Professor Jenner Barreto comemora com entusiasmo 40 anos de Ufal

A formação básica é a Física, mas no decorrer de sua atuação como docente e pesquisador, também ampliou, sobremaneira, o seu leque de atividades para outras áreas. Como a de Ensino de Ciências, notadamente em Física, Epistemologia, História, Filosofia da Ciência e Desenvolvimento Sustentável. E esse contexto com vasta produção científica, publicação de trabalhos em periódicos do Brasil e do exterior, tornam marcante a vida acadêmica de Jenner Barretto Bastos Filho. Um referenciado professor que completou no dia 1º deste mês 40 anos como servidor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e diz comemorar com gratidão imensa, alegria e entusiasmo o seu tempo de docência na maior e mais antiga instituição de ensino superior do estado.

“A Ufal representa muitíssimo na vida! Nela encontrei um ambiente muito favorável para atuar em temas transversais, mesmo com os desafios”. Jenner destaca que a Física foi uma âncora bastante relevante para pesquisas em outros campos correlatos ou não à citada ciência, e que em todas as áreas de atuação foi orientador de estudos científicos de alunos da graduação e na pós-graduação, tanto no IF, quanto em outras instâncias da Ufal.

“Em suma, diria que a minha vocação transversal e interdisciplinar me levou a pesquisar em outros campos nos quais publiquei vários trabalhos no país e no exterior”, destaca Barretto que ingressou na Ufal em 1983 por meio de concurso público e pertence ao Instituto de Física (IF), unidade acadêmica do Campus A. C. Simões, onde irá se aposentar. Em sua área de formação básica, a Física, é mestre no campo da Física do Estado Sólido, doutor em Física Teórica e pós-doutor com foco em Fundamentos da Teoria Quântica. A criação do Bacharelado e da pós-graduação da unidade acadêmica, onde só havia Licenciatura, contou com a participação de Jenner. O que representa o seu contínuo  compromisso, engajamento e marcante colaboração para ampliação, qualificação e fortalecimento da Física no âmbito da Ufal com avanços para formação acadêmica e profissional de recursos humanos, além da colaboração com o mundo científico dessa área.

O percurso de formação acadêmica do renomado professor extrapolou fronteiras, a exemplo do doutorado, na Escola Politécnica (ETH), em Zurique, na Suíça, e o pós-doutorado, na Universidade de Bari, na Itália. E em seu relevante percurso acadêmico a conexão com o mundo científico nas destacadas áreas de atuação estão a contribuição por mais de uma década com o Grupo de Pesquisa de Nápoles, Itália,  centrado no tema da Ciência e da Democracia, colaboração para cinco congressos internacionais e participado das publicações com vários capítulos de sua autoria.

A contribuição científica de Jenner Barretto na área de Fundamentos da Física com dinâmica participação em eventos científicos centrados nesse foco, resultou também em capítulos de sua autoria para livros publicados na Itália, no Canadá, nos Estados Unidos, na Holanda e no Brasil.

Natural da capital baiana, na universidade onde se graduou, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), foi a primeira instituição onde Jenner exerceu a docência. A Ufal foi e continua a segunda universidade de atividade docente, inicialmente como professor da Licenciatura em Física. No decorrer de sua ativa vida docente, lecionou uma grande parte do leque de disciplinas da Licenciatura e do Bacharelado.

Nessa retrospectiva acadêmica, ministrou junto ao mestrado do então Programa de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Prodema), de 1997 a 2007, a disciplina Lógica e Crítica da Investigação Científica. Desde 2010 é professor da disciplina História e Filosofia da Ciência no Programa de Pós-Graduação em Ensino em Ciências e Matemática (PPGECIM), sediado no Centro de Educação da Ufal.

E no seu amplo leque de atividades, o destaque para o envolvimento do pesquisador em outros programas de pós-graduação. Desde 2014 é professor da disciplina Marcos no Desenvolvimento da Física no Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física, que é um mestrado em rede patrocinado pela Capes e pela Sociedade Brasileira de Física (SBF). No Doutorado da Rede Nordeste de Ensino (RENOEN), leciona, atualmente, a disciplina de Argumentação e Aprendizagem na Educação Científica, onde a Ufal é um dos polos.

“Deste modo, devo dizer que atuei e ainda atuo, mesmo na iminência de minha aposentadoria, nas instâncias da licenciatura, do bacharelado, do mestrado e do doutorado”, frisa Jenner. A iminência de sua aposentadoria “por força da lei” é em função de sua idade, mas diz que continuará em atividade na academia.  Ele completa 75 anos no dia 9 de abril de 2024 e o processo correspondente à aposentadoria pretende encaminhar em novembro deste ano.

E como não poderia ser diferente, o resultado de tanto dinamismo e competência em sua ampliada atuação como professor e pesquisador, somam-se a orientação de mais de 30 dissertações de mestrado distribuídas em três Programas (Prodema, PPGECIM e MNPEF) e, atualmente a orientação de dois doutorandos do RENOEN. "Nesse espectro de trabalhos, são contemplados os Fundamentos de Física, a Educação Ambiental, a História e Filosofia da Ciência, Teorias de Aprendizagem e a Epistemologia. Algumas dissertações podem ser consideradas como transversais e interdisciplinares. Vários trabalhos foram publicados em todos esses temas”, enfatizou o pesquisador.

Dizendo ter como princípio, tentar concluir todos os ciclos e, se possível, não deixar nada pendente, adianta que a mestranda Dayanne Maria Damasceno defenderá sua dissertação no dia 21 deste mês. Dayanne é professora na rede pública no município alagoano de Olho D´ Água das Flores. “Não tenho mais nenhum mestrado sob a minha orientação e os dois doutorandos dos quais sou orientador defenderão as suas respectivas áreas, após a minha aposentadoria”, informou Barretto.

Avanços científicos

Sobre estudo científico, opina que “o objetivo precípuo é o de conhecer melhor o mundo em relação ao foco adotado como objeto de investigação”. E destaca que, além disso, é imprescindível que se trabalhe em prol do desenvolvimento de atitudes éticas e sinergéticas bem como de procedimentos em vista do bem público. E, nessa linha em conexão com a realidade, chama a atenção para o importante papel desempenhado na academia pelo IF da instituição alagoana:

“O Instituto de Física da Ufal desempenhou e ainda desempenha um papel de grande importância para o ambiente de pesquisa em nossa Universidade, bem como em nossa região Nordeste. Posso dizer a mesma coisa tanto em nível nacional quanto no que diz respeito à sua repercussão além das nossas fronteiras”. Aproveita para enaltecer o abnegado e competente corpo docente da unidade:

“Os nossos colegas desenvolvem pesquisas em vários campos da Física, tanto teórica, quanto experimental. Também desenvolvem pesquisas na área do Ensino e da Aprendizagem, nas áreas correlatas de estudos históricos, sociológicos e epistemológicos, pesquisas essas que requerem uma vocação interdisciplinar e transversal sofisticada. Essa importância pode ser inferida pela participação de vários de nossos professores. Nas diversas pós-graduações fora do domínio restrito de atuação do próprio Instituto de Física. Diria mesmo que essa contribuição foi e continua a ser relevantíssima”. 

Ufal e construção de vida

Um baiano que fixou residência em Maceió, vive há 40 anos e a sua chegada à capital alagoana se deu pela aprovação em um concurso público. A mudança de lugar por várias razões, principalmente, para atuação profissional, é uma rotina comum na vida de muitas pessoas. Na vida do professor Jenner não poderia ser diferente, mas agrega outros significados, como o de construção de vida, além da academia. E, em toda a sua construção no percurso de suas quatro décadas de trabalho, marcado por relevante contribuição científica, reafirma o ambiente favorável para atuar e a superação dos obstáculos, com positividade e muita sabedoria.

E enfatiza: “Obviamente, não é que o meu caminho não se deparasse com obstáculos infraestruturais e de falta de compreensão. Isso faz parte da vida. Não há instância alguma da vida na qual você não seja solicitado a lutar contra incompreensões e contra preconceitos. Tudo somado, contudo, os prós superaram em muito os contras e assim posso comemorar muito feliz com minha família nuclear, minha mulher, nossos três filhos, nossa netinha e nossos três netinhos, esses 40 anos de Ufal. E a vida acadêmica prosseguirá, se Deus quiser, mesmo depois de minha iminente aposentadoria”. 

E na continuidade da importância da instituição alagoana, além do agradecimento em ter as suas quatro décadas como pauta de divulgação e de ainda ressaltar urbi et orbi (a todo universo), gratidão, reforça: “A minha gratidão para com a Ufal, instituição estratégica para o desenvolvimento de nosso estado”. E a esse reconhecimento, valorização, defesa do ensino público e gratuito, com propriedade destaca, deixando uma mensagem estimulante para a contínua luta:

“Devemos lutar com tenacidade para que as universidades federais e estaduais, a Educação em geral, bem como a Saúde devam ser, e continuar a ser públicas, gratuitas e de qualidade. Entregar esse imenso patrimônio à privatização seria destruir um legado construído com imenso esforço ao predatório e obscurantista mercado que elege apenas o lucro como diretriz. Lido com professores e professoras do Ensino Médio e tenho consciência da exploração que se abate sobre eles e elas”. 

E acrescenta, tecendo críticas: “O sistema neoliberal, em vez de estimulá-los e estimulá-las para a qualificação e para o desenvolvimento cultural, espiritual e científico, eles e elas são submetidos e submetidas a uma precarização perversa e, como consequência disso, adoecem com frequência”.  Aproveita para fazer um alerta: “Não ao assim chamado “Novo” Ensino Médio com os assim chamados “itinerários formativos” que não são outra coisa senão esvaziamento do pensamento filosófico e esvaziamento de conteúdo em nome de um decoreba que atende ao mercado. Os nossos Sindicatos devem ficar atentos!”, destaca Jenner Barretto, na permanente defesa do ensino público, da sociedade e da vida com grandes batalhas. “Frentes de luta” que pautam sua trajetória profissional no âmbito da academia e no exercício pleno da cidadania.  

Íntegro, humano

E, em conexão com a comemoração dos 40 anos de vida acadêmica de Jenner Barreto, o colega de instituição, de atividades docente e de pesquisa, Walter Matias, diz: “Conheço o professor Jenner Barreto há 30 anos e nos tornamos parceiros de pesquisa, de compartilhamento de ideias filosóficas e nos tornamos amigos, por várias razões: pela integridade ética do professor Jenner, por ser uma pessoa solidária em todos os sentidos de melhorar a existência humana. E,  nesses 30 anos ele nos ajudou a crescer como pessoas e tem demonstrado ser um excelente companheiro de trabalho, que lida com as  adversidades de outras pessoas e ao mesmo tempo continua produzindo Ciência de boa qualidade. É o mínimo que eu posso dizer do professor Jenner Barretto!”.

Ser humano inspirador

O reitor Josealdo Tonholo considera as quatro décadas de trabalho de Jenner como uma grande comemoração para a Ufal: “O 1º de setembro foi um especialíssimo dia para a Universidade Federal de Alagoas. Jenner é um companheiro de luta, de trabalho, de dividir sala de aula, de banca de defesa, é companheiro de escrever. Mais do que isso: é uma companhia fantástica na hora de discutir, de entender o funcionamento das coisas, de aprender um pouco de cultura e de literatura, já que é um poço de cultura. É um amigo, é um inspirador. Eu tenho orgulho muito grande de tê-lo como meu decano dos titulares de carreira da universidade, onde eu sou imediatamente seu suplente. E isto sela ainda mais a nossa relação”.

E em sua retrospectiva como reitor, um marcante dia para Tonholo. “Eu tive o privilégio de assumir a gestão da Ufal três anos e meio atrás e quem foi fazer o meu discurso panegírico foi o professor Jenner. E ele ao completar 40 anos de instituição, na minha singela homenagem, um grande abraço a ele, à Graça e à família. O meu agradecimento por ter na minha vida uma companhia tão legal e tão inspiradora como Jenner Barreto. Abraço meu amigo, parabéns a você!”, comemora emocionado Tonholo os 40 anos de instituição do referenciado professor e, principalmente, a amizade construída há 30 anos, que marcam sua chegada à Ufal para exercer atividade docente.

“Encontro de vidas”

Do grande encontro de vidas com a companheira, parceira e esposa Graça, que a “vida preparou”, já se vão quase 50 anos. Conheceram-se em 1974 em Campinas, quando ele cursava o mestrado. Desde então, uma vida a dois de construção e de muito compartilhamento. Da união, três filhos, e a segunda geração familiar, o nascimento em Alagoas de seus netos. A carreira docente de Graça Leopardi, lotada no Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), começou há 22 anos na Ufal.

Companheira de lutas, de vida, de instituição, de trajetórias em comum, não poderia deixar em mais um especialíssimo momento, discorrer sobre o que representam os 40 anos de Ufal para Jenner e, claro, para a família também. Só orgulho. Na breve retrospectiva da caminhada de quatro décadas na Ufal do professor e parceiro, só cabem comemorações motivadas pela competência, dedicação, abnegação, respeito, referência, muito compromisso profissional e com a cidadania. Do intelectual eclético que é, pelas diversificadas áreas de atuação, 

“Jenner é culto, progressista e dono de uma memória invejável. É uma história viva da Ufal e compromissado com as gerações de estudantes que educou, com a geração atual e com as novas gerações de alagoanos. Nossa família veio com Jenner à Maceió há quarenta anos, onde foram criados nossos filhos e constituíram família”, comemorou Graça.

Do ingresso na academia como docente um tempo depois de Jenner, Graça guarda grandes recordações  conectadas com a realidade dele como professor, pesquisador, cidadão e ser humano: “Quando da minha chegada há 22 anos na Ufal, no decorrer das minhas atividades docentes, qualquer ambiente da universidade que me apresentei desde então para participar de reunião, grupo de trabalho ou fazer uma solicitação, sempre fui recebida com muita atenção e carinho, quando o docente ou o funcionário com quem eu me apresentava e tratava sabia que eu era a esposa do professor Jenner.  Amável, querido e respeitado por todos. Muito orgulho e muita honra em ser sua esposa”.

E faz o destaque ainda da trajetória progressista do companheiro, de sua ativa participação em lutas no âmbito da Ufal, a exemplo do Movimento Docente, da entidade de seu segmento, a Adufal, na participação pela igualdade de direitos. “Jenner é e sempre foi um progressista e apoiou ativamente, em Alagoas, movimentos para a defesa e instalação da democracia. A exemplo da Diretas, Já!, assim como, demais movimentos democráticos que se sucederam. É e sempre foi um progressista”, reafirmou.