Pesquisador da Ufal participa de debate no Chile sobre o pensamento de Heidegger

Henrique Cahet pertence ao curso de Filosofia e é pesquisador do referenciado filósofo alemão, considerado um dos maiores pensadores do século XX

Por Diana Monteiro - jornalista
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Participar de um evento que tem como foco o pensamento de Heidegger está além da importância que representa a interação entre pesquisadores que pertencem a uma rede de estudos científicos com essa finalidade. No recente congresso internacional que participou, o professor Henrique José Praxedes Cahet, do curso de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), destaca o tema central Vida, Ação e Emoção, que serviu, por exemplo, para mostrar de que forma a abordagem fenomenológica heideggeriana pode colaborar para abordar de um novo modo o espectro autista, e assim permitir estabelecer novas hipóteses de pesquisas.

Compreendida enquanto fenomenologia-hermenêutica, a Filosofia contribui, atualmente, para a Psicologia, a Medicina, a Enfermagem, o Serviço Social e a Ciência Política. O evento ocorreu de 2 a 5 de outubro, em Santiago (Chile), e foi promovido pela Sociedade Iberoamericana de Estudos Heideggerianos (SIEH).

A SIEH existe há 25 anos e constitui-se como uma rede de referência internacional em estudo filológicos hermenêutico do pensamento de Heidegger, referenciado filósofo alemão. De acordo com o pesquisador da Ufal, o interesse da Sociedade Iberoamericana pelo pensamento heideggeriano deve-se à relevância para a constituição do que se denomina hoje filosofia contemporânea, por ser ele, Martin Heidegger, um dos maiores pensadores do século XX. 

"O pensamento heideggeriano ainda impacta em nosso século e podemos afirmar que a sua análise existencial corrobora efetivamente para a compreensão da nossa experiência humana diante do fato de sermos no mundo em relação com os outros, as coisas, os objetos técnicos, desse modo a constituir a nossa própria temporalidade e estabelecendo o sentido do mundo, embora sem esquecer a importância do cuidado de si e do mundo. Principalmente para não encobrir a nossa existência numa experiência meramente técnica, a qual nos faça alheio ao nosso modo de ser”, enfatiza Henrique Cahet. 

O pesquisador destaca que, atualmente, a Sociedade Iberoamericana tem várias linhas de estudos, mas duas grandes frentes são destacadas: por um lado, o contínuo interesse pelos estudos históricos, filológicos e hermenêuticos do pensamento heideggeriano. Tal interesse justifica-se pela relevância do autor, bem como pelo fato de Heidegger ainda possuir vários textos não publicados, principalmente em língua portuguesa. Esse fato faz com que sempre seja necessária alguma revisão do seu pensamento. Por outro lado, existe um grupo de membros da SIEH que está interessado em pensar com Heidegger problemas práticos da existência, embora também surjam outras abordagens que vão além daquilo que o próprio Heidegger pensou. E Cahet explica, complementando:

“Por exemplo: hoje no mundo a psiquiatria é fenomenológica. Cabe lembrar que Heidegger manteve uma interlocução com Karl Jaspers e Medard Boss, chegando, inclusive, a desenvolver com Boss o seminário de Zollikon que se dedica à aplicação da filosofia existencial ao tema da psicoterapia. Hoje o que chamamos de fenomenologia contemporânea vem constituindo-se por meio da aplicação do método fenomenológico na abordagem de problemas existenciais. Ora, atualmente a fenomenologia em diálogo com a psiquiatria, a pediatria, a psicologia, a enfermagem e o serviço social estão renovando as respostas aos nossos problemas existenciais”. E o pesquisador acrescenta:

“Portanto, considerando que a fenomenologia faz uso de uma abordagem não reducionista e não cartesiana da experiência humana, desse modo aclara o fenômeno investigado tendo em consideração o mostrar-se mesmo do fenômeno, por sua vez a tentar compreendê-lo a partir do pluralismo ontológico expresso em nossos diversos modos de ser, assim a analisar o aspecto espaço-temporal com a finalidade de estabelecer novas explicações para nossos problemas existenciais”.

Mestre em Filosofia, com ênfase em Ontologia e Método, e atualmente como doutorando na Universidade de Évora (Portugal), Henrique Cahet vem pesquisando a vida fática no jovem Heidegger. O professor reafirma que a Filosofia pode colaborar/atuar, enquanto ciência, a partir dos debates e avanços promovidos e faz um destaque sobre a sua participação no Congresso da SIEH: 

“É muito importante sempre participar do evento porque permite ter acesso ao estado da arte do que vem sendo pesquisado sobre Heidegger na atualidade, além de ser uma excelente oportunidade de compartilhar os resultados de minha pesquisa. A experiência dialógica é fundamental para o desenvolvimento acadêmico, porque nos permite testar nossas hipóteses de investigação, sendo um privilégio ter um público especializado para analisar nossas interpretações, seja ratificando-as, seja confrontando-as”.

E, como complementação, destaca: “O que vou dizer não é uma novidade, porque todos nós sabemos a importância das redes de pesquisa, porque possibilitam o diálogo com pesquisadores de outros países, permite confrontar as culturas e pensar as soluções dos problemas considerando as diferentes matizes culturais, desse modo sem negar a alteridade e sem colonizar o pensamento.

Como professor da graduação em Filosofia, no semestre letivo passado lecionou as disciplinas Metafísica, Saberes e práticas no ensino e na pesquisa em filosofia. Além disso, ministrou no curso de Odontologia a disciplina metodologia científica. Atualmente coordena a área de extensão do ICHCA e o estágio do curso de Filosofia. Cahet também é coordenador do projeto de extensão Philolab: Laboratório Digital de Filosofia, Artes e Direitos Humanos.

Como atividade do Projeto Philolab, informou que estão abertas as inscrições para o curso denominado de Pôr-se a caminho da metafísica. O curso será ministrado por ele e pelo professor José Roberto da Silva, do Campus do Sertão. As inscrições podem ser feitas pelo  SIGAA - Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (ufal.br). Recentemente foi realizada a atividade sobre Arte e Filosofia: Perspectivas e transformações na arte indígena contemporânea. (AIC). Além dele, a atividade foi ministrada pelos professores Anderson Paiva e Anderson Diego. Mais inscrições podem ser verificadas no site

SIEH na Ufal

No âmbito da Ufal, como atividade acadêmica, Henrique Cahet disse estar em contato com pesquisadores da América Latina e da instituição alagoana com a finalidade de consolidar a colaboração mútua entre os grupos de pesquisa. O objetivo geral é articular tais pesquisadores para estabelecer um braço da Rede SIEH na Ufal. “A efetivação dessa proposta será relevante para a colaboração conjunta de novas pesquisas, desse modo a promover atividades que democratizam o acesso de jovens pesquisadores à investigação filosófico-científica. Em breve, realizaremos um evento com a participação desses pesquisadores, para assim, permitir o intercâmbio de saberes”.