Ufal e Uneal lançam coletânea sobre os impactos da Ditadura Militar em AL

As versões ebooks estão disponíveis de forma gratuita no site da Edufal

Por Ascom Ufal
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A coletânea Pacto de Silêncio: o golpe de 1964, a ditadura e transição em Alagoas, em dois volumes, foi organizada pelos professores Anderson da Silva Almeida, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Marcelo Góes Tavares, da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal). São 26 capítulos, com artigos escritos por mais de trinta autores e autoras da Ufal, Uneal e do Instituto Federal de Alagoas (Ifal).

O primeiro volume, com 13 capítulos, traz abordagens que dialogam com a história política, as resistências, perseguições, apoios e metamorfoses que ocorreram em território alagoano desde o golpe de 1964 até o período da chamada transição autoritária que vai de 1979 a 1988, com a nova Constituição Federal. Já o segundo volume, também com 13 capítulos, enfatiza as questões culturais, as narrativas e trajetórias tanto de personagens que lutaram contra a ditadura, quanto aqueles e aquelas que participaram dos “jogos de acomodação” naquele período.

O professor Anderson da Silva falou de todo o trabalho coletivo para garantir a publicação. “A organização de uma coletânea desse porte nunca é uma tarefa simples. Foi de suma importância a parceria com o professor Marcelo Góes Tavares, da Uneal, que também atua em nosso Programa de Pós-Graduação em História. Ao todo, foram aproximadamente dois anos entre o convite às autoras e autores, passando por revisões de língua portuguesa, normatização da ABNT e checagem das fontes citadas”, relata ele.

A historiadora Michelle Reis de Macedo, da Ufal, é uma referência nacional sobre estudos do Brasil republicano, responsável pelo prefácio do segundo volume. “A coletânea é resultado do processo de profissionalização da pesquisa histórica em Alagoas a partir dos trabalhos realizados dentro das universidades públicas do estado. Estou segura em afirmar o comprometimento dos dois organizadores com a análise crítica do passado alagoano e sua divulgação científica no cenário nacional – quiçá internacional”, declara a professora.

De acordo com Rodrigo Patto Sá Motta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, o livro oferece estudos que abarcam ampla diversidade temática, essenciais para a compreensão daquele período. “Merece elogios o pluralismo de perspectivas teóricas, já que foram incluídos colaboradores com posicionamentos distintos; uma atitude saudável, na contramão dos que pretendem enquadrar a história em rígidos (e inférteis) esquematismos”, destaca ele.

Rodrigo enfatiza a importância da obra no contexto atual. “No preocupante cenário político atual, em que vemos forças influentes trabalhando para que a ditadura seja esquecida, enquanto outros comemoram nostalgicamente aquele período tendo em vista justificar um novo regime autoritário, é fundamental que historiadores ofereçam contribuições ao conhecimento crítico da nossa história recente, baseados em métodos científicos, porém, motivados politicamente para defender a democracia. Parece-me ser esta a proposta do livro – que, portanto, deve ser saudado. E lido!”, incentiva o professor.

Para a professora de história da América Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, Samantha Viz Quadrat, a coletânea é um incentivo para futuras pesquisas em que o local dialogue com o nacional. “ Para que seja possível compreender a história recente do Brasil, cuja memória segue em disputa, ao mesmo tempo em que nos permite, através dos mais variados temas, debater a história e a memória da ditadura e da transição em Alagoas no ano em que discutimos os 60 anos de 1964 e seus legados. Trata-se, portanto, de um convite à reflexão não só acerca daqueles anos, mas também sobre o período democrático construído a partir de 1985 e que, nos últimos tempos, vem sendo questionado”, ressalta a pesquisadora.

Antonio Torres Montenegro, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que assina o prefácio do primeiro volume, afirma a importante contribuição da coletânea. “São valiosas pesquisas realizadas por autoras e autores dos treze capítulos que constituem este primeiro volume, relatos historiográficos de múltiplos eventos vivenciados em uma temporalidade que se estende desde antes do golpe militar de 1964 ao período da redemocratização. Ao privilegiar o território de Alagoas, as autoras e os autores não se furtam em criticar a visão histórica construída desconhecendo a historiografia elaborada fora dos centros de poder e de conhecimento, mesmo no território alagoano. Essa é mais uma marca diferencial e significativa desta obra. Uma excelente leitura”, pondera o professor.

A organização desta coletânea, segundo o professor Anderson Almeida, reflete um compromisso acadêmico e também político. “Em um contexto no qual a democracia sofreu ataques sistemáticos e houve a amplificação dos negacionismos, nosso compromisso foi além de simplesmente publicar uma obra acadêmica. Envolveu, também, um engajamento político de fazer circular de forma gratuita, principalmente para fora da Universidade-, textos de graduandos e graduandas, mestres e doutores que têm se dedicado a pesquisar sobre Alagoas que, de certa maneira, vem contribuindo para a atualização dos estudos sobre a ditadura em perspectiva nacional. Nesse sentido, foi essencial e determinante a parceria com a Edufal, a quem agradecemos em nome da coordenadora Fernanda Lins e do diretor Eraldo Ferraz”, conclui Anderson.

Os dois volumes estão disponíveis, de forma gratuita, no site da Edufal, em formato de e-books.

Em breve os autores e a editora divulgarão o lançamento de uma edição limitada no formato impresso.