Artigo com participação de professor da Ufal é publicado em revista da USP
Cláudio Sampaio, da Unidade de Penedo, é mergulhador, ambientalista e professor de Engenharia de Pesca e Biologia
Um artigo científico, com a participação do professor Cláudio Sampaio, da Unidade de Penedo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), foi publicado no volume 72 da revista científica Ocean and Coastal Research (OCR), um periódico internacional publicado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). “É uma revista reconhecida internacionalmente pela relevância dos trabalhos publicados”, informa Sampaio.
O artigo, em inglês, tem como título traduzido: Naufrágios históricos em águas internacionais contribuem para a poluição costeira, de autoria dos professores-pesquisadores Luis Ernesto Bezerra, Carlos Eduardo Teixeira, Rivelino Cavalcante e Marcelo Soares, da Universidade Federal do Ceará, e Cláudio Sampaio, da Ufal.
O trabalho fala sobre os fardos de borracha que surgiram ao longo da costa brasileira, em 2021, causando impactos ambientais e riscos para a frota artesanal que atua na região, composta por pequenas embarcações de pesca e turismo. “Identificamos um naufrágio nazista da 2ª Guerra Mundial que foi associado a este evento. Simulações numéricas forneceram evidências para apoiar a hipótese de que a origem desses fardos, de 2021, foi o navio alemão Weserland, afundado há mais de 80 anos”, informou o professor
Cláudio Sampaio destaca que o navio está a uma profundidade de aproximadamente 5 mil metros, com uma carga contendo fardos de borracha, estanho e wolframita, mineral do qual o tungstênio é extraído. “Atualmente, o Estanho é considerado um metal estratégico, devido a sua ampla utilização em equipamentos eletrônicos, com preços subindo de US$13.375 por tonelada, em março de 2020, para US$34.462 toneladas, em maio de 2021”, detalha o professor.
Os pesquisadores forneceram evidências que o ‘vazamento’ dos fardos de borracha do naufrágio nazista e o aumento no preço internacional de sua carga estavam temporalmente associados, reforçando a hipótese de resgate não autorizado em águas oceânicas internacionais, em áreas além da jurisdição brasileira. “Esses novos resultados demonstram que naufrágios históricos, pouco conhecidos e sem monitoramento, são verdadeiras ‘bombas-relógio’ com grandes riscos de poluição nos oceanos em todo o mundo”, alerta o pesquisador.
Sampaio relata que, em julho de 2021, novamente fardos foram registrados, mas desta vez ao longo da costa dos Estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, aproximadamente 300 km de extensão, localizados mais ao sul de onde, em 2018, o também navio nazista, Rio Grande, havia vazado centenas de fardos de borracha no litoral brasileiro. Esse fato foi estudado e publicado pelos professores da Universidade Federal do Ceará (UFC-Labomar).
O grande número de fardos, mais de 200 apareceram nas praias em uma região diferente e mais ao sul, chamaram a atenção dos pesquisadores de que poderia ser um novo ‘vazamento’. Depois, de outubro de 2022 a fevereiro de 2023, fardos de borracha foram encontrados encalhados nas praias do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul, bem como no Uruguai.
Cláudio Sampaio esclarece que esses novos fardos de borracha tinham aparência distinta daqueles de 2018. “Indicando que eles não tinham sofrido longos períodos expostos ao sol, às ondas e à areia da praia. Curiosamente, em 2021, um pedaço do bico de um Marlin Azul, um grande peixe exclusivamente oceânico, foi retirado de um fardo de borracha encontrado na costa de Sergipe, reforçando a suspeita que os fardos flutuam desde águas distantes até alcançarem o litoral nordestino”, relata o pesquisador.
A pesquisa realizada para identificar o histórico desses fardos encontrados em diferentes regiões detecta o interesse comercial que essas cargas submersas em águas profundas estão despertando em empresas de resgate. “Como há outros naufrágios históricos, em águas internacionais e profundas do Atlântico Sul, com cargas de metais que aumentaram seu preço no mercado nos últimos anos, acreditamos que o resgate não autorizado deste material continue, mesmo sem monitoramento ou aplicação de qualquer legislação nacional. Isso abre uma discussão sobre a necessidade de regulamentar esse tipo de resgate de naufrágios históricos em águas internacionais”, finaliza o professor.
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