do restante de nossa rede de afeto, de nossa família, e a necessidade de contarmos um com o outro para dar conta das responsabilidades com o mestrado e com as crianças nos fortaleceu”, avaliou.
O servidor afirma que a convivência “forçada” com a família durante o isolamento, levou o relacionamento a outro patamar. “Entendo que essa experiência de formação fora do país e numa condição de excepcionalidade imposta pela pandemia nos levou a um amadurecimento do que construímos juntos, de nosso afeto, companheirismo e parceria. Reafirmando a convicção do quão acertada foi a decisão de compartilhar da vida com ela, de tê-la como minha companheira, como mãe das minhas filhas, como a mulher da minha vida!”, declarou, apaixonado, Erivaldo.
“Voltaremos para Maceió com muitas coisas boas na bagagem: conhecimento, maturidade, amizades e a certeza de que vale a pena correr riscos (de forma planejada) para alcançar objetivos e viver coisas novas”, finalizou Rose.