Diretor português premiado realiza exibição de filme para estudantes na Ufal

Sessão de cinema é parte do projeto de extensão Ufal Conexão Mundo; evento também contou com debates e palestras

Por Layla Alves – estudante de Jornalismo
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A Assessoria de Intercâmbio Internacional (ASI) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) promoveu a exibição do filme ‘’O Nosso Cônsul em Havana’’, de Francisco Manso, na sexta-feira, 18 de outubro, no Auditório do bloco de Comunicação Social (Cos), no Campus A.C. Simões. O premiado diretor português realizou a palestra ‘’Cinema, comunicação e internacionalização’’, que foi seguida pela amostra da sua mais nova obra e, posteriormente, por um debate acerca do que foi assistido. 

O encontro faz parte do programa Conexão Ufal Mundo, criado pela ASI Ufal, e teve apoio da Liga de Direito Internacional e da Agência Experimental de Relações Públicas.  A coordenadora da Assessoria de Intercâmbio Internacional, Manuella Callou, e os  bolsistas João Lobo, João Lins, Layla Alves, Lucas Batista e Emanuelle Bento participaram da organização do evento. 

O momento de expansão cultural abrangeu alunos e alunas de todos os cursos da Universidade Federal de Alagoas. Contando com a entrada gratuita e pipoca a vontade, a sessão de cinema foi um momento de aprendizado e reflexão, sobre os contrastes dos grupos étnicos, racismo, direitos humanos e outros diversos temas que foram explorados no longa de Manso.“O que nos faz olhar o outro, a nós mesmos. Meu objetivo é sempre trazer atenção das pessoas às consequências do que está acontecendo”, disse o diretor, iniciando uma conversa dinâmica após a sessão, incentivando os discentes a falarem e debaterem tanto sobre sua obra quanto sobre o tema. ‘’Para mim, comentários são sempre uma coisa boa. Eu nunca vou deixar de fazer comentários enquanto eu puder (...) Toda vez que se faz um comentário, se reinventa”.

A mesa foi composta pelo professor Tiago Penna como debatedor; professor e pesquisador Nilton Resende também como debatedor; ator global Chico de Assis e o professor e diretor da ASI, José Niraldo Farias, como mediador. ‘’A proposta desses eventos é quebrar as quatro paredes das salas de aula e trazer cultura para dentro da universidade, e colocar a universidade para fora do campus”,  disse Niraldo Farias, ao apontar a importância de eventos interdisciplinares. 

Quando questionado sobre quais eram seus medos e objetivos ao fazer o filme, Manso explicou que sua determinação era não tirar a cabeça do seu projeto, principalmente por realizá-lo com dinheiro público. Entender o que os personagens causam nas pessoas e o motivo desses pensamentos. Seu foco principal era o seu projeto. O encontro mostrou que a arte é pela arte, e sempre pelo povo - e que diretores com esse tipo de visão vão longe e continuam crescendo com suas obras.

Durante o debate, Francisco também reforçou a importância de levar filmes sobre o Brasil, e feitos com atores brasileiros, para festivais e exibições internacionais. Criticando como o ambiente cinematográfico pode ser conservador e cercado pela elite, o português compartilhou da sua paixão por cruzar as barreiras entre países através da arte - e como isso é importante para o reconhecimento e desenvolvimento cultural. ‘’Não há nada melhor do que conhecermos o mundo e conhecermos uns aos outros”, ressaltou Manso. 

De Portugal para o mundo

Francisco deu os primeiros passos iniciais em sua carreira como diretor em 1970, produzindo longas e curta-metragens para as telonas dos cinemas e para os momentos singelos na televisão. Não demorou muito para que Manso se tornasse destaque em festivais, levando diversos prêmios para casa. 

Reconhecido internacionalmente, o diretor é responsável por trabalhos como “Portugal passado e presente” (1984), “Filhos da estrada e do vento” (1988), “Uma saga europeia (1996), “O Testamento do Senhor Napumoceno” (1997), entre outros. Sua vasta experiência vai além de filmes fictícios, como o português demonstrou com o documentário “Memórias de um rio – Avieiros, os nómadas do Tejo” (2004), vencedor do Prêmio Especial de Lusofonia do 10º Festival de Cinema e Vídeo de Ambiente - Cine Eco 2004.

Na ocasião, Francisco ainda pontuou que seu desejo de fazer filmes e viajar por novas nações veio da sua vontade inquieta de não estar em um lugar de ferrugem - retrógrado, parado no tempo, ou qualquer coisa que remetesse ao comodismo estrutural. A confissão do diretor, junto a sua obra construída em uma perspectiva que só podia ser de Francisco Manso, são o combo perfeito para se emocionar e refletir na sala do cinema - que pode ser em qualquer lugar, seja no auditório da Ufal, em um festival internacional, ou na sala de casa. 

‘’Temos que ser persistentes. (...) Temos que encontrar uma forma de fazer qualquer coisa que seja um tributo”, foi o conselho de Francisco Manso para os alunos e alunas que constituíram seu público naquela tarde. ‘’É preciso dar voz a essas  pessoas (que sabem da história). No cinema, as imagens tem muita força. Não se pode fazer (um filme) sozinho. Tem que dar voz às pessoas”.

E se você não conseguiu um lugar na sessão da Ufal, não se preocupe: durante sua estadia no Brasil, Manso também apresentará o filme “O Nosso Cônsul em Havana” no festival internacional em Penedo e na Embaixada de Portugal em Brasília.