Pesquisadores da Ufal identificam ação de microparasitas em peixes
Estudo mostra que parasitoses provocam aglutinação das células sanguíneas e podem impedir o transporte de oxigênio para tecidos e órgãos
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Com experiência nos estudos sobre animais aquáticos e várias pesquisas em andamento sobre o tema, o professor Emerson Soares, do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca) da Ufal, apresentou mais um importante e atual trabalho sobre parasitoses que podem acometer peixes. O artigo, que também tem autoria da pesquisadora do Ceca, Themis Silva, e de uma equipe da Universidade do Porto (Portugal), foi publicado na Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária (Brazilian Journal of Veterinary Parasitology), neste mês de janeiro.
“O artigo traz uma informação bastante relevante para a situação da ictiofauna e dos peixes. Trata-se de um problema de parasitoses que traz aglutinação das células sanguíneas e sugere que pode impedir o transporte de oxigênio para tecidos e órgãos dos peixes”, explica Soares. Ele acrescenta que, isso acontecendo, “pode ocorrer necroses nos tecidos ou outros problemas para o funcionamento fisiológico desses animais”.
O problema identificado pela dupla de pesquisadores da Ufal pode acometer qualquer peixe, não só os de Alagoas, pois isso independe do local. “A descoberta que fizemos é que microparasitas de peixes, que são pouco estudados, podem causar problemas nas células sanguíneas que transportam oxigênio para todos os tecidos e órgãos”, explica. E complementa: “Acontece que, devido aos poucos estudos sobre microparasitas, não sabíamos, ou não estava claro, que danos esses organismos produzem em peixes infectados. Agora, sabemos que um deles, possivelmente, é impedir que células sanguíneas transportem oxigênio e isso pode causar necrose nos tecidos”.
Soares conta que os microparasitas (mixosporídeos) analisados no artigo – Henneguya e Calyptospora – “têm relação com ambientes com indícios de poluição, com problemas na qualidade de água e com desequilíbrio ecológico”. Se os peixes infectados ficam inservíveis para alimentação ou se há algum impacto para a saúde humana, o pesquisador explica que, “a priori, não ficam impróprios para consumo humano, a não ser que se caracterize que a região onde se encontram esteja com altos índices de contaminação na água”. Contudo, destaca o professor, os consumidores devem observar a “boa conservação do pescado, a limpeza e o cozimento adequado”.
Mais estudos sobre o tema serão realizados, pois a preocupação é apresentar medidas para diminuir ou até mesmo resolver o que foi identificado. “O artigo apresenta um problema novo, uma nova descoberta: como esses microparasitas, que são pouco estudados, podem causar problemas aos peixes. É uma nova situação e, agora, precisamos nos debruçar mais para entender como mitigar esse problema”.
O artigo Hemaglutinação em capilares branquiais de sargo-de-dente, Archosargus probatocephalus (Perciformes: Sparidae) infectado por um mixosporídeo é resultado de pesquisas realizadas na Ufal, em cooperação com a Universidade do Porto, e faz parte do projeto de monitoramento aquático dos rios alagoanos. O arquivo pode ser acessado ao fim da matéria.
Cartilha para coleta de peixes
Outra publicação recente dos pesquisadores do Ceca/Ufal é uma cartilha que busca melhorar a forma de coletar peixes quando acometidos por problemas decorrentes de poluentes ou parasitoses. O material foi publicado com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ Alemanha), especializada em projetos de desenvolvimento sustentável.
O material produzido é destinado à população ribeirinha, aos técnicos das prefeituras e às agências de extensão. “A cartilha servirá para nortear, de forma prática, os técnicos e a própria população ribeirinha sobre como coletar água e pescado, em casos de água contaminada com agroquímicos, esgotos ou acometida por infestação parasitária, ou seja, situações que poderão prejudicar a população ou levar a grandes eventos de mortalidade, comuns em alguns rios e lagoas daqui do estado”, explica Emerson.
Em casos de acidentes aquáticos com substâncias contaminantes ou surtos de parasitoses, Soares afirma que o tempo de coleta é fundamental para garantir uma análise fundamentada. O objetivo da cartilha é informar os que se encontram próximos à localidade para realizá-la o quanto antes. “Um ponto-chave em eventos de contaminação é a rapidez em coletar a água e o pescado, além de conservá-los, para que possamos realizar análises laboratoriais com qualidade”, diz.
E esclarece: “O tempo de acontecimento do evento e a análise são cruciais para que tenhamos respostas mais conclusivas. A população ribeirinha está bem próxima ao local e são os primeiros a entrar em contato com a situação. Então, através das cartilhas e do treinamento, que já foi dado em algumas regiões e municípios, os ribeirinhos treinados podem colaborar com pesquisadores e instituições de fiscalização, diminuindo esse tempo de amostragem e colaborando com as coletas”.
A cartilha foi feita por meio do projeto de monitoramento ambiental dos rios da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, uma unidade de conservação federal localizada entre Pernambuco e Alagoas, com financiamento da GIZ Alemanha. O material está disponível neste endereço.
O pesquisador informa ainda que, em breve, o material vai ser impresso e distribuído para associações e comunidades.