Pesquisadora da Ufal é eleita para a Academia de Agricultura da França

Agora como membro titular da AAF, Vera Dubeux é professora do Campus de Engenharias e Ciências Agrárias

Por Diana Monteiro - jornalista
- Atualizado em
Pesquisadora Vera Dubeux, membro titular da AAF
Pesquisadora Vera Dubeux, membro titular da AAF

A Universidade Federal de Alagoas (Ufal) ganha mais um destaque internacional com a eleição e posse da professora e pesquisadora Vera Dubeux Torres como membro titular da Academia de Agricultura Francesa (AAF). O cargo ocupado pela pesquisadora alagoana, na referenciada academia, representa o fortalecimento das ações acadêmicas e científicas nas áreas de engenharia e ciências agrárias, onde ela tem dinâmica atuação na graduação e na pós-graduação no Campus de Engenharias e Ciências Agrárias (Ceca).

A indicação dela para a academia fruto de toda uma trajetória de trabalho desempenhado envolvendo o seu campus de origem e a França. Vera também é uma das pesquisadoras da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa). No Ceca, a professora leciona disciplinas nos cursos de graduação de Agronomia, Zootecnia, Agroecologia, Engenharia de Agrimensura, Engenharia Florestal, Engenharia Elétrica e Engenharia das Energias e na pós-graduação em Energia da Biomassa.

Indicada no final de 2021 para ser membro titular da AAF e empossada oficialmente em janeiro deste ano, a candidatura da pesquisadora da Ufal foi apresentada pelo professor Michel Dron e pela professora Catherine Renault-Roger, respectivamente da Université de Pais/Tech –Saclay e da Université de Pau/France. Ambos já foram coordenadores da Seção de Produção Vegetal na Academia, área onde Vera desempenha atividade científica.

“Para minha promoção à condição de membro titular, correspondente estrangeira, foi ressaltada a atuação e as interações franco-brasileiras realizadas, assim como minha participação em missões da AAF e em capítulos de livros. Um deles, por exemplo, trata dos desafios técnicos da agricultura [Faire face aux défis techniques de l’agriculture], publicado em 2019. Artigos elaborados a partir de grupos de trabalho da AAF, também se somaram aos critérios para a indicação”, frisou. Adiantou que, os atuais engajamentos da Academia francesa apontam para análises sobre o aquecimento global e desenvolvimento sustentável, agricultura biológica e convencional, produções energéticas americanas e, em particular, no Brasil.

A docente destaca que passar a pertencer a uma renomada academia internacional como a AAF, em conexão com suas atividades desempenhadas, é um enorme desafio, pelo abrangente trabalho que realiza em conexão com a realidade mundial. “Sem dúvida é um desafio enorme representar o Brasil, o nosso Estado e, em particular, a nossa Universidade nessa prestigiosa Academia que, ao longo dos anos, acolheu pesquisadores de renome e personalidades que marcaram época. A AAF é acionada sempre que algum fenômeno inquieta o mundo e, principalmente, o universo da agricultura e da pecuária. Ela realiza missões e valida relatórios que ajudam na tomada de decisão quanto a procedimentos a serem recomendados”, assegurou.

Vera Dubeux espera que essa possibilidade de atuação no espaço internacional ajude na condução de articulações no sentido de facilitar a inserção de alunos brasileiros e de outros países e colegas de trabalho nas instituições estrangeiras parceiras, por meio de acordos em prol do ensino, da pesquisa e da difusão de tecnologia. E complementa:

“Convém salientar que os engajamentos se acumulam dia a dia e esse é o desafio de todos que formam a nossa comunidade universitária. Cito como exemplo a crescente participação do professor Geraldo Veríssimo, diretor de pesquisa da antiga COONE-Planalsucar e atual coordenador do PMGCA/Ridesa, e do professor Gaus Andrade, diretor do Ceca, na condução das atividades da Rede, presidida pelo reitor da Ufal, Josealdo Tonholo.

Missão e atuação

Academie d’Agriculture de France foi criada em 1774 pelo rei Ls XV e constituída por personalidades eminentes no domínio da Agronomia, como Duhamel du Monceau, Buffon, Lavoisier, Malesherbes, Vilmorin, Pasteur. No denominado siècle deslumières [Iluminismo], passou a considerar essencial o desenvolvimento da agricultura utilizando e melhorando as tecnologias disponibilizadas pelos cientistas.

Vera destaca que, atualmente, a AAF se engaja em importantes análises evidenciando os projetos mais importantes em realização no século 21 ou por meio de análises prospectivas prevenindo o futuro. “A Academia tem como missão contribuir, no domínio científico, técnico, econômico, jurídico, social e cultural, com a evolução da agricultura, da pecuária e do mundo rural”, enfatizou.

Ainda sobre a atuação da academia, a pesquisadora da Ufal complementa dizendo: “A AAF estuda, analisa e emite pareceres sobre a produção, a transformação, a comercialização, o consumo e a utilização dos produtos da agricultura, floresta, pesca e suas transformações, valorizando a alimentação, a energia, entre outros. Além da gestão dos recursos naturais, em relação com a organização do espaço rural, melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida e sobre a dinâmica entre o rural e o urbano. Ainda dá o apoio científico a eventos, premia teses e fornece bolsas e medalhas aos premiados”.

Os membros da AAF são indicados e eleitos após criteriosa análise das suas trajetórias científicas e atuações junto à comunidade usuária dos produtos das pesquisas. Seguindo a tradição, a posse, com aprovação ao nome indicado, só ocorre depois da publicação do decreto presidencial francês. Alguns membros da academia são produtores que desenvolveram pesquisas e passaram a fazer uso de sistemas diferenciados que contribuíram para resolução de problemas da humanidade.

Articulação científica

A articulação de Vera Dubeux com a AAF começou em 2001, mas a sua trajetória no processo de formação acadêmica na França, deu-se 1996, ano que iniciou naquele país um curso de pós-graduação. “Paralelo ao curso, fui construindo uma relação com vários organismos franceses e essa trajetória me possibilitou a realização de vários convênios e acordos de cooperação entre a Ufal, organizações governamentais e não governamentais brasileiras e instituições ensino, pesquisa e extensão da França”, completou.

A docente aponta como um dos resultados das articulações construídas a oportunidade que teve de ministrar aulas e fazer conferências em várias instituições estrangeiras, por meio da parceria entre a Ufal e o Instituto do Bambu, do Sebrae. Citou como exemplo de sua atuação a Universidade de Paris 1, Universidade de Tecnologia de Compiègne (UTC), Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo (CRBC), Universidade de Havard (Estados Unidos) e Universidade de York (Inglaterra).

Além de atividades em outros espaços que possibilitaram a realização de pesquisas e eventos internacionais, a atuação de Dubeux, com estreitamento dos laços científicos, também possibilitou a promoção de eventos no Brasil. Como EnerBiomassa, RenovEnergia, Prospectiva do Cerrado e da Caatinga, Cabos Subterrâneos, oportunidade em que houve a difusão a importantes tecnologias. Entre elas, redes transportes de energia elétrica sem fio, Etanol 2G, energia solar espacial, biomassa com fins energéticos, produção de etanol 2G, dentre outras.

Com formação acadêmica iniciada na Ufal, mestre em Administração Rural, na França, Vera foi diplomada em Sociologia e Antropologia do Desenvolvimento (DEA) no Instituto Iedes na Sorbonne, onde realizou trabalho sobre o sistema de produção da cana-de-açúcar e de culturas agroalimentares sob a orientação do professor Maxime Haubert. Seu doutorado também foi na França, na área de Pesquisas Comparativas sobre Modelo de Desenvolvimento na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (E.H.E.S.S). A tese, sob a orientação do renomado professor Ignacy Sachs, tratou sobre a biomassa cana-de-açúcar e a geração de emprego e renda em um sistema sustentável de produção.

Atualmente, a pesquisadora está finalizando outro doutorado, desta vez em Agronomia, na Ufal, com desenvolvimento do estudo sobre produção vegetal. A tese, com orientação do professor Iêdo Teodoro, tem como foco os novos genótipos de cana-de-açúcar de conformidade com o ambiente de produção, enfatizando suas relações com as condições climáticas e a produção de biomassa com fins energéticos.

Como uma das pesquisadoras da Ridesa, Vera Dubeux destaca que a rede foi a base de sustentação para seu desempenho no mundo acadêmico e destaca que abraçou a profissão com muita satisfação de servir à formação de crianças, jovens e adultos. E aproveita para destacar:

“Este ano completo meio século de dedicação a essa nobre profissão e, na Ufal, estou há 31 anos. Iniciei minhas atividades de pesquisa e extensão em 1981, por meio do Programa Nacional do Melhoramento da Cana-de-açúcar, no extinto Planalsucar, e, que hoje, é desenvolvido pela Ridesa. A atuação na área de ensino, pesquisa e extensão é a grande chance que Deus me deu na vida para me colocar a serviço da complexa sociedade em que vivemos”.

Sobre os desafios de fortalecimento da Ridesa e do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar nas últimas décadas, Vera Dubeux diz que são muitos, mas demonstra otimismo: “Já somos a terceira geração de técnicos trabalhando com cana-de-açúcar nas universidades. No mundo não há uma experiência semelhante em que uma universidade pública detenha o domínio de uma cultura importante para seu país. E repetindo o que disse Demetrius David, novo coordenador-geral da Ridesa, essa rede é o maior case de sucesso de uma rede de cooperação universitária. Esta aproximação com os técnicos é fundamental para construir uma visão estratégica de continuidade do programa”.