Professor alerta sobre a pesca de siris-de-coral e prejuízos à espécie
Alexandre Oliveira comenta também sobre a necessidade de políticas públicas para proteção ambiental
- Atualizado em
A prática do ser humano de se alimentar das “ovas” dos organismos aquáticos é milenar, mas não justifica a continuidade desta cultura. Festivais gastronômicos com “ovas” de peixes, como o da tainha no Estado de São Paulo, ou o famoso caviar originado de “ovas” do peixe esturjão são comuns, mas demonstram a falta de cuidado com meio ambiente e desvalorização completa das outras espécies viventes no planeta.
Isso por que, conforme nos conta o professor Alexandre Oliveira, do curso de Engenharia de Pesca e Ciências Biológicas da Unidade Penedo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), é preciso abandonar estas práticas e tradições culturais ultrapassadas e danosas ao meio e as espécies antes que seja tarde demais e que cheguemos à ponto de não retorno. “Se faz necessária a construção e aplicação de políticas públicas ambientais que realmente norteiem os processos de exploração dos recursos naturais e acabem com as práticas danosas ao meio ambiente. O ser humano não evoluiu para ser o destruidor do planeta e sim seu guardião e protetor. Sempre achamos absurdas as práticas de sopas de nadadeiras de tubarão, carne de baleia, caça e matança de golfinhos no Japão e Ilhas Faroé, entre outros”, afirma.
Em Alagoas, a pesca de peixes muitas vezes traz consigo um sub-produto; quando, agarrados às redes, vêm siris, caranguejos e outros animais. No entanto, quando falamos em siris-de-coral, um problema surge. É que quando as fêmeas de siri entram em estágio reprodutivo, suas gônadas (estrutura de produção dos gametas - óvulos, também chamada “ovas”) ganham muito volume e uma coloração alaranjada, bem típica desses organismos.
Estas características internas, bem como o formato arredondado de seu abdômen, são indicativos de que elas estão prontas, aptas, ao período reprodutivo, e através da liberação de substâncias químicas (os feromônios) atraem os machos para a cópula. Os machos disputam, na maioria das vezes, a fêmea que irá copular com o macho que obteve maior sucesso em afastar os outros concorrentes. As gônadas dos machos não apresentam a coloração alaranjada e nem fica tão volumosa quanto as das fêmeas.
O macho segura então a fêmea de forma que os dois fiquem com os abdomens, alinhados para que possa haver a cópula e a transferência de espermatozoides para a fecundação dos óvulos. Os óvulos fecundados, aí denominados ovos, irão se fixar no abdômen da fêmea até estarem maturos para a desova em águas mais salinas, afastadas dos manguezais e estuários.
“A captura e comercialização das fêmeas de siri neste estágio de maturação, o chamado siri-de-coral, é extremamente danoso para os estoques naturais de siris e consequentemente para o meio ambiente, pois impede a continuidade do ciclo reprodutivo, fazendo com que as fêmeas não produzam juvenis que irão repor os estoques dessas populações. Devemos levar em conta que o número final de siris que chega a idade adulta é baixíssimo, podendo então esta prática levar a depleção dos estoques populacionais e desaparecimento/extinção das espécies”, explica o professor.
Ele afirma que todas as espécies de siri sofrem com esta prática. “O grande problema é que o siri-de-coral é considerado uma iguaria na culinária alagoana, sendo servida em diversos estabelecimentos, com preço variável. Temos que levar em consideração que o siri é um organismo de topo de cadeia alimentar, controlador de diversas populações bentônicas. Assim, a retirada ou exclusão poderia afetar diretamente os níveis tróficos inferiores causando um desequilíbrio ecológico na teia trófica aquática”.
“Ainda temos o grande problema de que esta prática é realizada em qualquer espécie de siri, todas comumente chamadas de siri-azul. Existem aproximadamente 325 espécies de siris e caranguejos no Brasil. Cerca de 16 espécies de siri (termo de origem Tupi e que só existe no Brasil) habitam o litoral brasileiro. Assim, a pesca do siri-de-coral pode se tornar uma prática que pressiona diversos estoques de várias espécies, tornando o problema ainda maior”, alerta