Professora da Ufal integra Comitê de Equidade de Gênero da Capes
Daniela Anunciação foi empossada no início deste mês, juntamente com outras representantes da comunidade científica
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A professora Daniela Anunciação, do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), integra o recém criado Comitê Permanente de Ações Estratégicas e Políticas para Equidade de Gênero com suas interseccionalidades no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O Comitê foi criado pela portaria 215/2024 “para aumentar a representatividade feminina em posições de decisão e de comando na pós-graduação”. (gov.br)
A professora Daniela Anunciação é licenciada em Química (Ufba), com mestrado e doutorado em Química Analítica, com pós-doutorado na Universidade Complutense de Madrid. Na Ufal, ela é professora de Química Analítica e líder do Laboratório de Materiais Luminescentes e Estudos Ambientais (Lumiam). Ativista em defesa da equidade de gênero nas ciências, Daniela foi uma das coordenadoras do Núcleo de Mulheres da Sociedade Brasileira de Química, e justamente por essa atuação, foi indicada para o novo Comitê da Capes.
O convite surgiu quando Daniela participou, em maio deste ano, da 47ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), onde foi palestrante do Simpósio com o tema Perfil feminino na ciência: censo SBQ e reconhecimento internacional em publicações. “Estava presente a presidenta da Capes, Denise Pires, que após a minha apresentação, disse estar muito sensibilizada, porque eu estava trazendo dados estarrecedores sobre as dificuldades que as mulheres encontram para ter as mesmas condições que os pesquisadores homens para alcançar índices de produtividade e qualificação dos seus trabalhos”, narrou Daniela.
Segundo Daniela, esse Comitê foi proposto ainda no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, mas as atividades foram suspensas. “Quando aconteceu o golpe contra o governo da presidenta, muitas políticas em andamento para as mulheres acabaram sendo ceifadas. Só agora esse Comitê é retomado e nós estamos bastante entusiasmadas em apresentar nosso planejamento para os dois anos, porque essa é uma pauta importantíssima para as diretrizes da Pós-graduação e Pesquisa no Brasil”, ressaltou a professora.
A primeira reunião do Comitê Permanente de Ações Estratégicas e Políticas para Equidade de Gênero foi realizada em Brasília, com vinte e duas representantes, no dia 6 de janeiro. “Foi uma reunião híbrida, já que algumas pesquisadoras estavam fora do Brasil, mas tínhamos urgência de iniciar os trabalhos. Na reunião, vimos que todas que estavam ali já tinham essa pauta amadurecida pela própria experiência. Não é uma questão de letramento, conhecemos as nossas dificuldades, temos o diagnóstico para fundamentar nossas proposições de ações reparadoras”, relatou a docente.
Daniela enfatiza que o Comitê vai buscar avançar o máximo possível nos projetos nesses próximos dois anos, durante o mandato do presidente Lula, que tem uma equipe sensível para essa temática da equidade na Ciência. “Temos que corrigir os critérios de avaliação da Capes, para que os indicadores sejam mais inclusivos e diversos, como, por exemplo, não basear um programa de pós-graduação apenas em números de publicações, de pesquisadores, de patentes. Esses números são importantes sim, mas não devem ser a única indicação de qualidade”, reflete a pesquisadora.
A pesquisadora acredita que critérios qualitativos devem ser levados em consideração para a formação do conceito. “É preciso levar em conta a missão do programa, para promover a possibilidade de cientistas mães contribuírem e desenvolverem Ciência num Programa de Pós-graduação. Como é a Capes que define os critérios de avaliação, é aqui que a gente precisa trabalhar para ajustar o ritmo. O extensionismo, por exemplo, tem que ser mais valorizado, para chegar à sociedade. Para além dos números frios, é preciso avaliar as ações desenvolvidas por excelentes pesquisadoras e que causam impacto em comunidades”, avaliou.
Segundo Daniela, os números indicam que as mães são produtivas, que maternidade e Ciência são plenamente possíveis, mas é preciso atentar ao preço que essas pesquisadoras estão pagando. “Elas vão à exaustão para atender aos critérios numéricos que indicam a qualidade do trabalho. Esse cansaço absurdo não está quantificado em lugar algum. São pesquisadoras que abrem mão da licença-maternidade, que orientam trabalhos enquanto amamentam, porque para as bolsistas não há prorrogação de prazo para a defesa. Com uma dinâmica bastante desigual, as orientadoras conseguem cumprir prazos e produtividade, mas isso não é justo”, concluiu Daniela Anunciação.
Desta forma, Daniela acredita que o papel do Comitê é trazer para o centro do debate, de forma transparente e efetiva, todas as questões relacionadas às dificuldades para as mulheres no mundo acadêmico e científico, para que seja possível desenvolver estratégias que possibilitem a equidade. “Precisamos definir critérios dentro de um regimento, para que seja direito e não dependa apenas das relações de representatividade em cada programa. Na área de Humanas, por exemplo, há mais debate sobre essas questões do que na área de Exatas. Nesse ambiente das chamadas Ciências duras, precisamos avançar mais. Tem que haver uma regra clara para promover essa adaptação à realidade das mulheres. Já passou da hora de fazermos essas mudanças”, finalizou.