Vivência docente pauta memorial acadêmico de professora da Farmácia
Memorial foi defendido pela professora Aline Fidelis que fez toda a formação acadêmica na Universidade Federal de Alagoas
História e reminiscências: vivências de uma professora do curso de Farmácia, foi o título do memorial acadêmico defendido pela professora Maria Aline Barros Fidelis de Moura, do Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Mestre e doutora em Química e Biotecnologia pela instituição alagoana, o recém-degrau acadêmico conquistado, torna Aline a primeira mulher docente do ICF a progredir para a classe E da carreira docente, denominada professor titular.
Aline é egressa da primeira turma do curso de Farmácia da Ufal, ingressou como docente efetiva da instituição em 2008 e sua trajetória, da graduação à pós-graduação, foi marcada por uma ativa vida acadêmica. Nessa retrospectiva, ela faz um destaque:
“Desde o início da minha graduação busquei me inserir em projetos acadêmicos. Já no primeiro ano (1999), fui selecionada para participar do Programa de Controle de Transmissão da Filariose em Maceió, coordenado pelo professor Gilberto Fontes. A ótima notícia é que agora em 2024 a OMS certificou o Brasil como país livre da filariose linfática, e eu estou muito feliz por ter dado minha pequena contribuição nesse sentido, no âmbito de Maceió”, discorre a mais nova professora titular do ICF.
Aline destaca que, a partir do segundo ano da graduação, começou os trabalhos de iniciação científica, como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), orientada pela professora Marília Goulart, junto ao Instituto de Química e Biotecnologia (IQB), unidade acadêmica do Campus A.C. Simões. “Construí minha trajetória por meio da pesquisa e da docência, como professora substituta de Farmacologia, entre 2005 e 2008, junto ao antigo Centro de Ciências Biológicas CCBi. Ao concluir o doutorado, prestei o concurso e fui aprovada como docente efetiva do curso de Farmácia da Ufal”, lembra.
Marília Goulart também foi a orientadora de Aline na pós-graduação feita no IQB em Química e Biotecnologia e em sua formação passou por períodos de “estágio sanduíche”. Durante o mestrado participou do PPG em Química na Universidade de Campinas (Unicamp). Já o doutorado o estágio sanduíche foi junto ao PPG em Farmacologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ela defendeu o memorial acadêmico no dia 13 deste mês, cuja Comissão Especial de Avaliação foi composta somente por mulheres, professoras titulares em suas instituições de ensino superior. Sobre o que representa galgar mais um importante degrau acadêmico a pesquisadora diz:
“Entendo que a minha progressão para professora titular do ICF da Ufal vai além de um simples avanço hierárquico. Ela é a concretização da minha busca constante por contribuir para a formação de gerações de farmacêuticos e farmacêuticas e para a construção contínua de conhecimentos e trocas com a sociedade”. E aproveita para complementar o caminho trilhado na otimizada profissão escolhida:
“Sigo imbuída por uma forte esperança de dias melhores, inserida no atual contexto social, histórico, político e cultural e lutando, pontualmente, para promover reflexões acerca dos problemas de saúde contemporâneos, vinculados à área de Toxicologia, para aquelas pessoas com quem compartilho a “sala de aula”, ou seja, futuros/as profissionais, mestres e doutores, para que possam promover intervenções e mudanças em suas mais variadas áreas de atuação”.
No Instituto de Ciências Farmacêuticas, unidade acadêmica do Campus A.C. Simões, Aline Fidelis tem atuação na área de Toxicologia e Análises Toxicológicas junto ao Programa de Pós-Graduação (PPG) em Ciências Farmacêuticas, onde desde 2012 é docente permanente do citado programa. Recentemente, também foi credenciada pelo Mestrado Profissional em Ensino na Saúde (MPES) da Faculdade de Medicina (Famed), da Ufal. Lidera também o Grupo de Pesquisa em Toxicologia (GPTox/CNPq), formado em 2009, e, desde então, coordena o Centro de Informações Toxicológicas da Ufal (CITox), programa de extensão vinculado ao GPTox e ao curso de Farmácia.
Memorial e desafios
A progressão para professor titular é regida pelas Resoluções 78/2014 e 21/2021 do Conselho Universitário (Consuni) da Ufal. É dotada de duas etapas de avaliação. A primeira, refere-se à avaliação quantitativa de desempenho, em que o docente apresenta e comprova sua produção do último interstício de dois anos para progressão de carreira. Nesta etapa, o professor deve escolher no mínimo três categorias de atividades a serem avaliadas. No caso da professora Aline, ela escolheu ser avaliada em quatro atividades, a saber: ensino, produção intelectual, pesquisa e extensão.
Somente após avaliação e aprovação na primeira etapa por uma Comissão Interna da Ufal, composta por professores titulares em exercício, é dada a autorização para a defesa do memorial ou tese inédita, que será avaliado por uma Comissão Especial composta por quatro docentes titulares, sendo um titular da Ufal e três titulares externos à Ufal. “Escolhi apresentar o memorial acadêmico, que é uma autobiografia resumida, com ênfase nas atividades acadêmicas, porém, sem me apartar da minha subjetividade, sentimentos e significados. Considerei as minhas atividades de ensino, produção intelectual, pesquisa, extensão e gestão acadêmica, em ordem cronológica, ao longo desses dezesseis anos como docente efetiva”, conta.
Sobre os obstáculos enfrentados para otimizar a sua carreira acadêmica ela salienta, principalmente, aos que se relacionam com a questão de gênero. “Os principais obstáculos de uma mulher na academia, como na vida, são as questões estruturais da sociedade. Além de mulher, sou mãe de dois. Não é trivial conciliar a maternidade com os compromissos do trabalho. Entretanto, é preciso reafirmar nossa competência e responsabilidade para atuar em todos os lugares e espaços que conquistamos”, destaca a professora.
Outro obstáculo citado por Aline foi a mudança radical de vida, como moradora do bairro Pinheiro. As famílias atingidas pela tragédia ambiental no bairro, totalizando 60 mil pessoas, foram desalojadas e deslocadas de suas residências em pleno período da pandemia da covid em 2019, o que afetou diretamente as suas rotinas de vida. A esta desafiante realidade à qual foi submetida e parcela da população de Maceió, é considerado por Aline como obstáculo social.
“Contudo, nesse mesmo período, contando com a participação ativa dos estudantes de graduação e pós-graduação vinculados ao GPTox e ao CITox, pude contribuir para a popularização da ciência e difusão de informações toxicológicas acerca de produtos saneantes, vacinas, drogas psicoativas e medicamentos, na rede social @citoxufal no Instagram e por outros meios. Esse movimento, além de contribuir com a sociedade, gerou em mim grande esperança por dias melhores, em detrimento do caos promovido pela indústria de mineração”, lembra.
Banca de avaliação
Sobre ter na Comissão Especial de Avaliação do seu memorial acadêmico somente mulheres, professoras titulares em suas instituições de ensino superior, e ser a primeira mulher docente do Instituto de Ciências Farmacêuticas da Ufal progressão para a classe E da carreira, Aline finaliza dizendo:
“Entendo que esta representatividade é importante no contexto da igualdade de gênero tanto no meio acadêmico como na sociedade em geral. A universidade pública deve ser exemplo de luta pela igualdade entre todas as pessoas, especialmente, considerando os aspectos políticos do Brasil nos últimos dez anos. As desigualdades existentes na educação, especialmente para as mulheres, têm base em diferentes fatores históricos, sociais e econômicos, que precisam ser enfrentados. É importante entender o significado de ocuparmos certos espaços e a nossa responsabilidade em oportunizar o acesso a esses lugares a todas as pessoas, considerando os obstáculos estruturais inter-relacionados”.
Fizeram parte da Comissão Especial de Avaliação, as professoras doutoras: Magna Suzana Alexandre Moreira (presidente), da Ufal; Bárbara Viviana de Oliveira Santos, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG); Flaviana Santos Wanderley e Sandra Adriana Zimpel, da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal).