Pesquisadores em Educação refletem sobre o espaço das crianças nas cidades
Uma relação permeada pelas diferenças sociais, de gênero e raça
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Pesquisadores, educadores e estudantes de Pedagogia reuniram-se no auditório da Reitoria da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), na tarde da sexta-feira (13) para o colóquio com o tema Crianças, Educação e Direito à Cidade. A atividade foi organizada pelos integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pedagogias e Culturas Infantis (Geppeci) e pela Unidade de Educação Infantil Professora Telma Vitoria (UEIPTV), localizada na Ufal e vinculada ao Centro de Educação (Cedu).
A mesa foi composta pelos professores do Cedu, Cleriston Izidro dos Anjos, coordenador do Geppeci; Marina Rebeca de Oliveira Saraiva, com experiência em sociologia da infância e sociologia da educação; e Andreza Fabrícia Pinheiro da Silva, que atua nas áreas de educação infantil, formação de professores, educação especial e inclusiva. A palestrante convidada foi a professora Márcia Aparecida Gobbi, da Universidade de São Paulo (USP).
Márcia Gobbi, que coordena o grupo de pesquisa Crianças, práticas urbanas, gênero e imagens, iniciou a exposição destacando a importância da escrita dos professores da Educação Básica. “É um exercício presente em toda a minha vida como docente, incentivar os professores e professoras a refletirem e escreverem sobre a prática pedagógica cotidiana. E assim com essas narrativas, vamos registrando as experiências e produzindo textos coletivos”, relatou a pesquisadora.
A pesquisadora apresentou as questões que devem ser levantadas para uma compreensão sobre o papel e o espaço das crianças nas cidades. “Onde estão as crianças nas grandes cidades? As respostas são diferentes de acordo com a situação econômica, o gênero e a raça da família a qual essas crianças fazem parte. Ter uma escuta sensível para entender o uso da cidade pelas crianças é um papel do educador, não só do urbanista”, disse Márcia Gobbi.
Gobbi cita as pesquisas do pedagogo italiano. Francesco Tonucci, como referência para os estudiosos da Educação que se dedicam a entender a participação social da infância nas cidades. “Essas reflexões estão presentes nos trabalhos realizados pelos pesquisadores que dividem a mesa comigo neste diálogo. Em particular, buscamos reconhecer como as crianças que crescem em ocupações de luta por moradia são recebidas nos espaços institucionais de Educação Infantil”, relatou a pesquisadora.
Cleriston Izidro destacou a produção do livro impresso e no formato digital lançado agora em maio com o tema proposto para o Colóquio. “Da mesma forma que não se pode dizer que a pandemia de Covid-19 atingiu à todas as pessoas da mesma forma, porque as pesquisas revelaram que foram as mulheres negras as que mais sofreram com as demissões e se sobrecarregam com os cuidados de crianças e idosos, também não podemos dizer que a cidade é a mesma para todas as crianças. Silenciar as diferenças acaba por reforçar as desigualdades”, ressaltou o pesquisador.
Marina Rebeca relatou as pesquisas para entender as diferentes relações com o local onde as crianças vivem, com base na Antropologia da Cidade, de Michel Agier. “Porque a cidade não é a mesma para as crianças de diferentes classes sociais. Nos condomínios de luxo, onde todos os serviços urbanos são oferecidos com exclusividade para os moradores, as crianças vivem em ilhas, sem andar pelas ruas, sem brincar nas praças. Essas crianças já formam uma concepção de cidade mediada por essa condição privilegiada socialmente”, concluiu a pesquisadora.